Os discos da minha vida (37)

Postado em Atualizado em

Há uma semana, aconteceu algo especial neste ranking, mas perdi a cabeça e esqueci de avisar: chegamos ao top 30, meu povo! Top 30! Há 15 anos, quando começamos esta saga, quem imaginou que chegaríamos a este ponto? É um momento importante na história deste blog.

Diga aí: é ou não é? É ou não é?

Ok, NÃO é. Não é um momento importante. Afinal, este é apenas um ranking dos 100 discos da minha vida. Apenas uma lista cheia de idiossincrasias e escolhas duvidosas, tudo muito pessoal e sentimental. Ugh!

Apenas uma lista de álbuns que foram importantes para mim e provavelmente não surtiram o mesmo efeito na sua rotina, amigão. Apenas isso, apenas aquilo, apenas aquilo outro. Arg!

Bem, nas minhas andanças por São Paulo aprendi uma gíria que me agrada muito e que combina muito bom a fase atual deste blog: estar zuado. Há vários usos para o termo, que na maior parte das vezes tem conotação negativa. Por exemplo: hoje eu acordei todo zuado, ou o tempo está zuado, ou este é um disquinho muito zuado (sobre o novo do Strokes, por exemplo). Ou, na real: este blog anda extremamente zuado. Espero que as coisas melhorem em breve (também estou na torcida, acredite).

Lembrei da palavrinha porque um dos discos desta lista é apelidado com uma das gírias mais bacaninhas da língua portuguesa: transa. Que quer dizer uma série de coisas, com conotação geralmente positiva. Daqui para o fim desta lista você vai encontrar dois discos brasileiros, que são (obviamente) os discos brasileiros mais importantes da minha vida. O primeiro está aqui. O outro chega aparece mais.

Já o outro disco do dia chegou enfezado, foi se instalando, e praticamente ensinou tudo o que sei sobre indie rock (na época já chamavam de indie rock?). É o disco mais lindamente tosco que eu conheço, e você devia conhecê-lo.

Sem mais firulas, vamos à dupla desta segunda-feira azulada em Brasília, cinzenta em São Paulo e blue dentro do meu coraçãozinho cheio de saudades. Top 30 goes on.

028 | Transa | Caetano Veloso | 1972 | download

Na época do lançamento, Caetano rodou a baiana quando descobriu que, na confecção do encarte, esqueceram de incluir os nomes dos músicos que participaram das gravações. Injustiça gravíssima, de fato, já que este é o disco cuja sonoridade foi inventada em grupo e registrada como que para simular um ensaio livre e muito espontâneo, sem cronômetro ou prazos (um esquema que se repetiria em outros grandes álbuns dos anos 70, como Tábua de esmeralda, de Jorge Ben, e Ogum xangô, de Ben e Gil). Com Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa, Caetano finalmente atingiu um ponto de equilíbrio entre as ideias mui cerebrais (e quase intransitivas) dos discos anteriores e um formato mais solto, transitivo – e a (boa) impressão é de que às vezes o compositor se deixa perder dentro da onda sonora, como quem desce num longo mergulho. You don’t know me, ele avisou, submerso no transe londrino. E um cara rejuvenescido, menos controlado e mais satisfeito com a própria arte, parecia ter sido partejado ali. Top 3: You don’t know me, Nine out of ten, Triste Bahia.

027 | Zen arcade | Hüsker Dü | 1984 | download

O fã de Green Day que descobre este disco do Hüsker Dü pode ficar com a impressão de ter assistido a uma versão censura-12-anos para o teen movie mais desiludido de todos os tempos. Este é o mundo de Bob Mould, Grant Hart e Greg Norton: um álbum “conceitual”, na visão distorcida do grupo, é um disco duplo de 70 minutos de duração (e 23 faixas) sobre um moleque que, ao fugir de casa, descobre que o mundo lá fora é mais cruel ainda. “Algo que aprendi hoje:”, ele conta, logo na primeira faixa, “preto com branco dá sempre cinza”. E está explicado. No álbum, o Hüsker Dü experimentou com folk, jazz e psicodelia. Mas o som que nos maltrata é o de guitarras sempre muito secas, e de vocalistas que cantam como se a garagem estivesse sempre prestes a cair em centenas de pedaços. Um disco de rock que soa como um monumento feito de sucata, peças antigas, máquinas de pinball defeituosas, brinquedos velhos encontrados no quintal. E a infância chegando ao fim. Top 3: Something I learned today,  Never talking to you again, Somewhere.

Depois do pulo, confira os discos que já apareceram neste ranking.

29 low, david bowie
30 nashville skyline, bob dylan
31 wowee zowee, pavement
32 odessey and oracle, zombies
33 as quarto estações, legião urbana
34 last splash, the breeders
35 what’s going on, marvin gaye
36 daydream naton, sonic youth
37 abbey road, the beatles
38 the soft bulletin, flaming lips
39 plastic ono band, john lennon
40 london calling, the clash
41 exile on main street, rolling stones
42 younger than yesterday, the byrds
43 sgt. pepper’s lonely hearts club band, the beatles
44 stankonia, outkast
45 the who sell out, the who
46 is this it, the strokes
47 astral weeks, van morrison
48 mighty joe moon, grant lee buffalo
49 le historie de melodie nelson, serge gainsbourg
50 the ramones, the ramones
51 the dark side of the moon, pink floyd
52 construção, chico buarque
53 parklife, blur
54 murmur, rem
55 music from big pink, the band
56 bringing it all back home, bob Dylan
57 in the wee small hours, Frank sinatra
58 moon safari, air
59 the stooges, the stooges
60 carnaval na obra, mundo livre sa
61 paul’s boutique, beastie boys
62 in utero, nirvana
63 american beauty, greateful dead
64 ladies and gentlemen, we are floating in space, spiritualized
65 os mutantes, os mutantes
66 discovery, daft punk
67 sea change, beck
68 dusty in memphis, dusty springfield
69 69 love songs, the magnetic fields
70 portishead, portishead
71 scott 4, scott walker
72 teenager of the year, frank black
73 either/or, elliott smith
74 elephant, the white stripes
75 on the beach, neil young
76 deserter’s songs, mercury rev
77 off the wall, michael jackson
78 post, bjork
79 surf’s up, beach boys
80 pulp fiction, soundtrack
81 songs from a room, leonard cohen
82 a ghost is born, wilco
83 under a red blood sky, u2
84 behaviour, pet shop boys
85 sheik yerbouti, frank zappa
86 electro-shock blues, eels
87 this is hardcore, pulp
88 brotherhood, new order
89 selvagem?, os paralamas do sucesso
90 merriweather post pavilion, animal collective
91 all things must pass, george harrison
92 the downward spiral, nine inch nails
93 bookends, simon and garfunkel
94 mezzanine, massive attack
95 #1 record, big star
96 summer in abbadon, pinback
97 gentleman, the afghan wighs
98 grievous angel, gram parsons
99 ten, pearl jam
100 grand prix, teenage fanclub

36 comentários em “Os discos da minha vida (37)

    Diego disse:
    abril 26, 2011 às 12:03 am

    O primeiro brasileiro vai ser Acabou Chorare, certo? CERTO? CERTO???

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 12:04 am

    Hahaha. Não.

    Diego disse:
    abril 26, 2011 às 12:07 am

    Seu zuado! Não acredito que você não o coloca num top 100…

    Ah, o link do Husker Dü aí é para um zip com apenas 4 faixas do disco.

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 12:09 am

    Não, Diego. Gosto do disco, mas estou looonge de dar essa bola toda pros Novos Baianos.

    Puts, verdade. Eu ia upar o disco aqui, mas não encontrei o CD. Vou procurar outro link.

    Diego disse:
    abril 26, 2011 às 12:11 am

    Estou chocado.

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 12:13 am

    Pronto, arquivo novo! Veja se este funciona.

    Pô, Diego, não é porque a Rolling Stone e a Bravo vão lá e dizem que é o melhor disco brasileiro de todos os tempos que eu vou concordar. Nesse caso, não concordo MESMO.

    Diego disse:
    abril 26, 2011 às 12:41 am

    Indiezão.

    Diego disse:
    abril 26, 2011 às 12:42 am

    O Husker Dü tá funcionando agora!

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 12:42 am

    Ah, agora você vai me desculpar, mas TODOS os indies que eu conheço adoram Acabou Chorare.

    Felipe Queiroz disse:
    abril 26, 2011 às 12:45 am

    Transa também é o meu preferido do Caetano. Dizem que Nine out of Ten é o primeiro reggae cantado por um brasileiro, mas há misturas demais para esse crédito, aliás, o disco inteiro é um choque de cultura. “Mora na Filosofia” é a minha preferida, e por coincidência a única não assinada por Caetano.

    O outro brasileiro só pode ser um de Jorge Ben. Acabou Chorare virou disco superestimado depois da Rolling Stones. Para mim, o melhor disco nacional é Estudando o Samba, de Tom Zé, esse sim um gênio!

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 12:46 am

    Também acho totalmente superestimado. Um disco muito bom, mas o MELHOR? No país de João Gilberto, Caetano, Chico, Roberto Carlos, Jorge Ben, Gil? Não.

    Pedro Primo disse:
    abril 26, 2011 às 12:50 am

    Todo mundo gosta do Acabou Chorare até meus amigos que são fãs de Led Zeppelin e nem se Wilco é banda ou é de comer. É lindão mesmo.

    Baixei o Caetano e tô curtindo, preciso conhecer a discografia do cara.

    Adoro o Zen Arcade, mas o que me marcou foi o New day rising, um dos primeiros discos que ouvi na vida.

    Diego disse:
    abril 26, 2011 às 12:52 am

    Hum. Etão “Acabou Chorare” é superestimado e virou “modinha” porque está nas listas da Rolling Stone e Bravo?

    Sério?

    Sério??

    SÉRIO???

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 12:52 am

    É lindão sim. E influenciou praticamente toda a discografia da Marisa Monte, além de ser essencial para toda a MPB pós-Los Hermanos (e sem juízo de valor aqui).

    New day rising também é ótimo, gosto muito.

    Diego disse:
    abril 26, 2011 às 12:52 am

    E tem um monte de indie que ama Tábua de Esmeralda e Transa também, Tiagão.

    Mas a maioria nem conhece Pinback :P

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 12:53 am

    Não, Diego. É um disco maravilhoso. Mas não consigo aceitar esse clima de unanimidade em torno dele.

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 12:53 am

    Ué, Diegão. E daí?

    Diego disse:
    abril 26, 2011 às 12:56 am

    E daí que essa história toda me lembra de quando eu trabalhava na Capricho e recebíamos e-mails furiosos de leitoras porque entrevistamos o McFly, uma bandinha adolescente que fez algum sucesso por aqui há uns 3 ou 4 anos. Elas ficaram bravas porque, com a matéria Capricho, “McFly viraria modinha”.

    Algumas delas nem imaginavam que McFly era “modinha’ na Inglaterra há anos.

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 1:00 am

    Ah, Diego, sinceramente, essa discussão tá tomando um rumo que não tem nada a ver.

    Eu disse em algum lugar que não gosto do disco Acabou Chorare ou que ele não merece ser tido como um dos melhores discos brasileiros? Não, né.

    Eu só disse que ele não marcou tanto a minha vida (perfeitamente aceitável, acho) e que, se eu fizesse uma lista de ‘melhores’ brasileiros, ele entraria depois de vários outros. Depois de Tábua de esmeralda, por exemplo. De Transa. De Chega de saudade. Do Mutantes. Etc.

    E acho sim que esse clima de unanimidade criado por listas ditas ‘definitivas’ é excessivo. Só isso. Nada mais.

    Diego disse:
    abril 26, 2011 às 1:01 am

    Mas unanimidade porque ele entrou na lista da Rolling Stone?

    Unanimidade é um conceito bem maleável então, porque você taí discordando da posição do disco em listas de revistas e, mesmo assim, acusando-as de colaborarem para uma “unanimidade”.

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 1:02 am

    Não lembro de ter sido só na da Rolling Stone.

    Diego disse:
    abril 26, 2011 às 1:05 am

    Ok, Tiago. Não foi na da revista da MTV
    http://www.goulartgomes.com/visualizar.php?idt=1393710

    Adeus, unanimidade :P

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 1:06 am

    Hahahahahahaha. Diego apelão!!!

    Mas, já que você apontou isso aí, salve-salve a revista da MTV.

    Ailton Monteiro disse:
    abril 26, 2011 às 4:52 am

    Engraçado que TRANSA é o único CD do Caetano que eu tenho em casa. Mas o meu preferido é aquele branco, de 1969, que tem “Argonautas”. Disco que antecipava o exílio. Sensacional e muito rock and roll. Acho TRANSA superestimado. hehehe. Mas adoro “Mora na Filosofia”. Já ouviu na voz da Adriana Maciel? Ficou linda!!

    Agora, disco brasileiro favorito… Difícil, velho! Eu colocaria um do Roberto ou da Legião. Do Roberto, o de 72. Ou de 71? da Legião, A TEMPESTADE.

    Mas quando eu era pequeno eu ouvia muito Sidney Magal, sabe?

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 9:59 am

    Não deixa de ser superestimado mesmo, Ailton, hahaha.

    Mas pelo menos o assunto deixou de ser Acabou Chorare, ou esta viraria ‘a lista que não tem Acabou Chorare’.

    Pode ter sido um erro ter incluído discos brasileiros neste ranking. Teria sido mais saudável ter feito uma lista só de álbuns nacionais. Mas paciência. Vamos em frente.

    Caim disse:
    abril 26, 2011 às 11:09 am

    Tiago, Nós já entendemos que esta é só uma listinha extremamente particular, sentimental, não linear,contraditória, dialética e etc.
    NÓS JÁ ENTENDEMOS!
    Relaxa e posta :D

    Um beijo!

    Tiago Superoito respondido:
    abril 26, 2011 às 12:31 pm

    Hahahaha. Ok, então!

    Jonathan Messias disse:
    abril 26, 2011 às 1:10 pm

    Transa hein, já passou por mim algumas vezes e não me pegou. Vou tentar mais algumas vezes, geralmente suas dicas são certeiras. Estou com o Felipe Queiroz nessa, meu predileto nacional é o Estudando o Samba do Tom Zé, lado a lado com Tábua de Esmeralda e Construção.
    Ah, adoro o Hüsker Dü, Warehouse: Songs and Stories poderia estar na lista também, assim como o New Day Rising….;)

    Abraços!

    Mário Henrique disse:
    abril 27, 2011 às 12:47 am

    Do Caetano o meu preferido também é o de 1969.Mas o Transa é lindo demais também.
    Husker Dü tenho que ouvir mais.

    Tiago,só por curiosidade(já que provavelmente estes dois não estarão na sua lista),o que acha do Clube da Esquina(1972) e do primeiro dos Secos & Molhados?
    Esses são os meus nacionais prediletos.

    Daniel disse:
    abril 27, 2011 às 3:55 am

    O próximo nacional é o Em Ritmo de Aventura, do Robertão. E tenho dito.

    Daniel disse:
    abril 27, 2011 às 4:13 am

    Husker Du, uma banda fundamental que é estranhamente esquecida nas listas de maiores discos de todos os tempos.

    Depois deles, um monte de gente fazia exatamente o que eles haviam feito, sem nunca talvez sequer ter ouvido falar deles.

    Tiago Superoito respondido:
    abril 27, 2011 às 3:30 pm

    Clube da Esquina poderia ter entrado sim, Mário. Minha mãe ouvia tanto esse disco que memorizei todas as faixas. Mas tive que escolher só um ‘disco-da-minha-mãe’ e quem ganhou foi Construção, do Chico Buarque. O do Secos e Molhados é ótimo, mas não entraria nesta lista aqui (certamente na dos melhores discos brasileiros).

    Em Ritmo de Aventura também é 10, mas não entra aqui.

    Vicente disse:
    abril 28, 2011 às 2:32 pm

    Relaxa, Tiago. Ele que faça a lista dele com Acabou Chorare dentro.

    Tiago Superoito respondido:
    abril 28, 2011 às 2:35 pm

    Isso aí, Vicente. Mandou bem.

    dh disse:
    maio 1, 2011 às 8:33 pm

    Disco fodão do Jusker Du. Só não entendo tanto o culto ao New day rising. Eu acho o Flip your wig tão melhor que ele!

    dh disse:
    maio 1, 2011 às 8:34 pm

    HUSKER*

    haha.

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