Dia: janeiro 11, 2012

♪ | Paralytic Stalks | Of Montreal

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Atenção: este é um post bipolar (para um disco que me deixou dividido).

Post 1 (euforia): Paralytic Stalks é um disco despudorado. Um álbum que não se acanha — porque, a esta altura, nada intimida o Of Montreal. Os trechos mais explícitos deixam a impressão de que foram transcritos por um observador secreto, tomando notas durante uma longa sessão de terapia. “Esta noite, eu fiz quem eu amo chorar. E me senti bem. Mas acredito que deva haver uma solução mais elegante”, confessa Kevin Barnes, lá pelas tantas. As melodias, os arranjos e a produção também espumam: a faixa de encerramento, Authentic Pyrrhic Remission, faz um cruzamento bizarro entre o pop eletrônico fofo de um, digamos, The Go! Team com o anti-espetáculo do Flaming Lips fase Embryonic. Dura 13 minutos. Da metade em diante, o álbum parece se desintegrar, com faixas longas em mutação constante. A todo momento, me lembra a minha cena preferida de A Fantástica Fábrica de Chocolate (versão de Tim Burton): quando, ao receber as criancinhas para um passeio alegre na indústria de guloseimas, Willy Wonka não dá conta de esconder que os brinquedos estão se despedaçando, entortando e explodindo diante dos olhos do público. Desde Hissing Fauna, Are you the Destroyer, Barnes não soava tão desesperado — e assustador, mas, como de hábito, com gestos irônicos, divertidos. É notável que, mesmo metido num pesadelo pessoal, ele tenha conseguido criar um álbum com uma unidade forte, que espelha um temperamento inconstante sem com isso se perder, se estilhaçar e embaçar o foco — o contrário do que acontecia com Skeletal Lamping, entre outros. “Tenho que me ensinar a sentir novamente”, ele diz. E aí, meu amigo, não há cinismo que resista a uma confissão dessas.

Post 2 (depressão): Paralytic Stalks arrisca, mas acredito que apenas superficialmente. Às vezes deixa a impressão de se esforçar, talvez excessivamente, para dar sequência (e ser comparado) ao álbum mais querido do Of Montreal: ele mesmo, Hissing Fauna, Are you the Destroyer. Novamente, Kevin Barnes clica todos os botões de uma jukebox dourada — atulhada de barulhinhos psicodélicos —, para sonorizar desabafos sobre culpa, crises amorosas, depressão e melancolia. Ninguém precisa acompanhar as letras das músicas para entender a intensidade dos conflitos do compositor — as melodias oscilam, em alta velocidade, entre o mais suave e o mais agressivo. Mas os versos tornam o sofrimento ainda mais claro: “É muito triste, mas precisamos de tragédias para encontrarmos uma perspectiva nova para a vida”, ele ensina, como quem inicia um post de blog. Spiteful Intervention, a faixa número 2, soa praticamente como um reboot de A Sentence of Sorts in Kongsvinger — e, apesar de não conter faixas tão memoráveis quanto as de Hissing Fauna (a metade final tem algumas tentativas de refazer o trajeto agônico de The Past is a Grotesque Animal), o disco sabe como condensar o clima de desencanto e loucura daquele álbum. Skeletal Lamping e False Priest não eram discos tão firmes, mas mostravam uma banda em marcha, testando os próprios limites, experimentando outros formatos e temas (e, quando muito, quebrando o salto). Paralytic Stalks será interpretado como um “retorno à forma”, ainda que eu veja o disco simplesmente como uma tentativa de retornar e, com isso, matar a nossa saudade. De Barnes, eu esperava outra coisa: uma obra que, além de narrar muitas inquietações, soasse um pouco mais inquietante.

Décimo primeiro disco do Of Montreal. Nove faixas, com produção de Kevin Barnes e Drew Vandenberg. Polyvinyl Records. A/C (ok, é B)