50/50
cine | 50/50
Quanto mais penso no filme choroso que 50/50 poderia ter sido (se dirigido por, digamos, Lasse Hallström), mais me simpatizo por ele. Aliás, a afeição se torna fácil quando percebemos que o roteiro (de Will Reiser, um iniciante) e a direção (de Jonathan Levine, que fez o igualmente arejado The Wackness, que vi numa edição do FicBrasília) estão sempre atuando de forma a descontrair uma premissa que é, por natureza, trágica (resumindo o script: rapaz atlético, boa-praça, genro-do-ano, saúde de ferro, descobre que tem 50% de chances de sobreviver a um câncer).
Quem espera o martírio de um drama hospitalar acaba encontrando, por isso, um longa sereno e relaxado (quase sempre no bom sentido), curioso por temas que tangenciam a trama principal: as relações que se estreitam ou se rompem numa situação-limite, os compromissos familiares,os momentos de espera e preparação para as piores etapas do tratamento médico… Parece simples (e cá está um filme que quer parecer simples), mas quantos outros cancer movies ignoram a obrigação de ir construindo o enredo que nos torture gloriosamente num clímax catártico banal?
Outra particularidade é o olhar de jovem-macho que o filme banca com muita clareza, idealizando toscamente a figura feminina (Anna Kendrick é a musa dócil, em oposição à imagem da namorada traiçoeira e insensível) e tratando a amizade mano-a-mano quase como um bromance de adolescência (e Seth Rogen, como sempre, se presta bem ao papel do amigo bronco-porém-fiel). Existe espontaneidade nessa atmosfera juvenil, como se o filme tivesse sido escrito em cômodos de alojamento universitário. Tem uma qualidade que se tornou rara na indielândia: é fluente, e parece (mesmo quando imaturo) de uma franqueza inatacável.
(50/50, EUA, 2011) De Jonathan Levine. Com Joseph Gordon-Levitt, Seth Rogen e Anna Kendrick. 100min. B