Dia: janeiro 24, 2012
cine | Sherlock Holmes: o jogo de sombras
Esta continuação de Jogos, Trapaças e Sherlock Holmes é um parque temático para meninos em descontrole hormonal. Com decoração retrô, cinco montanhas-russas, show pirotécnico, performance de stand-up comedy e funcionários fantasiados com figurinos pesadões de época, este espetáculo de imagem&ruído talvez resuma o cinema-maçaranduba de Guy Ritchie, um cineasta que usa qualquer projeto como desculpa para filmar os mais eletrizantes anúncios de energético.
O diretor facilita, dessa forma, o trabalho de qualquer crítico de cinema. Já que, para escrever sobre Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras, não é necessário conhecer (ou pesquisar) nadica sobre a obra de Arthur Conan Doyle. Até porque o próprio Ritchie não parece ter a conhecimento algum sobre o personagem que está adaptando: como acontecia no episódio anterior, o detetive é transformado num típico veículo para o Robert Downey Jr pós-Homem de Ferro — um action hero bronco, sarcástico, de maus modos, espírito keithrichardiano e que parece sempre estar fazendo graça de tudo (nos melhores momentos, do próprio filme). Tudo o que havia de particular (e de elegante; mas Ritchie não conhece essa palavra, for sure) no tipão inventado por Doyle é massacrado em mil pedacinhos fumegantes.
Existe um público com sangue nos olhos por esse Hopi Hari audiovisual, é claro. Na sessão em que vi o filme, as pessoas aparentemente conseguiram acompanhar uma trama de mistério (?) que me pareceu quase incompreensível — ela se movimenta como um jato em queda, soltando placas de metal, pegando fogo e fazendo muito barulho. Quando o filme puxa o freio, o faz para Ritchie demonstrar aquilo que ele chama de estilo: sequências supostamente bonitas, que alternam cenas em câmera lentíssima com flashes acelerados. Eu, que não me dou muito bem com montanha-russa, admito que fiquei um pouco enjoado.
(Sherlock Holmes: A Game of Shadows, EUA, 2011) De Guy Ritchie. Com Robert Downey Jr, Jude Law e Jared Harris. D+