Dia: dezembro 18, 2011
top 100 | Os filmes da minha vida (11)
Na onda de retrospectivas de fim de ano, já postei as minhas listas de Melhores Discos de 2011 e de Piores Filmes de 2011. Mas vou interromper essa série natalina para voltar, só por um breve momento, ao ranking dos 100 filmes que abalaram a minha vida.
Como vocês sabem, esta é uma lista muito pessoal, que não trata dos melhores filmes que vi, nem dos mais importantes, mas daqueles que se impuseram de alguma forma no, arram, mapa da minha existência. Um top 100 cheio de idiossincrasias, portanto. Voltemos a ele.
080 | Gremlins 2 – A Nova Geração | Joe Dante | 1990
Foi difícil encontrar uma palavra para definir a sessão de cinema em que vi Gremlins 2, mas lá vai: festiva. Porque, no fim das contas, éramos crianças e estávamos em festa. Lembro que o filme teve que ser interrompido porque uma menina de oito-nove anos teve uma crise de risos (outra interrupção memorável durante uma sessão: a versão-do-diretor de O Exorcista, alguns anos mais tarde). Não lembro quase nada do filme, a não ser da sensação de que havia algo venenoso no chantilly que Joe Dante nos oferecia. Para meninos de 11 anos, era o tipo mais empolgante de entretenimento (arruaceiro, hilariante & sarcástico, mais ou menos como os colegas de classe que nós admirávamos naquela época): e lembro que lamentei muito quando o longa não foi indicado ao Oscar. Mundo, injusto mundo.
079 | Audition | Ôdishon | Takashi Miike | 1999
Meu primeiro Takashi Miike foi, claro, um choque. Não só isso, no entanto. Descobri com sangue nos olhos – filme a filme; pra minha sorte, o dono da locadora de DVDs importados era fã do japonês – um diretor que fazia cinema com a voracidade de cinéfilo ansioso (ou de um menino hiperativo, que compra o ingresso para a montanha-russa enquanto ainda está na fila pro trem-fantasma). Já vi um punhado de filmes do diretor, que não se cansa de me surpreender, mas Audition segue firme no topo da minha lista de favoritos: um meta-horror pós-Psicose que me perturba menos por aquilo que ele tem a comentar sobre as fitas de gênero (e são comentários fortes, do melodrama ao terror de tortura) e mais por tudo o que Miike diz sobre o quão misterioso é o comportamento humano. Um choque, enfim.
cine | Attack the block
Um assessor de marketing esperto venderia essa sci-fi britânica como a fita de aventura spielberguiana que Spike Lee dirigiria. O filme tem um plano curioso: encenar uma trama bem tipica sobre invasão alienígena na mais mundana das locações (um bloco de apartamentos de classe média baixa, no sul de Londres). A garotada do gueto conversa muito sobre cultura pop, fuma maconha, rouba moças indefesas e enfrenta monstros peludos com dentições em azul fluorescente. Neat.
Mais importante: os personagens habitam uma espécie de mundo paralelo, à margem da Inglaterra “oficial”. Daí que essa batalha entre humanos e aliens não será televisionada, não terá relevância no contexto geral do país, e fará heróis de alcance apenas local. O filme dá aos bairros pobres o direito de criar toda uma mitologia que será ignorada pelas classes média/alta. Não deixa de ser um filmezinho político (ainda que todo esse comentário social apareça num tom didático, como se o espectador não tivesse como chegar a todas essas conclusões sozinho).
Mas vamos esquecer de Spike Lee, por um momento: Attack the Block também quer ser uma fita de gênero eficiente, em movimento nonstop (a ação transcorre numa madrugada), e nesse aspecto não acredito que seja muito bem sucedida. As cenas de ação são pouco imaginativas (à exceção do clímax, uma espécie de videoclipe reluzente de hip-hop), e todas as referências a longas parecidos (como Extermínio 2) me deixaram com saudade daqueles outros filmes.
O desfecho é bonito (beleza spielberguiana, aliás), mas esses personagens – e esse mundo paralelo, bem observado – mereciam um filme melhorzinho.
(UK/França, 2011) De Joe Cornish. Com John Boyega, Jodie Whittaker e Alex Esmail. 88min. C+