Dia: janeiro 13, 2012
♪ | Attack on Memory | Cloud Nothings
Quando, aos 16 anos, eu matava o tempo gravando fitas cassete conceituais (já contei essa história tantas vezes que vou poupá-los da reprise), resolvi criar um “álbum grunge”. Ele funcionava assim: as melodias eram de uma simplicidade pré-escolar; a interpretação, tosquérrima (em resumo: eu torturava minha guitarra enquanto soltava uns berros); as letras, depressivas (sobre as minhas espinhas/dores existenciais/dificuldade de convidar as gurias pra ir ao cinema); as referências, Nirvana e Sonic Youth (havia uma faixa de 12 minutos de duração com muitos efeitos loucos, mas todas as outras mal chegavam aos três). Apelidei a fita de Cinco Dias Inúteis (porque foi gravada em cinco dias), e assim ficou.
O disco novo do Cloud Nothings, e isso obviamente não é elogio pra mim ou pra ele, me lembra muito essa fitinha. Ainda que ele, o disco, tenha sido produzido por Steve Albini.
OK, me identifico com Dylan Baldi (aka Cloud Nothings) porque eu também curtia criar ideias-para-discos. E este Attack on Memory me parece uma bela ideia-para-disco. Uma ideia para um disco pós-grunge. As letras são de um negrume adolescente (alguns títulos, para seu deleite: No Future – No Past, Wasted Days, No Sentiment, Cut You), as referências são duas ou três. A segunda faixa dura oito minutos e lembra Sonic Youth. A terceira dura três e parece Blink 182. Para cada momento “radical” e “agressivo”, há noise docinho para cenas agitadas de filmes do Cameron Crowe. Na última música, Dylan diz que sente falta de uma menina porque precisa de alguém para machucar. Não me convence.
Minha experiência gravando um (ahm, er) álbum grunge me ensinou o seguinte: se você só consegue transmitir sofrimento e angústia por meio de clichês, o que lhe parece visceral pode soar apenas como rebeldia inócua, choramingo, manha. E talvez provoque mais pena que admiração. É o que acontece quando ouço este álbum (melhor: esta ideia-de-álbum) do Cloud Nothings.
Terceiro disco do Cloud Nothings. Oito faixas, como produção de Steve Albini. Lançamento Carpark Records. C
♪ | Given to the Wild | The Maccabees
Nos setores da crítica musical que confundem madureza com sisudez, este disco mui sério do Maccabees é tratado como um dos acontecimentos centrais deste querido mês de janeiro. Motivo: depois de gravar dois álbuns que agradaram moderadamente às revistas britânicas — mas não fizeram meu golden retriever, o Simba, levantar a patinha —, os cinco londrinos voltam com uma OBRA de movimentos contidos, textura arenosa, melodias cheias de sutilezas (mas, calma, pra todo mundo cantar junto) e um vocalista que parece interpretar as canções de olhos fechados, girando o dedo no ar, em estado de profunda concentração.
Mas não nos deixaremos impressionar por nada disso (certo?): ainda que com intenções muito dignas (exemplo: eles usam o conhecimento de um produtor de eletrônica, Tim Goldsworthy, mais para criar climas katebushianos que pra incendiar genericamente numa pista de dança qualquer), a banda esmaga as músicas dentro de m modelo de pop rock “atmosférico”, “adulto” e “profissional” (zzz) que, além de ter se transformado num clichê até engraçado, emite um certo odor de mofo — simulando, quando muito, o U2 de The Unforgettable Fire e o Coldplay de Parachutes. Direto de túnel do tempo: depois de andar nessa estradinha pomposa, Bono e The Edge chutaram o balde e criaram, aí sim, Achtung Baby. Vamos torcer pra que, em 2018, o Maccabees não se contente com um Viva la Vida.
Terceiro disco do Maccabees. 13 faixas, com produção de Tim Goldsworthy, Bruno Ellingham e Jag Jago. Fiction Records. C