Dia: maio 18, 2011

Trecho | Estranho

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“Convencer Patty de que alguém se comportava ‘mal’ era um verdadeiro empreendimento. Quando lhe contaram que Seth e Merrie Paulsen iam dar uma enorme festa de Halloween para os gêmeos e tiveram o cuidado de convidar todas as crianças do quarteirão menos Connie Monaghan, Patty só comentou que era muito ‘estranho’. No seu encontro seguinte com o casal Paulsen na rua, eles explicaram que tinham passado o verão inteiro tentando fazer a mãe de Connie Monaghan, Carol, parar de jogar pontas de cigarro da janela do quarto na piscininha rasa dos gêmeos. ‘É muito estranho mesmo’, concordou Patty, balançando a cabeça, ‘mas, sabe, não é culpa da Connie.’ Mas os Paulsen não ficaram satisfeitos com ‘estranho’. Queriam sociopata, queriam passiva-agressiva, queriam . Precisavam que Patty escolhesse um desses epítetos e concordasse com eles que era aplicável a Carol Monaghan, mas Patty era incapaz de ir além de ‘estranho’, e em resposta os Paulsen se recusaram a acrescentar Connie à sua lista de convidados. Patty ficou tão irritada com essa injustiça que levou seus filhos, mais Connie e uma amiguinha da escola, a uma plantação de abóboras e um passeio de charrete na tarde da festa, mas a pior coisa que ela diria em voz alta sobre o casal Paulsen era que aquela maldade deles com uma menina de sete anos era muito estranha.”

Trecho de Liberdade, de Jonathan Franzen.