Dia: dezembro 28, 2011
cine | O palhaço
Na revisão deste O Palhaço, finalmente entendi por que o filme me desagradou tanto: o terceiro ato, quando o personagem de Selton deixa o circo e sai pro mundo real, é de uma preguiça lamentável. Filmado sem muita imaginação, com uma pressa danada (e me parece uma das partes mais importantes da trama), esse trecho me incomoda mais que: 1. a overdose sentimental das últimas três ou quatro sequências; 2. a trilha sonora geleia-geral, cheia de firulas transnacionais pra impressionar fã de Gogol Bordello e Kusturica e 3. o spray sanitizante que o cineasta usa pra validar/filtrar aquilo que entende por “cinema popular”, com uma encenação aconchegante, bonita, inofensiva, afetuosa, lírica, sempre confirmando o nosso sagrado bom gosto audiovisual – um filme-irmão de 2 Filhos de Francisco, O Auto da Compadecida e de Segue o Seco, da Marisa Monte, portanto, pra ser exibido no Circo Voador depois de um show do Los Hermanos. Durante a projeção, acabei me identificando com o herói de Selton (que está muito bem no papel, aliás; acho até que dá pra escrever um belo texto relacionando a trajetória do ator com a composição deste personagem): um tipo sempre muito melancólico, desconfortável, querendo sair de cena e ir pra outro lugar.
(Brasil, 2011). De Selton Mello. Com Selton Mello, Paulo José, Giselle Motta e Teuda Bara. 109min. C