[steve toltz]
Enquanto Terry foi brincar com os demais na piscina, eu me sujeitei a uma coisa terrível chamada dança das cadeiras, outro jogo cruel. Há uma cadeira a menos, e quando a música para, você tem de correr para conseguir um lugar. Festas infantis são riquíssimas em matéria de lições de vida. A música toca no último volume. Nunca se sabe quando vai parar. Você fica aflito durante toda a brincadeira; a tensão é insuportável. As crianças dançam em círculo ao redor das cadeiras, mas não é uma dança feliz. Todas têm os olhos grudados na mãe que comanda o rádio, a mão a postos no controle do volume. De tempos em tempos, uma criança se antecipa e se atira em uma cadeira. As outras gritam. Ela se levanta da cadeira outra vez. Está uma pilha de nervos. A música continua. Os rostos das crianças estão contorcidos de terror. Ninguém quer ser excluído. A mãe troça delas fingindo que vai mexer no volume. As crianças desejam que ela morra. O jogo é uma analogia da vida: não há cadeiras bastantes ou bons momentos o suficiente, não há comida suficiente, nem alegria, nem camas, nem empregos, nem risadas, nem amigos, nem sorrisos, nem dinheiro, nem ar puro para respirar… mas a música continua.
Trecho de Uma fração do todo, de Steve Toltz
outubro 28, 2011 às 1:18 pm
E nois continuamos a dançar “ao redor das cadeiras”…
Tiago, esta é uma das mais perfeitas analogias sobre nossas vidas que eu já li.
outubro 28, 2011 às 9:41 pm
Acho que eu já sei o que mostrar pra minha mãe na próxima festa de aniversário do meu irmão mais novo.
outubro 29, 2011 às 11:17 am
Ri tanto lendo esse livro, no original brilha ainda mais.
janeiro 5, 2012 às 1:44 am
Adoro os trechos de livros que você posta. Sempre aguçam minha vontade para ler o que vem antes e depois. Esse vai pra lista (que não para de crescer!). :)
janeiro 5, 2012 às 10:42 am
Vou continuar postando os trechinhos, então :)
janeiro 6, 2012 às 1:53 am
Eu agradeço! :D