Os discos da minha vida (38)

Postado em Atualizado em

Esta semana, a saga dos 100 discos que zoaram a minha vida chega a uma edição apocalíptica. Melhor: revolucionária. Antes disso: incendiária. Antes ainda: lancinante. 

Um contém os diabinhos frios da minha adolescência, o outro guarda um pedaço importante da minha infância lá dentro. Dois discos que, acima de tudo, me ensinaram o seguinte: tenho todo o direito de criar expectativas quase insuportáveis para a música pop; ela, a música pop, quase sempre me surpreende.

Dois álbuns de invenção, se é que podemos catalogá-los dessa forma. Dois álbuns que pedem para que criemos novas formas de catalogar álbuns. Um disco que abriu (tardiamente) os anos 1960, um que iniciou (pontualmente) os anos 2000. Duas obras-primas.

Muita gente boa (e muita gente ruim) já escreveu vários parágrafos bons (e vários parágrafos ruins) sobre esses discos, então vou me esquivar da responsabilidade e aproveitar este espaço para contar historinhas sobre a minha vida. Dica: não leve estes textos (e este ranking) muito a sério, ok? São apenas textos. E isto é apenas um ranking (e um ranking sem discos do Novos Baianos).

026 | Kid A | Radiohead | 2000 | download

Lembro que foi o primeiro disco que baixei via web, mas a conexão discada lá de casa era tão lenta que demorei mais ou menos uma semana para organizar todas as faixas numa pastinha virtual alaranjada. Quando fui ouvir a coleção, o espanto foi tão grande que eu não sabia quem culpar: se a banda, se o disco, se a conexão discada, se as minhas expectativas, se a web (como um todo). Admito que, cutucando aquela versão aparentemente inacabada de um disco aguardadíssimo, imaginei ter caído numa gozação. Esperei o lançamento do CD, comprei a bolachinha REAL e, bem, e nada: a internet nem sempre mentia (lição duríssima, aliás) e o som era mesmo quebradiço, às vezes bizarro, a trilha sonora vacilante para a era do gelo (e não falo em desenhos animados fofos, mas no apocalipse). Mais do que um álbum de transição, é uma tomada de posição: muito difícil de ser aceita de imediato (principalmente por um fã de Ok computer, meu caso), mas que nos empurra lentamente para uma paisagem de onde não conseguimos nos desvencilhar. Talvez um ambiente glacial, repugnante, mais pessimista do que qualquer livro do Philip K. Dick; também fascinante. Dali pra frente, aprendi rapidinho a baixar mp3. E tudo ficou nos lugares certos. Top 3: Everything in its right place, Morning bell, Optimistic.

025 | Rubber soul | The Beatles | 1965 | download

Meu pai, que nem sei muito bem onde está, gravou este disco para mim numa fita-cassete. Eu tinha acho que 10 anos, talvez um pouco menos. Lembro que era período de férias e eu detestava ficar desocupado, de bobeira na casa do meu velho, deitado no sofá, lançando osso pro cachorro, dormindo enquanto passava filme dublado na tevê. Antes de amar os Beatles, eles serviam para que eu preenchesse meu tempo. E Rubber soul é um dos discos que me levam àquelas tardes tão desalmadas: era como se não existisse mais vida alguma além daquela que saía do meu walkman. Ainda me impressiono como essas músicas acabaram se impregnando nas minhas lembranças, de tal forma que hoje choro quando ouço Drive my car e You won’t see me. Passei muito tempo negligenciando este disco, o trocando por outros (Revolver, por exemplo). Mas agora chega: Rubber soul, ainda que desperte memórias por vezes lamentáveis, até muito tediosas, guarda algo da minha infância que outros discos dos Beatles não têm. Talvez a sensação de que havia um playground lá fora enquanto eu estava preso lá dentro. Para minha sorte, havia um momento em que as férias com meu pai acabavam e, finalmente, eu apertava o stop. Top 3: Drive my car, You won’t see me, I’m looking through you.

Depois do pulo, confira os discos que já apareceram neste ranking.

27 zen arcade, hüsker dü
28 transa, caetano veloso
29 low, david bowie
30 nashville skyline, bob dylan
31 wowee zowee, pavement
32 odessey and oracle, zombies
33 as quarto estações, legião urbana
34 last splash, the breeders
35 what’s going on, marvin gaye
36 daydream naton, sonic youth
37 abbey road, the beatles
38 the soft bulletin, flaming lips
39 plastic ono band, john lennon
40 london calling, the clash
41 exile on main street, rolling stones
42 younger than yesterday, the byrds
43 sgt. pepper’s lonely hearts club band, the beatles
44 stankonia, outkast
45 the who sell out, the who
46 is this it, the strokes
47 astral weeks, van morrison
48 mighty joe moon, grant lee buffalo
49 le historie de melodie nelson, serge gainsbourg
50 the ramones, the ramones
51 the dark side of the moon, pink floyd
52 construção, chico buarque
53 parklife, blur
54 murmur, rem
55 music from big pink, the band
56 bringing it all back home, bob Dylan
57 in the wee small hours, Frank sinatra
58 moon safari, air
59 the stooges, the stooges
60 carnaval na obra, mundo livre sa
61 paul’s boutique, beastie boys
62 in utero, nirvana
63 american beauty, greateful dead
64 ladies and gentlemen, we are floating in space, spiritualized
65 os mutantes, os mutantes
66 discovery, daft punk
67 sea change, beck
68 dusty in memphis, dusty springfield
69 69 love songs, the magnetic fields
70 portishead, portishead
71 scott 4, scott walker
72 teenager of the year, frank black
73 either/or, elliott smith
74 elephant, the white stripes
75 on the beach, neil young
76 deserter’s songs, mercury rev
77 off the wall, michael jackson
78 post, bjork
79 surf’s up, beach boys
80 pulp fiction, soundtrack
81 songs from a room, leonard cohen
82 a ghost is born, wilco
83 under a red blood sky, u2
84 behaviour, pet shop boys
85 sheik yerbouti, frank zappa
86 electro-shock blues, eels
87 this is hardcore, pulp
88 brotherhood, new order
89 selvagem?, os paralamas do sucesso
90 merriweather post pavilion, animal collective
91 all things must pass, george harrison
92 the downward spiral, nine inch nails
93 bookends, simon and garfunkel
94 mezzanine, massive attack
95 #1 record, big star
96 summer in abbadon, pinback
97 gentleman, the afghan wighs
98 grievous angel, gram parsons
99 ten, pearl jam
100 grand prix, teenage fanclub

17 comentários em “Os discos da minha vida (38)

    Jonathan Messias disse:
    maio 3, 2011 às 12:04 am

    Sempre imaginei Kid A na lista, mas esperava mais bem posicionado (na minha lista estaria entre os 10). No aguardo por mais surpresas…Abraços!

    Tiago Superoito respondido:
    maio 3, 2011 às 12:06 am

    Mais surpresas? Sim, acho que sim, provavelmente essa lista vai ME surpreender.

    Diego disse:
    maio 3, 2011 às 1:26 am

    “E isto é apenas um ranking (e um ranking sem discos do Novos Baianos).”

    Ok, eu paro de comentar aqui.

    Tiago respondido:
    maio 3, 2011 às 1:41 am

    Desencana, Diego, é brincadeira.

    rafaéu disse:
    maio 3, 2011 às 3:09 am

    RUBBER SOUL!! E KID-A! Não ignore os outros dois álbums de cada banda citados e tem meus dois álbums preferidos de uma delas

    Ailton Monteiro disse:
    maio 3, 2011 às 1:57 pm

    Eu prefiro bem mais hoje em dia RUBBER SOUL a REVOLVER. É um disco perfeito. E também tem “In my life”, hein!! Obra-prima de Mr. John Lennon que até hoje me arrepia. Quanto ao Radiohead, acho que ele já antecipava os anos 2000 com OK, COMPUTER. Os anos 2000 como era da paranoia e do pânico. Mas KID A oficializa.

    Tiago respondido:
    maio 3, 2011 às 4:41 pm

    Eu vejo o Ok Computer como um disco sobre o fim do século, paranoia e pânico. Kid A é como se eles limpassem a tela para começar algo novo, novo século.

    Rafaéu, elas voltarão.

    Gabriel Augusto disse:
    maio 3, 2011 às 5:33 pm

    Kid A! Meu álbum favorito do Radiohead – eu nunca consegui me apaixonar de verdade pelo OK Computer

    Tiago respondido:
    maio 3, 2011 às 5:36 pm

    Ô, Gabriel, Ok Computer por aqui é paixão das fortes.

    Samuka disse:
    maio 3, 2011 às 6:30 pm

    Assim como você, não digeri tão bem Kid A na época em que foi lançado… Passada a urgência, voltei ao disco e fui admirando aos poucos o som eletrônico desse disco. Vai ver eu não tinha gostado inicialmente porque esperava um disco com mais “cara” de rock…

    Rubber Soul é simplesmente lindo, devo ter ouvido pelo menos umas 30 vezes. Além das mencionadas, adoro Michelle e Nowhere Man.

    Ah, e tô ansioso por uma resenha do novo do Beastie Boys, que tá d+

    Tiago respondido:
    maio 3, 2011 às 6:32 pm

    Tomara que saia resenha do Beastie Boys, Samuka. Ando BEM desanimado.

    dh disse:
    maio 3, 2011 às 7:02 pm

    Morning bell é preferida, com uma versão bem mais legal nesse do que no Amnesiac.

    Até gost dela, mas Run for you life é o patinho feio do disco. E logo a última! Mas aí tem o resto do disco e compensa tudo.

    dh disse:
    maio 3, 2011 às 7:41 pm

    Havia esquecido de What Goes On. Poe essa no lugar de Run for your life.

    Ricardo Costa disse:
    maio 3, 2011 às 9:42 pm

    hahaha

    qual o problema com os novos baianos, pô ?

    Tiago Superoito respondido:
    maio 3, 2011 às 9:43 pm

    É que o Diego curte e protestou, Ricardo, mas eles não vão (infelizmente) aparecer nesta lista.

    Qualquer coisa nesse disco me agrada mais do que Amnesiac, dh. Mas adoro Amnesiac, só pra deixar anotado.

    Ricardo Costa disse:
    maio 3, 2011 às 10:00 pm

    entendo, vc n cansa de dizer que são os discos da sua vida e tal, então, faz sentido. mas se fosse um best of tinha que tá lá

    Homero Ventura disse:
    maio 13, 2011 às 1:49 am

    Gente, que gosto bom você tem!!!

    Colocar um monte e Beatels e Pink Floyd, misturando com Construção é tudo de bom!

    Rubber Soul? Só perde para Abbey Road!!

    Norwegian Wood e Nowhere Man são as melhores, para mim, e logo após vem You Won’t See Me!!! E eu não desgosto de Run For Your Life…

    É .. Acabou Chorare poderia estar lá, mas eu perdôo… Acho que tinha que viver o momento … tenho 53 anos!!

    Quais são seus primeiros 25?

    Veja meus textos sobre Beatles no mue blog, em

    http://blogdohomerix.blogspot.com/2011/01/isso-e-que-e-universidade.html

    Abraço

    Homerix

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