Superoito express (35)
Zonoscope | Cut Copy | 7.5
O terceiro do Cut Copy é daqueles discos dedicados, espaçosos, que cobram nossa atenção pelo menos por uma noite inteira (a última faixa tem 15 minutos e se chama Sun God). Nota-se que os australianos estão aflitos para iniciar um relacionamento sério com público & crítica, mais ou menos como a garota que convida o namorado para jantar e prepara uma paella com cinco opções de sobremesa. E lá está o sujeito empapuçado, esparramado no sofá, pensando: “mas não precisava tanto…”
Uma das músicas atende por Blink and you’ll miss a revolution, e esta é uma prova de que os chapas — apesar da aflição — têm bom humor. No mais, estamos lidando com caso tardio de “tensão do segundo disco”, em que um novato bajuladíssimo se vê obrigado a honrar um álbum que nos conquistou lentamente, que roeu corações pelas beiradas (o ótimo In ghost colours, de 2008). Missão inglória. Mas taí.
Primeira consequência, inevitável: Zonoscope é mais gordo que o anterior, com um cenário mais vasto (a capa tem um quê apocalíptico) e novas combinações de referências dos anos 80 e 60 — de uma vez por todas, eles se esquivam de rótulos como “electropop” e “indie dance”. A primeira metade soa mais fluente do que a segunda; que, por sua vez, se aproxima das colagens de James Murphy (eletrônica pelo ponto de vista de fãs de rock). Mas, ao mesmo tempo, ele confirma uma banda que quer abraçar o mundo (Take me over é descaradamente um candidato a sucessor de Take me out, do Franz) e, ao mesmo tempo, soar imprevisível (a psicodelia de Where I’m going lembra outra banda australiana, o Tame Impala). Ben Allen, produtor de Animal Collective e do Deerhunter, faz a mixagem — talvez o responsável pela camada de poeira sonora que faz do disco um set turvo, dopado.
Muita gente vai elogiar (e esse tipo de esforço merece ser reconhecido), mas não vou esconder: é um álbum que me agrada quando relaxa os músculos — a parte final de This is all we’ve got, por exemplo, é uma lindeza. Deixa uma ótima impressão (e sim, vieram para ficar), mas… Não precisava tanto.
Dye it blonde | Smith Westerns | 7.5
No primeiro disco, de 2009, havia faixas como Dreams, Girl in love, Be my girl e My heart. No segundo, Weekend, Fallen in love, Smile e Dance away. Só pelos títulos, já se percebe que este quarteto de Chicago ainda não acordou de um sonho bom. E impressiona como eles conseguem prolongar este verão: Dye it blonde é um disquinho jovial de glam, power pop e certa melancolia teen (os integrantes têm entre 18 e 20 anos) que soa tão coeso, tão autoconfiante quanto a estreia do Pains of Being Pure at Heart, por exemplo, ainda que muito mais doce. E pode parecer simples, mas é algo raro — um álbum que soa muito agradável, mas nunca nos provoca com golpes de fofura barata. Várias doses por dia e aposto que dá espinha.
Ventriloquizzing | Fujiya & Miyagi | 6
Nos dias bons, Fujiya & Miyagi gravou faixas que soam como um Kraftwerk movido a antidepressivos — versos singelos, disparados como slogans publicitários, com texturas se sobrepondo de 15 a 15 segundos. É um modelo que ainda não me entedia (há pelo menos um grande momento neste quarto disco, Sexteen shades of black and blue), mas ele ainda não dá conta de justificar um disco inteiro. E, sinceramente, não sei se a situação melhoraria se eles decidissem lançar uma compilação com as melhores faixas da carreira: ainda assim soaria repetitivo, como se a primeira faixa fosse o suficiente. Em pílulas, no entanto, soam adoráveis.
Kills | jj | 6
Uma mixtape estranhíssima da dupla sueca, que sampleia quase didaticamente canções que conhecemos muito bem (Kill you, por exemplo, chupa Paper planes, da M.I.A., já batidíssima; também tem Power, do Kanye West) e vai “matando” uma a uma. Não conta como um álbum “oficial”, e esse tom de brincadeira deixa a banda mais livre para cometer todas as loucuras possíveis. Mesmo com tanta liberdade, não consigo encontrar muitas faixas realmente matadoras (perdoem o trocadilho), e em muitos casos a anedota não surte o efeito que eles desejam. De qualquer forma, uma banda capaz de tudo.
fevereiro 1, 2011 às 9:46 pm
Comprei bonito as experiências de Zonoscope, achei muito bom. Me incomoda pouca coisa. Para mim a única coisa que o diferencia de In Ghost Colours, é que o segundo disco deles tem canções mais fortes e o novo vive do coletivo. Me agrada demais esse climinha meio auto-irônico que a banda adota pra ir destilando alguns clichês, mas isso eles já faziam no anterior e só fazem reforçar aqui.
Dei 8 pro disco, de qualquer forma.
fevereiro 1, 2011 às 10:30 pm
Chapei com o do Smith Westerns, bom demais.
fevereiro 1, 2011 às 11:24 pm
Concordo com você, Pedro. O disco novo foi pensado pra soar como uma unidade. Mas acho que ele cansa um pouco na segunda metade. É muito bom, quase dei 8 também, mas fico desconfiado quando simplesmente não tenho vontade alguma de retornar a certas canções. Vamos ver. Pode ser que ele vá ganhando força. Mudar de ideia, por aqui, não é crime. :)
Eu SABIA que você ia gostar, Daniel!
fevereiro 2, 2011 às 12:30 am
Poxa.. eu adorei o disco do Fujiya & Miyagi!
Vc argumentou q o disco soa repetitivo.. Pode até ser, mas isso pq os caras são fortemente influenciados pelo krautrock!
Então acho q vale a pena se permitir nessa proposta deles; mtas vezes parece pop por causa dos ritmos dançantes, mas é cheio de conceito e experimentação!
Enfim, de qq forma, respeito sua opinião! :)
fevereiro 2, 2011 às 12:40 am
Valeu, Vivi. Eu gosto do disco. 6 é uma boa nota. Acompanho os caras. Já vi shows. Gosto. Abri a mixtape de dezembro com uma música deles. Mas acredito que eles ainda não conseguiram gravar um grande álbum, talvez por uma limitação que existe no estilo deles. Abraço!
fevereiro 2, 2011 às 12:51 am
O Smith Westerns é o tipo da banda q explica o porquê do rock estar sempre em constante renovação.
Pra cada banda q sai de cena, tendo já dado tudo o q podia dar (ex. Interpol) surge(m) outra(s), cheia(s) de vida, como Smith Westerns.
(Não comparando uma com a outra, lógico, é só um exemplo).
fevereiro 2, 2011 às 12:54 am
Sim, e é uma banda muito jovem. Cheia de vida. Então dá gosto ouvir.
fevereiro 2, 2011 às 3:42 am
Take Me Over é Men At Work, pô.
fevereiro 2, 2011 às 3:42 am
E vocês falando que o último foi feito para soar como uma massa só me confundem. Pra mim o anterior é que soa assim.
fevereiro 2, 2011 às 8:46 am
Sim, ela lembra Men at Work mesmo. Mas eu estava pensando no refrão.
Diego, pra mim o anterior soa como uma coletânea. É diferente.
fevereiro 2, 2011 às 7:57 pm
Pra mim soa como um disco bem coeso. Mais do que esse.