Air
mixtape! | …sides of the moon
A mixtape de fevereiro chegou mais cedo porque, no fim das contas, não temos tempo a perder. Em resumo: esta coletânea soa um pouco mais aérea, mais cósmica que a anterior. Um cdzinho de space pop, se você preferir.
Mas não só isso. Se este balaio de fevereiro tem algo de flutuante, há momentos em que ele desce ao solo mui modestamente, e nos mostra paisagens terrenas. A minha intenção, desta vez, foi zanzar entre esses extremos sem romper a atmosfera que paira sobre todas as músicas. Não sei se consegui, mas gostei muito do resultado.
Sem mais invencionices (ou licenças poéticas), este mix contém, nesta ordem, faixas de Frankie Rose, Sleigh Bells, Imperial Teen, Hospitality (que ganhou foto lá no topo do post), Air, Yamantaka//Sonic Titan, Islands, Ezra Furman, Cardinal e Chairlift. A lista das músicas está, como de hábito, na caixa de comentários.
Espero que vocês se divirtam. Comentários serão muito bem recebidos. E, para quem quiser baixar o cdzim, recomendo pressa: os arquivos estão desaparecendo rapidamente.
Faça o download da mixtape de fevereiro.
Ou ouça aqui:
Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.
♪ | Le Voyage Dans La Lune | Air
Depois de três álbuns que tentavam reencenar a atmosfera de Moon Safari (o melhor deles, Talkie Walkie, até que tinha algum charme), só faltava ao Air retornar didaticamente também ao NOME daquele disco de estreia. Não falta mais: em Le Voyage Dans La Lune, eles ampliam a trilha sonora que compuseram para a versão restaurada do filme de Georges Méliès, de 1902, usando um formato que, para quem acompanha a dupla, já pode ser tomado como um tique: faixas instrumentais etéreas e “requintadas” de, afe, space-lounge intercaladas a dóceis chansons. Uma viagem não exatamente fantástica.
As boas lembranças daquela outra trilha sonora escrita por Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel tornam a aventura ainda mais frustrante. Em The Virgin Suicides, o Air criava um tema central forte e ia desenhando variações delicadas — e inesperadas, mas sempre sutilmente — em torno dele. As faixas remetiam ao ar róseo-cinzento do filme, ao mesmo tempo em que sugeriam novas imagens. Existia ali um jogo bem estimulante entre música e cinema, entre compositores e cineasta, que não consigo notar neste disco novo.
A soundtrack que prepararam para Méliès talvez faça sentido quando sobreposta às sequências do curta-metragem (que dura 16 minutos), mas, como obra independente, parece-me vaga, incompleta, com músicas que justificam a birra (injusta, é claro) de quem vê no Air uma banda blasé e superficial. O pior é que, aqui, eles não mostram nem mesmo a curiosidade (que existia nos primeiros discos) de pesquisar gêneros pop: Seven Stars, uma das poucas faixas memoráveis, trata o próprio Air como a única referência, saturando a combinação piano/efeitos especiais/vocal entorpecido. Não irrita, não machuca, mas o velho desejo exploratório foi pros ares.
As participações de Victoria Legrand (do Beach House) e do Au Revoir Simone são dispostas neste disco-simulador-de-voo como objetos decorativos de cena. Embelezam as imagens, e cumprem a função de compor um espetáculo “sofisticado” para sessões de gala de festivais. Pobre Méliès.
Sétimo disco do Air. 11 faixas, com produção da própria banda. Lançamento Astralwerks Records. D+
Os discos da minha vida (22)
A saga dos 100 discos mais apaixonantes da minha vida chega a um episódio muito fofo: os dois álbuns de hoje são afáveis e sedutores – às vezes, no entanto, eles se machucam (e nos machucam) de tanto amar.
E isso é lindo, não é?
Por coincidência (e sempre é coincidência), os descobri em momentos de crise amorosa. Momentos terríveis. Eu era jovem, eu sofria por qualquer dor de cotovelo, eu era um infeliz, eu tinha 18 anos. Talvez ironicamente, escrevo sobre eles no day after de um fim de semana extraordinário, um sonho dentro de um sonho que, em parte, pode ser resumido com os títulos de dois filmes que eu levaria para uma ilha deserta: Amor à flor da pele e Embriagado de amor.
E isso é lindo, não é?
Então tá. Sobre essa história toda, não direi mais nada (talvez em forma de metáfora ou com outros recursos literários; mas não hoje, que ainda estou sob choque). No mais, sou um sujeito muito tímido e a vida não é um reality show, meus camaradas.
E isso também pode ser lindo, não é?
058 | Moon safari | Air | 1998 | download
Quando ouvi pela primeira vez, lembro que eu, o moleque aborrecido de 18 anos, resmunguei: “Por que tanto paparico pra um disquinho que soa como a trilha sonora de uma festinha retrô, chique e insuportavelmente cool?” Levou um tempo – levou anos! – para que eu notasse como esse clima blasé e às vezes autoirônico (tão francês!) oculta um disco que usa cada artifício pop para criar canções que desgrudam do chão, flutuam, miram o sublime. Todas as músicas evocam a sensação de doce nostalgia (e certa inocência infantil) que é típica das lembranças de um primeiro amor. Mas é Remember que, interpretada pelo robô mais nostálgico da música pop, derrete minha armadura. Dream a little dream. Top 3: Remember, Kelly watch the stars, Sexy boy.
057 | In the wee small hours | Frank Sinatra | 1955 | download
Este é o disco de Sinatra que o seu avô guarda para ouvir sozinho, quando o almoço terminou, os filhos foram embora e a tarde começa a cair. Não é easy listening. Um monumento da música pop, é considerado o primeiro ‘álbum conceitual’, com faixas compostas e organizadas para criar uma atmosfera de melancolia; um deserto noturno habitado pelos fantasmas de amores perdidos. Ok, estamos falando de valor histórico. O que mais me comove, porém, é como Sinatra aceita se mostrar fragilizado nas canções do disco: em como ele as toma para si. O que aparece não é mais a celebridade irresistível, símbolo de masculinidade e elegância, mas o homem comum, abatido pelas dores que afligem outros homens comuns. Um disco de amor absolutamente verdadeiro. Por isso, dolorido (e bonito) do início ao fim. Top 3: In the wee small hours of the morning, What is this thing called love?, I’ll never be the same.
Superoito express (13)
Em diferentes sabores e formatos.
Album | Girls | 8.5 | …Que, se fosse um filme, ganharia um título picareta em português, do estilo ‘Retratos de uma vida’. A estreia do Girls é direta e franca, mas acaba soando muito ambiciosa pelo esco do projeto: trata-se de um intenso álbum de fotografias que, em grande parte, exorciza sentimentos adolescentes (rejeição, frustrações amorosas, insegurança, uma aflição sexual meio destrambelhada e garotas, garotas, garotas). Conhecer a história de Christopher Owens — que forma o duo com JR White — não é necessário para gostar de uma banda que parece resumir o que há de especial em alguns dos nossos ídolos (de Elvis Costello aos primeiros discos do Sonic Youth). Mas saber que Owens passou a infância e boa parte da adolescência adestrado pelos dogmas do culto radical Children of God preenche as lacunas de canções como Lust for life e Hellhole ratrace, que tratam o rock como uma espécie de válvula de escape para as dores do mundo. Pura catarse. E soam verdadeiramente sinceras. Um dos álbuns mais emocionantes do ano, fácil.
Popular songs | Yo La Tengo | 7 | Mais um capítulo da tranquila maturidade do Yo La Tengo. E, se isso soa entediante (em alguns momentos, não há outra forma de definir um estilo que parece mesmo estagnado), é interessante como a banda consegue convencer mesmo quando explora velhos truques. A primeira parte do disco (que vai até a faixa 9) é de uma segurança matadora: como se o trio compusesse novos standards para o lo-fi dos anos 1990 (Nothing to hide é perfeita para quem gostou dos discos mais recentes do Dinosaur Jr). A segunda metade, mais experimental, não soa tão memorável, ainda que mostre uma banda sem freios (e isso, nessa altura, é pra lá de bom).
See mystery lights | YACHT | 7 | A partir do momento em que nos convencemos de que não é um novo disco do LCD Soundsystem, tudo termina bem (e The afterlife é uma delícia).
JJ nº 2 | JJ | 6.5 | Eurotrip exótica que dá água na boca de indie americano. Armadilha pra turista. Mas a paródia de 50 Cent (Ecstasy) é uma graça.
Heartbeat radio | Sondre Lerche | 6 | Um disquinho bonitinho, agradavelzinho, extremamente previsível e limitado (quase um Ron Sexsmith) e… Bonitinho e agradavelzinho.
The blueprint 3 | Jay-Z | 5.5 | Mais um capítulo da entediante maturidade de Jay-Z. Nesta altura, está claro que ele deve dedicar-se a histórias que não são necessariamente dele (como no álbum American gangster, que era jóia) e parar de acreditar que existe interesse no cotidiano de um rapper milionário e ególatra (e sério, quem se importa com a “morte do auto-tune”?). Ainda assim, nem tudo é Big Brother (e o bagaço dos Neptunes e do Timbalandem algum sabor).
Love 2 | Air | 5 | Só não é uma total decepção porque o Air ainda tenta encontrar formas de sabotar uma sonoridade que virou grife cedo demais. Mesmo com toda boa vontade do mundo, porém, não dá para negar que é um dos discos mais fracos da banda (talvez o mais fraco, já que soa como decalque, diluição de estilo). E me espanto quando noto que toda a reputação do duo se sustenta num só álbum (o excelente Moon safari), numa coletânea de singles (Premiers sympthomes) e em alguns momentos da trilha de As virgens suicidas. Os outros quatro discos não sabem para onde ir – este aqui segue a tradição.