Dia: dezembro 8, 2011

♪ | Replica | Oneohtrix Point Never

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Daniel Lopatin lançou dois belos discos em 2011: Channel Pressure, com Joel Ford, e este Replica. O Oneohtrix Point Never é o projeto principal do músico – o ganha-pão, enquanto que o Ford & Lopatin passa como uma espécie de hobby de fim de semana. Aparentemente, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

A sonoridade do Oneohtrix não deixa muita margem para malentendidos: é experimental (há quem a chame de ambient, há quem use o rótulo drone: você decide), e exige um ouvinte disposto a se arriscar num território que desconhece. Já o Ford & Lopatin brinca com chavões da música pop: pode dar a entender, por isso, que é uma bobagem oitentista qualquer (e os chapas dos sintetizadores não estão nem um pouco preocupados em desfazer o equívoco).

Mas essa separação entre os projetos (que, em revistas de música, aparece de uma forma até automática) esconde uma semelhança entre eles: nos dois casos, o que eu percebo é a habilidade de Lopatin para criar álbuns cujas identidades musicais se impõem com muita autoridade, graças ao rigor como define um tom específico (de uma mise-en-scéne?) que envolve todas as faixas. Sem precisar, para isso, forçar a barra e apelar para o didatismo.

Esse talento já estava claro em Channel Pressure (um disco mais sobre nostalgia e memória que sobre os anos 80), mas em Replica ele fica ainda mais evidente por conta dos contrastes entre cada uma das músicas/experiências: o piano da faixa-título, por exemplo, fica ainda mais bonito quando notamos que tem uma importância específica dentro do roteiro da obra – que provoca um efeito de deslumbramento por estar ali onde está, entre faixas tão assombradas, tão destroçadas (idem para a selvageria que invade a abertura, Andro, nos segundos finais).

É como num filme abstrato de terror, sem trama, que nos confunde e às vezes nos irrita (Inland Empire?): mas que, quando chega ao fim, deixa a impressão de fazer perfeito sentido.

E (repare como a última faixa funciona com elo perfeito entre os dois discos) aposto que soa ainda mais interessante numa sessão dupla com Channel Pressure.

Sexto disco do Oneohtrix Point Never. 10 faixas, com produção de Daniel Lopatin. Lançamento Mexican Summer/Software. 79