Os discos da minha vida (top 5)

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Amigos, chegamos: cá estamos dentro do top 5, já batendo perna no tapete vermelho do ranking dos 100 discos da minha vida. Incrível, não?

Bem, talvez não. Porque, nesta altura do joguinho, muitos de vocês já sabem o que vão encontrar nos próximos capítulos desta saga. Sobre esse assunto, serei breve: vocês, os mais ansiosos e sabichões, estão certos – e, ao mesmo tempo, tão errados.

Não sei se vocês lembram (espero que lembrem!), mas esta é uma lista absolutamente pessoal com os álbuns que marcaram a minha vida. Não é um ranking dos melhores, dos mais influentes, dos mais arrepiantes, dos mais premonitórios, dos 1000 que você precisa comprar antes da morte da indústria fonográfica (ou algo do gênero).

Nada disso. É apenas um top sentimental, íntimo e desengonçado feito aqueles desenhos que você faz quando criança e guarda no baú do quarto – por isso, desimportante. Não o levem muito a sério.

Estamos no começo do fim, portanto: cinco discos que eu levaria para um planeta deserto. E a história vai assim:

005 | Blood on the tracks | Bob Dylan | 1975 | download

Não minto em absolutamente nada quando digo que tive a sorte de viver uma infância feliz. E foi um período tão sorridente, tão fácil, tão cheio de recompensas e brindes que, aposto, nenhum roteirista sensato se sentiria desafiado a adaptá-lo para o cinema. Daria um filme otimista, singelo demais. Um “happy end” perpétuo; um inferno (para quem curte um drama).

Mas também não caio em exageros quando lembro que a minha adolescência soou como um “lado B” dessa primavera. Um período nada feliz. Nada sorridente, nem fácil, nem cheio de recompensas e brindes. Enquanto meus amigos demonstravam até fisicamente a raiva e o medo que sentiam (dizer adeus à infância talvez seja a mais dolorida das despedidas), eu também sofria – só que silenciosamente, sem rebeldias, na minha.

E, para complicar tudo, naquela época eu era um rapazinho tímido, trancado no meu quarto, perplexo diante dos pátios abandonados da minha superquadra. Não era o moleque mais radiante. Minha mãe e meu padrasto diziam que a fase passaria logo. Nem meus amigos entendiam o que acontecia comigo. Eu queria entrar em contato com um mundo que não me parecia mais tão próximo: e, às vezes, só os discos, os livros e os filmes me levavam até lá.

Blood on the tracks, um disco tão importante (e que está em 99 entre 100 listas de melhores álbuns de todos os tempos), me encontrou nessa temporada confusa. Eu ainda era um menino que precisava levar conversas sérias com meus ídolos.

Bob Dylan, que eu já conhecia de alguns discos que me pareciam enigmáticos (e entediantes, pelo menos naquela época), cumpriu o papel de um tio velho, talvez experiente demais, que chama o sobrinho para falar sobre as coisas difíceis da vida. e sobre, ahn, os tumultos do amor. Uma situação que nunca aconteceu comigo (infelizmente, meus tios eram todos mais confusos que eu), mas que, imagino, pode ser um tanto constrangedora.

É que, antes que eu ouvisse Blood on the tracks, Dylan me parecia um tio exemplar: um macho-alfa que, sempre no domínio da situação, inventava hinos com a segurança de um marceneiro que martela mais um prego na parede. Parecia sempre tão fácil; e ele nunca esmorecia, não era? Desta vez, porém, o homem parecia frágil, um caco.

Blood on the tracks foi classificado, e com razão, como um disco “confessional”. Em 1975, Dylan cantava o amor frustrado e frustrante, as paixões incompletas, os encontros desencantados, os efeitos surpreendentes provocados pelo vento idiota do acaso. Havia como interpretá-lo como um contraponto a Nashville skyline, de 1969 – o disco do amor pleno, solar. Mas também parecia uma espécie de desabafo, mais instintivo que cerebral. Dylan tinha 34 anos de idade: não era um garoto.

Sabemos que o homem criava discos como quem escrevia os episódios de um longo livro de “autoficção”. Mas ainda prefiro lidar com Blood on the tracks da forma inocente como descobri o disco: é aquele momento raro em que um ídolo baixa a guarda para comentar sobre o que há de mais banal, inexplicável (e patético, porque as coisas são assim) na vida. Sobre os erros que cometemos duas ou três vezes. E as canções que nascem desse processo tolo, difícil de aprendizagem.

Também é, antes que eu esqueça, um disco com canções que nos maltratam gentilmente (Simple twist of fate, mesmo aflitiva, soa pra lá de agradável). Se Nashville skyline soava reconfortante, Blood on the tracks me parece de uma elegância amarga, sábia. O tio não tem boas notícias para contar. Mas encerra a conversa numa nota doce: as coisas talvez não terminem bem, mas a aventura é boa. Top 3: Simple twist of fate, Idiot wind, Tangled up in blue.

Após o pulo, veja os discos que apareceram neste ranking.

06 forever changes, love
07 ziggy stardust, david bowie
08 doolittle, pixies
09 unknown pleasures, joy division
10 after the gold rush, neil young
11 a tábua de esmeralda, jorge ben
12 automatic for the people, r.e.m.
13 xo, elliott smith
14 sticky fingers, rolling stones
15 achtung baby, U2
16 pink moon, nick drake
17 grace, jeff buckley
18 loveless, my bloody valentine
19 radio-activity, kraftwerk
20 the queen is dead, the smiths
21 siamese dream, smashing pumpkins
22 magical mystery tour, the beatles
23 odelay, beck
24 velvet underground and nico, velvet underground
25 rubber soul, the beatles
26 kid a, radiohead
27 zen arcade, hüsker dü
28 transa, caetano veloso
29 low, david bowie
30 nashville skyline, bob dylan
31 wowee zowee, pavement
32 odessey and oracle, zombies
33 as quarto estações, legião urbana
34 last splash, the breeders
35 what’s going on, marvin gaye
36 daydream naton, sonic youth
37 abbey road, the beatles
38 the soft bulletin, flaming lips
39 plastic ono band, john lennon
40 london calling, the clash
41 exile on main street, rolling stones
42 younger than yesterday, the byrds
43 sgt. pepper’s lonely hearts club band, the beatles
44 stankonia, outkast
45 the who sell out, the who
46 is this it, the strokes
47 astral weeks, van morrison
48 mighty joe moon, grant lee buffalo
49 le historie de melodie nelson, serge gainsbourg
50 the ramones, the ramones
51 the dark side of the moon, pink floyd
52 construção, chico buarque
53 parklife, blur
54 murmur, rem
55 music from big pink, the band
56 bringing it all back home, bob Dylan
57 in the wee small hours, Frank sinatra
58 moon safari, air
59 the stooges, the stooges
60 carnaval na obra, mundo livre sa
61 paul’s boutique, beastie boys
62 in utero, nirvana
63 american beauty, greateful dead
64 ladies and gentlemen, we are floating in space, spiritualized
65 os mutantes, os mutantes
66 discovery, daft punk
67 sea change, beck
68 dusty in memphis, dusty springfield
69 69 love songs, the magnetic fields
70 portishead, portishead
71 scott 4, scott walker
72 teenager of the year, frank black
73 either/or, elliott smith
74 elephant, the white stripes
75 on the beach, neil young
76 deserter’s songs, mercury rev
77 off the wall, michael jackson
78 post, bjork
79 surf’s up, beach boys
80 pulp fiction, soundtrack
81 songs from a room, leonard cohen
82 a ghost is born, wilco
83 under a red blood sky, u2
84 behaviour, pet shop boys
85 sheik yerbouti, frank zappa
86 electro-shock blues, eels
87 this is hardcore, pulp
88 brotherhood, new order
89 selvagem?, os paralamas do sucesso
90 merriweather post pavilion, animal collective
91 all things must pass, george harrison
92 the downward spiral, nine inch nails
93 bookends, simon and garfunkel
94 mezzanine, massive attack
95 #1 record, big star
96 summer in abbadon, pinback
97 gentleman, the afghan wighs
98 grievous angel, gram parsons
99 ten, pearl jam
100 grand prix, teenage fanclub

14 comentários em “Os discos da minha vida (top 5)

    Pedro Primo disse:
    agosto 1, 2011 às 6:25 pm

    Quem não gosta desse disco, tenho certeza, nasceu sem coração, hahaha.

    Adalberto disse:
    agosto 1, 2011 às 6:56 pm

    Falar bem desse disco, é chover no molhado.
    Neste momento estou todo encharcado…Nois todos estamos, Tiago…

    Ailton Monteiro disse:
    agosto 1, 2011 às 6:59 pm

    Meu contato com esse disco foi por vias indiretas. Conheci primeiro a faixa “If you see her say hello” através do álbum de covers do Renato Russo. E diria que não teria entendido a dor da canção se não fosse por Russo, que a interpretou com a sua própria dor o triste processo de uma separação, seguida da saudade. Por isso, enquanto não me aprofundar nesse disco a fundo, essa faixa vai ser a minha favorita do disco. Aliás, não só desse disco em particular, mas de toda a minha vida.

    Jonathan Messias disse:
    agosto 1, 2011 às 7:34 pm

    Esse ai ia acabar aparecendo mesmo. Seguinte, agora que está no top 5, vou tentar “estragar” o top 3 do Tiago. Lá vai minhas apostas para o top 3:

    1 – Beach Boys – Pet Sounds
    2 – Radiohead – Ok Computer
    3 – Nirvana – Nevermind

    Foi mal Tiagão por estragar o teu top 3 ;)

    Abraços

    Ricardo disse:
    agosto 1, 2011 às 8:28 pm

    Excelente texto, cara. Um disco que estaria no meu top 5 também!

    Abraço

    Rodrigo disse:
    agosto 1, 2011 às 8:59 pm

    tô começando a ficar tenso…

    Tiago Superoito respondido:
    agosto 1, 2011 às 10:06 pm

    É isso, Pedro. Definiu bem.

    Adalberto, tem razão: é complicado escrever sobre um disco que já foi tão comentado. Espero não ter que fazer isso de novo, haha.

    Ailton, acho que você vai gostar do disco.

    Jonathan, boa tentativa! Hahaha.

    Valeu, Ricard.

    Felipe Queiroz disse:
    agosto 2, 2011 às 3:22 am

    Cara, você vai deixar Oasis entre os quatro primeiros mesmo? eheh

    Tiago Superoito respondido:
    agosto 2, 2011 às 6:00 pm

    Como assim? Oasis não entrou na lista? Deus!

    Adalberto disse:
    agosto 2, 2011 às 6:31 pm

    Mesmo que sejam previsíveis os próximos passos dados nesta saga heróica, de uma exposição de um peito aberto, pulsando discos fenomenais .
    Seja sincero, Tiago.
    Não nos deixe, sem o prazer de lermos seus textos apaixonados.
    Palavras que gostaríamos de escrever, sobre nossos amores eternos.
    E que às vezes, não temos a sua coragem.
    Vá em frente, sem medo, garoto…

    Tiago Superoito respondido:
    agosto 2, 2011 às 6:43 pm

    Valeu, Adalberto. Abraço.

    Felipe disse:
    agosto 2, 2011 às 8:26 pm

    Será que rola um in the aeroplane over the sea aí?

    Tiago Superoito respondido:
    agosto 2, 2011 às 8:33 pm

    Puts, Felipe. Acho que não. Talvez numa lista dos discos da minha outra vida, talvez. :) Mas gosto muito dele.

    Jonathan Messias disse:
    agosto 2, 2011 às 9:30 pm

    “Será que rola um in the aeroplane over the sea aí?” Bem lembrado Felipe. Na minha lista entrava fácil.

    Quem sabe numa lista 2.0 hein Tiago?!

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