Beatles

What did you expect from the Vaccines? | Vaccines

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Bom dia, muito prazer, meu nome é Tiago e levo uma vidinha comum.

Acordo às seis e meia, quando o sol ainda é um borrão alaranjado encoberto por nuvens. Quase me engasgo com as colheradas de cereal (estou com sono), faço a mochila, depois enfrento os religiosos 40 minutos de esteira ergométrica. Mais tarde vocês me encontram no trabalho e, ainda mais tarde, estou de volta ao meu apartamento pequeno. Faço uma coisa ou outra, aí durmo.

Na prática, é o que acontece.

Não há eventos extraordinários, heroicos, na minha rotina. Mesmo quando — entre a esteira ergométrica e as noites no meu apartamento pequeno — calho de entrevistar alguém importante ou apurar uma reportagem que me enche de orgulho, sei que não existe nada especial nisso. É o meu trabalho. É o que eu faço. No fim do dia, sou apenas um sujeito tão perdido e inseguro quanto você e seus amigos.

Outro dia, já há muito tempo, eu estava na fila do cinema conversando com um amigo meu quando uma mulher ouviu meu nome e perguntou: “Você é o Tiago? O Tiago que escreve no jornal?”

Eu, sempre muito tímido, respondi que sim, mas fiz um sorriso desconfortável, de menino quando é pego fazendo besteira. Ela foi muito espontânea: não escondeu, nem por um segundo, a decepção que sentiu com aquele encontro. “Eu jurava que você era mais alto, mais velho, óculos e barba, mais…”

E ficamos em silêncio.

Se eu não fosse um bicho-do-mato, teria achado graça naquele descompasso inevitável entre as expectativas da leitora e a realidade. Fiquei, na verdade, um pouco constrangido com a situação. Mas outras situações parecidas ocorreram em outros momentos. Não adianta, nunca adianta: sempre insistimos em criar expectativas que nunca serão correspondidas.

Lembrei do caso assim que bati o olho no título desta estreia do Vaccines. O disco poderia ser horrível, equivocado do início ao fim; mas o título continuaria soando, para mim, brilhante. “O que você esperava dos Vaccines?”, eis a questão.

É a pergunta que todos os discos (e livros, e filmes, e as pessoas) fazem silenciosamente quando os encontramos pela primeira vez: o que você esperava de mim?

Sem querer alargar demais a discussão, fico na música pop. Diante de um disco novo, antes de conhecê-lo, criamos expectativas às vezes muito altas, às vezes baixas. Às vezes ficamos indiferentes: pagamos para ver. Quando finalmente o ouvimos, o que se dá é um confronto entre as nossas expectativas e a matéria (as canções e a tessitura que as une).

Avaliamos os discos de acordo, em grande parte, com a forma como eles respondem às nossas expectativas. O quarto disco dos Strokes será avaliado com mais rigor do que, digamos, o primeiro disco do Yuck. Esperamos muito, talvez exageradamente, dos Strokes. Não esperamos nada do Yuck. (E isso tudo é muito óbvio, eu sei, mas precisa ser dito)

O Vaccines é um caso intermediário. Uma banda muito nova (formada em junho do ano passado) que foi adotada pela imprensa britânica como a salvação do rock. Alguém comparou aos Beatles. Alguém certamente comparou aos Strokes.

Ninguém precisa comprar esse tipo de invencionice da mídia (e o rock não precisa ser salvo, mas ameaçado; é do risco que nasce o conflito, o desconforto que nos interessa). Mas o Vaccines entende que esse marketing faz parte do jogo e responde com um disco que pergunta: o que você esperava da “maior banda da temporada”?

O título lembra outro, que acaba se enquadrando na mesma situação: Whatever people say I am, that’s what I’m not, do Arctic Monkeys. São dois títulos que resumem os desafios de duas bandas inglesas iniciantes — conscientes do fato de que, no hiperbólico pop inglês, as expectativas são sempre incompatíveis com a realidade.

Então, lá vamos nós: eu, particularmente, não esperava nada dos Vaccines. Da mesma forma como não esperava nada do Arctic Monkeys. Li um ou outro elogio exagerado ao quarteto, mas fiz que não era comigo. Desde a guerra encenada entre Oasis e Blur, lá nos anos 90, não dou muita trela ao oba-oba da imprensa inglesa. Quando se vende publicações semanais de música, é preciso assunto para preencher as páginas. Ouvi o disco, portanto, com expectativas quase nulas.

Mas entendo a decepção de quem buscou na banda um novo Strokes, um novo Libertines ou um novo Arctic Monkeys ou (deve ser o caso mais comum) uns novos heróis do Reino Unido. O Vaccines é um pouco disso tudo, mas não é nada disso. É, se descontarmos toda a aura que se criou para eles, uma banda iniciante, que gravou bons singles e agora os reúne num disco. O que você esperava deles?

As comparações com o Strokes procedem sim, é claro: a banda de Nova York está entre os ídolos do Vaccines (e a influência está óbvia em faixas como Post break-up sex) e este primeiro disco remete à estrutura de Is this it. São coleções compactas de singles. Até aí, no entanto, não vejo nada anormal. Que banda iniciante não exibe amor exagerado aos ídolos? Quantas bandas iniciantes não estreiam também na pressa, reunindo os singles para não perder o bonde do marketing?

Outra semelhança com Is this it é que este disco do Vaccines também apresenta uma banda muito jovem, imatura, ansiosa, apressadíssima (tudo no bom sentido, ok?), que soa como se estivesse atrasada para pegar o trem que vai partir em cinco minutos. Essa aflição transparece nas faixas, que soam muitíssimo mais vívidas, entusiasmadas, alegres que as novas do Strokes.

O disco flagra o nascimento de uma banda. Coisa boa de se ouvir. De imediato, dá para notar o gosto por versos mundanos porém nada triviais (rimar F. Scott Fitzgerald com Morning Herald, e dentro de uma faixa que soa como homenagem ao Ramones, é o tipo de bobagem inteligente que deixaria o Vampire Weekend feliz) e um interesse mais por simplicidade que por rebuscamento. É um disco que sabe muito claramente aquilo que quer para si — apesar dos objetivos limitados, da falta de ousadia, de um certo comodismo nas referências.

É um álbum, no entanto, que cumpre a intenção de descer como um “disco de verão”: os singles fortíssimos (Post break-up sex, Blow it up e If you wanna) são arejados por acenos ao pop sessentista (Wetsuit), guitarradas primárias, toscas, e a sensação de que estamos soltos numa colônia de férias patrocinada por tios punks. Na faixa de encerramento, o inverno chega; tudo o que resta é encostar a cabeça no ombro, à la Brian Wilson.

Os personagens das canções, aliás, não fazem grandes coisas. São tipos quase  anônimos às voltas com as aventuras mais típicas. Anti-popstars. “O que você esperava de sexo pós-separação?”, eles ironizam, numa das faixas. Nada de glamour, portanto.

Não vai alterar o eixo do planeta, certo? Mas diga aí: o que você esperava deles? A resposta à pergunta vai definir a forma como você encara este disco. Que, para mim, soa como o diário de quatro sujeitos comuns, talvez nada especiais, se divertindo com o que tem para hoje.

Primeiro disco do Vaccines. 11 faixas, com produção de Dan Grech. Lançamento Columbia Records. 7/10

Os discos da minha vida (29)

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A saga dos discos que incineraram a minha vida chega a um episódio muito-muito caloroso: dois clássicos da minha discoteca particular. Bolachinhas sagradas que ouço com cuidado, até para não evocar as santas melodias em vão.

God bless ‘em.

Antes que você novamente se confunda todo, deixe-me explicar as regras deste ranking fervente: são 100 álbuns, organizados numa ordem mui subjetiva que diz respeito apenas a este que vos escreve.

Se você perguntar “Tiago, qual é o critério desta bagunça?”, eu vou gaguejar, olhar para o teto e correr soluçando pro banheiro. Foi mal, gente, são normas sentimentais e sentimento a gente não explica, a gente sente, a gente experimenta, a gente vibra, etc.

Entenda o seguinte: são os discos que, de certa forma, fizeram de mim um homem mais plano. Uma pessoa mais humana, mais vertebrada, mais gente. Manja? Então. E desculpe se pareço meio meloso hoje – é que acabei de sair de um desses fins de semana que amaciam nosso coração, um desses fins de semana que convertem assassinos mancos (não era meu caso, tou usando exemplo!) em missionários pacíficos, em ativistas ecológicos.

Não me culpem. Está tudo bem. Tudo azul. E não pensem em abandonar o blog por conta disso. Vai ficar bom. Vai ficar melhor. Vai ter bolo!

Antes que eu me afogue de vez no meu idílio (e taí uma das 1001 coisas que você precisa fazer antes de morrer: se apaixonar), continuamos com a longa caminhada rumo ao meu disco-xodó-number-one, que vai aparecer aqui sabe-se lá quando (talvez no dia de São Nunca, há!). E, se você não conhece estes dois discos aqui, o download é obrigatório, sem desculpa. Certinho? Então tá (e me despeço usando minhas mãos pra fazer o sinal da pomba da paz, té mais).

044 | Stankonia | Outkast | 2000 | download

Ouvi tantos discos de hip-hop que não há como fazer a soma, e (em algum momento eu teria que admitir isso, que seja agora) fui sim um daqueles adolescentes cagalhões que invejam os negões do rap por motivos que nem eles – os adolescentes cagalhões – conseguem explicar. Mas eu poderia resumir todos os meus discos preferidos do gênero neste aqui, Stankonia. Tudo o que admiro no hip-hop (e no Outkast) está contido nestas 24 faixas: fúria & franqueza, poesia & putaria, invenção & curtição, graça & troça. Os discos de Big Boi e Andre 3000 são incontroláveis e excessivos por natureza (e é disso que gostamos), mas este aqui faz do caos uma espécie de parque temático, um saboroso bufê de mil opções. Um disco que deseja loucamente nos atiçar com sons e ideias que talvez não tenhamos ouvido em outro lugar – e faz de tudo para cumprir um objetivo que, honestamente, me parece um dos mais dignos quando se fala em música pop. Top 3Ms Jackson, So fresh so clean, B.O.B.

043 | Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band | The Beatles | 1967 | download

Quando eu era um moleque e precisava de orientação para não me preder na Beatlecity, meu pai sempre foi o meu pastor. E ele dizia o seguinte: “Sgt. Pepper’s soa como o melhor disco do mundo, todos estão certos. Mas não ouça muito. Que enjoa.” Daí que talvez eu tenha ficado com medo dos riscos de me apegar demais ao álbum.  No catálogo do fab four, é o que menos ouvi – mas cada audição, talvez como uma recompensa pela parcimônia, provoca em mim o efeito brutal de um descobrimento. A mais recente, quando comprei a versão remasterizada do CD, me deixou às lágrimas, percebendo detalhes que eu não havia reparado antes. Nem sei se eu deveria incluir este disco no ranking porque não faço ideia se já o entendo. E não há exagero nisso: todos os outros discos dos Beatles me parecem tangíveis. Este aqui soa perfeito, por isso intocável, por isso misterioso. Não sei se enjoa (talvez sim: é um álbum preciso, mas composto por canções barrocas, exuberantes, que talvez cansem quando não se está no espírito para guloseimas de mil folhas), mas continuo seguindo a recomendação do meu pai. Ouço sim. De vez em quando. Top 3: A day in the life, She’s leaving home, Good morning good morning.

Paul McCartney, 21 de novembro, São Paulo

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Tentei telefonar para meu pai. Ninguém atendeu. Tentei novamente e nada. Talvez o homem estivesse na casa da minha avó, foi o que pensei. Liguei para minha avó. E nada. “Saiu, não disse pra onde”. Pedi a bênção. “Não vejo a senhora há quanto tempo? Quanto tempo mesmo? Dois anos? Três?”

Eu, o neto melancólico. Ela, a avó invisível. O tom de voz era aquele que eu conhecia desde pequeno. Sereno. Se o tom de voz estava ok, então minha avó seguia ok. Irradiando otimismo e bondade para todo o sempre, amém.

Antes de desligar o telefone, perguntei sobre meus primos. Tudo bem? Tudo bem. Então tudo bem. Então ok. Ligue mais. Vou ligar, vou sim.

Voltei ao início da aventura. Telefonar para meu pai: uma aventura. Mais três tentativas. Três e, sem resposta, finalmente desisti de procurar meu velho. Só por hoje. Volto a telefonar amanhã (era esse o plano). Depois do almoço, no período da tarde (é esse o plano).

É como as coisas funcionam: posso falar com meu pai quando bem entendo. Para isso, preciso clicar um botão no meu telefone que dispara um número memorizado na minha agenda. Meu pai pode ligar para mim quando bem entende. Para isso, precisa discar o DDD, o número do meu telefone e pagar uns trocados a mais. Um processo simples, banal, mas raramente conversamos.

E raramente conversamos porque não temos o que conversar. Estamos cada vez mais separados um do outro. Fisicamente, psicologicamente; de todas as formas. Uma relação que se tornou impossível. Talvez por culpa dele (mas não o culpo; eu o amo). Talvez por minha culpa (ainda que eu não identifique culpados no nosso drama). Talvez porque as nossas histórias de vida tenham apontado para direções inevitáveis, que nem sempre nos matam de orgulho.

O que sobra do meu pai é um reflexo, vestígios, filetes de memórias, uns cacos miúdos. Nada muito sólido. Lembro das feições do rosto (e lembro quando olho o espelho; sou uma cópia fiel). Lembro do jeito como ele anda (como um gorila de desenho animado, e também ando um pouco assim). Lembro do sorriso, das desculpas preguiçosas que ele usa para não resolver os problemas, do raciocínio manso; acredito que, mesmo sem ter vivido com ele, herdei tudo isso.

Mas encontro meu pai, principalmente, quando volto às canções que ele me ensinou a ouvir.

E todas elas, todas essas músicas e lugares e memórias (minha infância, minha família, meu passado, o que lembro e deixo de lembrar), estão armazenadas em discos dos Beatles.

A música, você sabe, sequestra nossos sentimentos e os arquiva para sempre. Um acorde pode disparar lembranças longínquas, impressões confusas, cenas traumáticas, acidentes e desilusões, o medo e os amores, o cheiro da adolescência. O tempo passa, mas o passado permanece congelado dentro das músicas que (talvez contra nossa vontade) mapearam a nossa vida.

Por isso, a associação é imediata: ouço Beatles e vejo meu pai. As canções remontam cenas muito específicas, criam uma narrativa. Meu pai na sala gravando Rubber soul em fita cassete para que eu ouvisse no meu quarto. Meu pai ensinando as diferenças entre Revolver e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Meu pai recomendando para que eu ouvisse Abbey Road “mais tarde, não é um disco simples”. E que o Álbum Branco era para adultos (o que só fez disparar minha curiosidade em relação a ele, o meu favorito da banda).

Meu pai defendia o Paul McCartney e, talvez como uma reação instintiva, me tornei um grande entusiasta das loucuras de Lennon. Para meu pai, o segredo do universo está codificado na melodia de Yesterday. Sempre fui do time de Dear Prudence.

O importante é que, por muito tempo, os Beatles eram o único ponto de contato entre as minhas experiências e as do meu pai. Nossa passarela. Sem os Beatles, eu não admiraria o sujeito da forma como o admiro. Ele seria apenas um pai ausente. Talvez ele se diluiria por completo da minha vida.

Era por tudo isso, por todos esses significados contidos nessas músicas, que hoje eu queria tanto, tão desesperadamente, falar com meu pai. Conversar com ele. Abriria a conversa com um bombástico “ei, pai, vi o Paul” – só para ouvir a reação do homem. Susto? Indiferença? Uma risada? Nada?

Além de espetáculo extraordinário (um dos mais tocantes que vi na vida), um show de Paul McCartney desperta todo tipo de impressão e lembrança num público que une jovens e adultos, crianças e avós. As canções pop, essas cápsulas de sensações, se adaptam ao temperamento de quem as ouve. No caso dos Beatles, que escreveram algumas das mais queridas do século 20, esse efeito de catarse ganha o poder de um fenômeno natural incontrolável. São as músicas que nós escolhemos (ou que nos escolheram) para encapsular as nossas memórias, trechos das nossas vidas.

Durante o show, me peguei tentando adivinhar o que All my loving representava para a menina de 13 anos que acompanhava os movimentos do ídolo com uma câmera digital. Qual era o sentido que ela impregnou àquela canção? Depois, notei um quarentão tirando os óculos para secar lágrimas que caíam durante Something. Qual teria sido o poder daquela canção naquela pessoa? Não sei. Possibilidades infinitas.

No meu caso, me surpreendi com canções que me emocionaram. No início do concerto, admito que não consegui criar o elo entre o homem de 68 anos que entrou no palco e aquele rapaz corretinho de Liverpool que, nos anos 60, interpretou as músicas que me aproximaram do meu pai. Algo parecia errado. Algo parecia solto no tempo, desprendido do espaço, como se aquele homem não tivesse o direito de reavivar uma canção como All my loving, que deveria existir apenas nos nossos discos, nos nossos cérebros, nas nossas fitinhas antigas e gastas.

Aconteceu que, pouco depois, o show começou a fazer sentido com tanta velocidade que me engasguei, perdi o ar. Foi durante Drive my car, uma canção não tão pungente quanto Yesterday ou Something ou Hey Jude, mas que, para mim, soou fatal. Soou como um estrondo. Quando as 64 mil pessoas começaram a cantar em coro, aconteceu o milagre: eu estava novamente na casa do meu pai, conversando com ele, ouvindo Rubber soul numa tarde de sábado. Senti até a temperatura da sala. Senti a paisagem fora da sala.

O segundo golpe veio com Blackbird. Paul vai ao centro do palco, a banda se recolhe e sozinho, ele é acompanhado apenas pelo dedilhado de violão. O público reconhece a música e grita, quer chutar a porta da canção. Mas é a voz de Paul que flutua sobre o coro. A confusão está feita: quem canta a música? O Paul de hoje ou de ontem? O que aconteceu com o tempo? Por que aquela canção que ouvimos tantas vezes voltou a nos tocar? Antes que eu tentasse responder qualquer uma dessas perguntas, chorei mais uma vez.

Chorei sem saber por que eu chorava. Depois tentei entender. Mas tai algo que, horas depois do show, ainda me parece um tanto misterioso.

Depois de A day in the life, imaginei como seria se meu pai estivesse comigo naquele show. Possivelmente ele esconderia o choro. Tai: nunca vi esse cena, meu pai chorando. Nem aos 30 anos, nem aos 40, nem aos 50. Desconfio: não conheço meu pai. Dele tenho apenas uma imagem superficial. O rosto duplicado no meu rosto, projetado numa canção de Lennon e McCartney.

O show de Paul é simples o suficiente para permitir que entremos nele. Não nos afasta; nos abraça. Não é maior do que as nossas memórias – está à mesma altura delas, ele as envolve. O único momento de pirotecnia (em Live and let die) soa mais como um exorcismo (nossa catarse explodindo em fotos de artifício) do que mera demonstração de poder e dinheiro. Estamos em outro mundo. Não somos ingênuos, entendemos a máquina milionária que opera um show cujo repertório se repete, até de forma previsível, noite após noite. Mas aceitamos o jogo, precisamos do jogo, o jogo nos alimenta: Paul nos conduz a esse túnel largo onde confrontamos nossa própria história e o passado da música pop.

Yesterday, portanto, é a chave do show (e talvez da carreira de Paul).

E, depois da música, lá no segundo bis, o espetáculo passa a parecer até didático. Paul revê a própria trajetória, dos anos 60 aos 2000, para comprovar a eternidade das canções que escreveu. Elas sobreviveram. Mais do que isso: elas se renovam. Elas estão no ar. Elas venceram. Elas estão acima da nossa capacidade de compreender o efeito que elas provocam em nossos corpos, na cabeça, no peito, nos nossos ossos.

Duas horas depois do show eu ainda não sabia por que havia chorado em Blackbird. Descobri hoje pela manhã, quando o avião aterrissou em Brasília e encontrei uma cidade coberta por neblina. Lembrei de um dia em que eu viajei com meu pai para uma cidade muito fria (não lembro o nome, infelizmente) e Blackbird era a música que eu ouvia insistentemente no Walkman. Um período complicado: o velho não parecia confortável dentro de um segundo casamento, havia perdido o controle de uma rotina que não o entusiasmava. Era terrível de ver. Num dia, muito cedo, pediu o Walkman e começou a ouvir a fita. Ele estava recolhido na varanda, mas espiei a cena. Meu pai assobiando a música, com o olhar perdido, triste, pássaro sem penas.

Ali (eu tinha uns 14 anos) percebi que aquele homem nunca não me defenderia de nada. Era uma pobre alma. Um fraco. E um exemplo que acabei seguindo, mesmo à distância. Quando Paul interpretou Blackbird, talvez eu tenha sentido um tanto daquele desespero que meu pai sentiu. Hoje, aos 31 anos, já desencantado e cansado, eu o entendo.

Acredito que foi por isso, por causa de Blackbird e Drive my car, que tentei telefonar para ele logo que cheguei em casa. Para falar do show, talvez só por isso. Não: para pedir ajuda. Um conselho, uma informação útil, uma dica. E agora, pai, pra onde eu vou?

Sei, sei bem, que ele responderia com uma frase vaga, inútil, ficaríamos em silêncio. Um, dois, dez minutos. E nosso único elo voltaria a se esconder em canções que, quando amplificada pelas caixas potentes de um megaconcerto de rock, ainda me fazem chorar.

The ArchAndroid | Janelle Monáe

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Lembro do dia em que meu pai me apresentou a um disco dos Beatles. Era Rubber soul.

Já na metade do lado B — em Wait ou If I needed someone —, ele deslizou a agulha do vinil, interrompeu zunido da vitrola e ficamos ali, nós dois, em silêncio. Um menino de oito anos e um homenzarrão de trinta. Ele queria fazer uma pergunta séria, mas meu pai é (e sempre foi) uma pessoa que hesita antes de tomar qualquer atitude. Ele hesita. E é o que ele faz.

“Você percebe alguma coisa diferente neste disco?”, meu pai perguntou (e, já naquela época, eu sabia quando ele estava se esforçando para soar adulto. Era um desses momentos).

E eu, ainda transtornado pela experiência (e um pouco entediado: oito anos!), pensei em duas respostas idiotas. Logo em seguida, desisti de ficar tentando.

“Não percebo, pai. Quer dizer, percebo alguma coisa diferente. Mas não entendo”, e ainda cogitei acrescentar um “sou apenas um menininho babaca de oito anos, não me ensinaram o bê-a-bá da música pop, passo as tardes jogando Atari e lendo Pato Donald”, mas seria um golpe baixo. Meu pai queria queria me tratar de igual para igual e eu estava tentando me adequar à encenação. Próximos capítulos: trocaríamos ofensas sobre o jogo de futebol e conversa fiada sobre as coxas da empregada.

“Repare bem, filhão: este disco tem tudo o que você precisa saber sobre música. Tudo. Tudinho dentro de um disco. A primeira música é diferente da segunda, que é diferente da terceira. Uma coisa incrível! E aí você se pergunta: mas como essa banda conseguiu incluir to-das as invenções mais loucas do mundo dentro de um só disco? Foi o que aconteceu, Tiago: eles inventaram tudo, e fizeram tudo. Não é maravilhoso?”

(Meu pai, é claro, ainda não faz ideia de quem foi Frank Zappa).

Com o passar do tempo, me senti obrigado a concordar com aquele raciocínio meio inacabado, cheio de arestas: os Beatles são os Beatles e, de fato, eles inventaram um bocado de coisas.

Mas o que me intrigou (e acredito que meu pai foi o primeiro a atiçar essa enorme angústia) foi notar que, na média, a música pop se comportava exatamente como um contraponto àquele disco extraordinário que ouvi aos oito anos: em vez de surpresas e reinvenções, a maior parte dos álbuns que eu ouvia soava previsível, limitada, tão medrosa e hesitante quanto o meu pai.

Se os Beatles são o Grande Exemplo de uma banda bem-sucedida, por que as bandas não pareciam entender que, entre uma e outra faixa de um disco como Rubber soul, mora a filosofia da aventura, do risco, da ousadia, de rejeitar o conforto e tentar tudo (às vezes, tudo ao mesmo tempo)? Por que elas, as bandas, pareciam subestimar as possibilidades do pop?

O que deu errado?

Sem querer forçar comparações absurdas (mas já forçando!), o primeiro disco de Janelle Monáe soa como se tivesse sido criado por uma menininha que, sem contato com os produtos mais mecânicos do pop, ouviu um disco dos Beatles (ou do Frank Zappa, ou do Love, ou uma ópera-rock do The Who) e decidiu escrever algumas canções. Nos 68 minutos de duração, a palavra que quica é liberdade.

E é assustador perceber que, em 2010 (o ano em que faríamos contato!), esse disco aventureiro acaba soando como um filho único. Um caso excêntrico. Uma anomalia.

Os críticos se espantam com a variedade de gêneros musicais e comparam o álbum a outros “patinhos feios”, tão raros se transformaram em referências de “creative writing”: The love below, do Outkast, Sign o’ the times, do Prince, Odelay, do Beck (eu incluiria nessa lista Hello nasty, do Beastie Boys, ainda que o disquinho tenha sido penalizado pelo tempo). O que deveria ser norma — faça o que você quiser, como John ensinou! — passa como exceção. Infelizmente.

Mas The ArchAndroid está aí para nos lembrar que o pop é um país mais vasto do que a sala de estar do Timbaland (ou o umbigo de Kanye West).

A narrativa nos engana a cada dobra de página. Começa com arranjos de orquestra à High Llamas (uma cama de melodias sessentistas pós-Smile) e vai se adequando a alguns padrões do hip-hop mais radiofônico (Dance or die é um hit até bem genérico), entrando e saindo dos trilhos de um típico álbum de musa-soul-que-curte-indie-rock.

O alcance é tão largo (de rhythm and blues a folk britânico, Janelle vai experimentando uma dezena de nichos e combinações improváveis) que ele às vezes soa como um “book fotográfico” muito pomposo, uma maratona sem fim. Nas primeiras audições, fiquei um pouco desconfiado: o excesso de referências não seria uma forma de desviar nossa atenção para o fato de que as canções não são exatamente extraordinárias?

Sim e não. Honestamente: faixas como Locked inside (num clima tropical, alegrinho) e Wondaland (mais doce que um pote de pasta de amendoim) soariam quase gratuitas num disco da Santigold ou até da Madonna. Mas a graça está na forma como Janelle vai organizando e desorganizando essas faixas, num fluxo louco de informações que acaba por nos desorientar.

É simplesmente incompreensível, por exemplo, a inclusão de uma faixa como Make the bus, que é uma música do Of Montreal, interpretada pelo Of Montreal e que poderia estar em qualquer disco do Of Montreal. Divertida, mas o que ela faz num álbum conceitual inspirado em ideias do afrofuturismo que narra a saga de um androide messiânico?

(O lançamento recente que mais se aproxima deste, em aflição e atitude, é Hidden, do These New Puritans. Acredite)

E o desfecho do disco, que vai se desintegrando nas sombras de um filme noir? Não combina coisa nenhuma com um batidão como Cold war (puro Gnarls Barkley) ou com o romantismo cool de Say you’ll go. São três, quatro, cinco álbuns sacados das paradas de sucessos e convertidos num único Frankenstein.

Entendo por que Janelle vive repetindo a palavra ‘schizo’. Esquizofrenia pop é o rótulo mais adequado.

Depois da quinta audição, e recomendo que você continue tentando!, o álbum me parece muito mais coeso do que eu imaginava. As peças se encaixam graciosamente e o que se destaca é uma voz curiosa, mutante. Um olhar. Se este disco deve ser encarado como um cartão de visitas, ele diz o seguinte: não vou chegar a lugar algum e esta é a graça.

Meu pai entenderia. Eu ainda estou me sentindo como um menininho de oito anos.

Primeiro disco de Janelle Monáe. 18 faixas, produzidas por Roman GianArthur, Chuck Lightning, Janelle Monáe, Nate “Rocket” Wonder e Kevin Barnes. Bad Boy Records. 8.5/10

Humbug | Arctic Monkeys

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s2330379Choque de gerações. Aprendi o significado da expressão quando comecei a trabalhar ao lado de um jornalista pra lá dos 60 anos (ele não revela a idade, mas fiz as contas) que foi convidado para a cerimônia de batismo da Tropicália e muito possivelmente entrevistou Renato Russo quando o vocalista da Legião Urbana ainda comia papinha de maçã e usava fraldas descartáveis. Um repórter admirável, aliás.

Há uns três meses, dividimos a mesma estação de trabalho (a forma elegante como chamamos a bancada fina e acinzentada que ampara os computadores e toda a nossa tralha). Honestamente: não é a convivência mais tranquila que o Ocidente conheceu, mas nos esforçamos para manter um clima de compreensão mútua e solidariedade, na medida do possível. Ele tem manias que me incomodam – exige, por exemplo, que meus fones de ouvido sejam mantidos a pelo menos 50 centímetros do teclado que ele usa. Eu não posso reclamar: tenho tiques que não sei exatamente o quão irritantes soam.

O que nos une, de certa forma, é o amor obsessivo pela música. Ainda assim, mesmo quando é esse o tema em pauta, o diálogo trava. É impossível. Ele se esforça para entender as novidades que aparecem e desaparecem a cada 15 dias. Eu sou curioso, quero conhecer o passado e tenho uma tendência a colocar as experiências dos outros em perspectiva histórica. Sou tolerante, compreensivo, um bom filho e um amigo fiel. Sou quase um labrador. Mas, volta e meia, perco o ânimo quando ele deixa escapar uma daquelas perguntas que, para um repórter de música que nasceu ainda na primeira metade do século 20, são incontornáveis.

– Não consigo entender. Este mundo, as coisas,  música, tudo… Tudo anda tão… Veloz.

Eu sempre argumento com alguma reflexão zen do tipo:

– Tente encarar as coisas de uma forma mais desarmada. Elas são como são. É melhor entendê-las antes de tomar partido. Depois de entender o que acontece, aí sim.

– É, mas eu sei é que não gosto, não gosto mesmo disso, das coisas como elas estão.

E ponto. Não vejo como avançar na conversa.

Hoje o assunto voltou à baila. Eu estava escrevendo uma longa matéria sobre discos que foram lançados em 1969 e viraram clássicos. Ele aproveitou a deixa para voltar à tese de que, na música pop, nada, nada será comparável ao passado – que é belo, reluz e continua vivo, apesar de tudo.

– Fico até pensando: será que acabou?

Me esforço para mostrar que estamos numa época diferente, tão nova e estranha que às vezes, por uma questão de segurança, obriga que a tratemos de uma forma despreocupada. 1969 acabou. O sonho acabou, etc. E que há novos parâmetros em jogo. A velocidade como as novidades hoje se desdobram é um desses fatores. Tentei teorizar sobre o papel das gravadoras, que desabam aos poucos. E, finalmente, procurei sugerir que, num cenário de fragmentação total, a própria ideia de longevidade parou de fazer tanto sentido. O que importa, verdadeiramente, se uma banda de rock vai durar 30 anos e gravar 15 discos?

– Eu até entendo, Tiago, mas sou de uma época em que as boas bandas de rock eram as que duravam. Beatles e Rolling Stones ainda são Beatles e Rolling Stones. E fico com elas.

Acredito que foi aí, exatamente nesse ponto da conversa, que puxei da cartola o novo disco do Arctic Monkeys. Era um bom exemplo a ser usado, já que o repórter havia visto um show da banda (como eu disse, ele se interessa pelas novidades mais comentadas, e admiro essa disposição).

– O terceiro disco do Arctic Monkeys ainda não chegou às lojas. Na verdade, esse fato é irrelevante. Ele está na internet e por isso as pessoas já ouviram, comentaram, avaliaram. Gostaram ou odiaram, tanto faz. Acontece que esse evento, o lançamento do terceiro disco do Arctic Monkeys, já aconteceu. Já passou. Estamos prontos para o quarto disco do Arctic Monkeys, ainda que isso não nos preocupe tanto assim. Você entende a lógica da coisa?

– Entendo. Mas não tem graça.

Voltei para casa pensando nisso, nessa última frase do diálogo. Qual é a graça? Explicar um procedimento que me parece tão simples (baixar música, ouvir, opinar e seguir adiante baixando, ouvindo e opinando) virou uma tarefa complicadíssima. Sou dos que acreditam que a cultura pop vive um momento de transição, ainda dividida entre hábitos antigos e novíssimos. Todas as bandas de rock, por exemplo, entendem que a velocidade hoje se impõe – que não há mais tempo para que passemos seis meses diante de um disco novo, analisando cada acorde e formando opinião. Mas, simultaneamente, grande parte dessas bandas continua gravando álbuns à moda antiga – peças de arte concebidas para serem “lidas” como uma história com começo, meio e fim.

É aí que o Arctic Monkeys me parece um exemplo bastante interessante – mais até do que eu imaginava. Uma banda muito nova, de garotos que mal entraram na idade adulta. E um quarteto que é um símbolo forte desta época por alternar velhas e novas estratégias de criação e marketing. Trata-se de uma novíssima velha banda de rock (e há muitas outras; na verdade, essa ainda é a regra). Eles sabem lidar com a velocidade do tempo em que vivem (até de uma forma instintiva, já que cresceram metidos nesse turbilhão) e criam álbuns com uma lógica que vem dos anos 60 ou 70 – e que, por isso, fisgará o “antiquado” fã de rock.

Muitas das bandas da geração do Arctic Monkeys gravam álbuns que soam como compilações de singles. E não podemos acusá-las de nada, já que o mercado hoje pede que o negócio seja organizado dessa forma. O disco mais recente do Franz Ferdinand é um caso típico: um conceito rarefeito pontuado por duas ou três canções fortes. Talvez esse seja o futuro do pop (ainda não dá para saber), e talvez isso tudo nos deixe frustrados (nós, no meio do caminho entre os velhos e os novos hábitos, órfãos de tudo). Mas o Arctic Monkeys não se abala: e daí este Humbug, um álbum tão redondinho, tão íntegro e tão, de certa forma, ultrapassado.

E digo isso sem juízo de valor: ainda não cheguei aos 60, mas, nesse ponto, me sinto velho. Amo os álbuns à antiga. Eles me dão prazer. Ele fazem com que eu me lembre dos meus discos favoritos, dos vinis que formaram a minha personalidade, das “obras de arte” que eu tentaria criar se eu soubesse tocar guitarra decentemente. Sou um oldie.

Com toda segurança, afirmo que o Arctic Monkeys teria se saído muito bem no início dos anos 90. Ou no início dos 80. Ou em meados dos 70. Final de 60? A concorrência seria dura, mas eles dariam um jeito. Os ingleses insistem em colocá-los no trono do século 21, mas ainda não consigo encontrar o século 21 dentro do Arctic Monkeys. Quatro garotos que gravam álbuns tão corretos, tão econômicos e agradáveis… O que eles dizem sobre o mundo em que vivemos? Não ouço nada. As bandas-símbolo do século 21 teriam que soar, ao menos, esquizofrênicas, paranoicas, desnorteadas, cegas no tiroteio, incertas, quebradiças. Não são tempos confortáveis, vocês sabem.

Então esqueça: não compro o hype. Nunca comprei. Ainda assim, não me envergonho de encarar esta bandinha adorável da forma como ela sempre se apresentou para mim: como uma bandinha adorável. Os singles são eficientes, o vocalista é um letrista às vezes formidável, eles têm boas referências (e soam mais como Smiths que como Oasis) e seguem uma cartilha confiável (Beatles, alô?) que manda as bandas pop evoluírem de disco a disco. Humbug é uma evolução e, por enquanto, o álbum deles de que mais gosto.

Para gravar o disco, os rapazes britânicos tentam captar o som do deserto norte-americano com o aconselhamento espiritual de Josh Homme, do Queens of the Stone Age (e agora, algumas horas depois de ter escrito este texto, concluo que esse trânsito suave e despreocupado por diferentes culturas, cenários e referências conta como um traço contemporâneo da banda). Aposto que eles gravaram tudo num estúdio nada charmoso, mas me encanta a ideia de um Deserto Norte-Americano engolindo as sessões de gravação. As canções batem assim: rodeadas de fantasmas, chapadas de sedativo, com ecos e ruídos que só não soam exatamente sombrios porque esta não é uma banda sombria (eles soam como sempre soaram: estão se divertindo a valer, a vida é boa e o rock não vai morrer).

Em síntese: exatamente o que eu esperaria de um disco do Arctic Monkeys produzido pelo Josh Homme. Os versos, doidos de dar dó, cheiram a mescalina. As duas primeiras faixas, aliás, me deixam com um sorriso de orelha a orelha. Crying lightning é um belíssimo single, que vai crescendo até explodir em guitarras repetitivas e enfezadas, que deve agradar principalmente a quem adora Queens of the Stone Age (e rock britânico psicodélico do fim dos anos 60, lembram do segundo volume do box Nuggets?). Seria um hit estrondoso em 1998. Outras faixas são um pouco menos luminosas, mas o álbum só tem 10 delas, passa rápido e, logo ali, repare na balada que confirma Alex Turner como o novo Morrissey, doa a quem doer (Cornerstone, linda toda vida).

É um bom disco que será tratado, pelo menos por algumas semanas, como o melhor dos mundos. Talvez essa seja a grande diferença, se compararmos o nosso tempo com 1969 ou 1979 ou 1989 ou 1999. Antes, engolíamos uma massa industrial de incríveis novidades até o fundo da garganta, por longos períodos (passei um ano inteiro decifrando Be here now!). Hoje, podemos digerir rapidamente o hype, cair de cansaço e experimentar outras extraordinárias novidades, e daí em diante, até descobrir algo que nos acerte na barriga e nos deixe zonzos. Algo forte. Algo que, para nós, soará verdadeiramente fascinante (nem que, vá lá, por algumas semanas).

Somos uns sortudos, não? Estou começando a acreditar.

Terceiro disco do Arctic Monkeys. 10 faixas, com produção de Josh Homme e James Ford. Lançamento Domino Records, Warner Bros e EMI. 7/10

A day in the life | Neil Young e Paul McCartney

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Caramba, emocionante isso.

No Hyde Park,em Londres, sábado à noite, Paul McCartney praticamente invadiu o show do Neil Young para dividir o microfone numa obra-prima dos Beatles.

Agora repare na letra. Não sei se eles calcularam uma homenagem ao Michael Jackson, mas está tudo ali. “I read the news today, oh boy…”

Pelo visto, eles levaram ao pé da letra o conselho do Jacko: “heal the world, make it a better place”… E agora deixem-me voltar ao trabalho, ok?