Dia: fevereiro 6, 2014
‘Polly’, Gem Club
Esta é a minha favorita de In Roses, um disco tedioso, mas que tenho ouvido com tanta ou mais frequência que os meus álbuns prediletos do ano [são eles: Benji, do Sun Kil Moon, e Burn Your Fire For No Witness, da Angel Olsen].
Como explicar esse apego que nasce por álbuns que mal se seguram em pé?
Os defeitos são berrantes e será muito simples listar alguns deles: as canções se alongam mais do que deveriam e, para azar delas, a banda não consegue concluí-las decentemente; falta energia ao conjunto, que sempre está correndo o risco de se tornar (e há momentos em que se torna) tão vibrante quanto uma parede bege; o vocalista balbucia os versinhos melancólicos como quem repassa demotapes do Bon Iver – e preciso parar aqui ou deixarei a impressão de não estar elogiando um disco que considero adorável.
Acredito até que é daquele tipo de disco que nos captura a partir do momento em que desistimos de procurar nele uma Grande Obra. Não é uma Grande Obra. Talvez tenha a ambição de ser algo assim, mas não é. O que é: um álbum construído com a paciência de quem levanta a obra de uma casa (um tijolo por vez), um álbum que parece marcar o tempo com um relógio descalibrado, mais vagaroso e sem que essa lentidão represente um gesto estilístico radical. Não são músicas “difíceis” e provocativas: são apenas preguiçosas (a preguiça de quem acaba de acordar e quer voltar a dormir). Na quarta ou quinta audição, quando notamos que o tempo do disco é esse e que só nos resta aceitá-lo ou abandoná-lo, só aí ele começa a se abrir para a gente.
E não se abre com muita frequência. Mas, quando acontece, em duas ou três faixas (‘Polly’, ‘Ideas for Strings’, ‘Braid’), deixa a impressão de ter capturado em profundidade algumas paisagens que só poderiam ter sido encontradas a partir dessa procura lerda de quem acabou de ser hipnotizado. Depois que me entendi com o temperamento dessas três faixas principais, o restante do álbum se enquadrou a essa sensação meio que de um transe-à-luz-do-dia e, voilá, até o jeito maçante como ele se arrasta passou a me parecer charmoso e único (desimportante, mas único).