Dia: fevereiro 28, 2012

♪ | Break it Yourself | Andrew Bird

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Amplidão, esse susbstantivo tão feioso e maltratado, há de cair bem em qualquer resenha sobre Break it Yourself. O novo de Andrew Bird soa como a trilha para um road movie pastoral, malickiano, de três horas de duração. Com direito ao corte final, o músico criou um álbum de folk-pop em VistaVision, cujas faixas (e são 14!) se movimentam sem sufoco numa paisagem vasta, cheia de terrenos abandonados e roads to nowhere. Não deixa de ser um “statement” valente — estou aqui sentado em minha poltrona, com uma latinha de guaraná, esperando os comentários do primeiro esperto que vai acusar o disco de ser irregular, inflado, desequilibrado, tedioso etc.

Fazer o quê? Talvez ele seja tudo isso (irregular, inflado etc), só que mais complicado é perceber que Bird buscou conscientemente um formato mais arejado e contemplativo para apresentar faixas que poderiam ter sido compactadas num disco de 35 minutos (este tem 60). Tem uma diferença importante aí.

Pode ser que as músicas não sejam tão memoráveis quanto as que apareceram em álbuns como The Mysterious Production of Eggs ou do ótimo The Swimming Hour (que marcou a grande transição da carreira de Bird, antes mais afinado ao jazz e aos modelos de big bands norte-americanas), mas aqui é tudo questão de dimensão, de compor as cenas e esticar o escopo: uma faixa mais convencional e familiar como Near Death Death Experience ou Fatal Shore, por exemplo, ganha uma força tremenda quando despenca dentro de uma narrativa tão plácida, com momentos de quase letargia — é como se o compositor atirasse uma pedrinha num lago completamente silencioso, só pra ver o que acontece.

E apesar de todos aqueles momentos graciosos que conhecemos muito bem (como no refrão de Near Death, em que Bird comenta que vai dançar “como um sobrevivente de câncer”), o disco caminha imperturbável numa toada lenta, quase austera, cheia de momentos de beleza serena (o trecho instrumental de Hole in the Ocean Floor, que vai seguindo vagarosamente sem vontade de acabar, é declaração de independência), sem a ansiedade juvenil que é tão valorizada no “indie rock”. Será subestimado, claro. Recomendo que se ouça logo depois de Mr. M, do Lambchop, numa tarde preguiçosa de folga. E sem pressa, porque o filme é grande.

Nono disco de Andrew Bird. 14 faixas, com produção do próprio músico. Lançamento Mom+Pop. B+