Os discos da minha vida (20)
Semana delicadíssima para a saga dos 100 discos que estouraram o champanhe da minha vida: entre as festas de Natal e ano-novo, muita gente bronzeada está tirando férias, viajando, curtindo a praia, desligando computadores, afogando pen-drives e respirando ar puro. O que é triste: este blog, que costuma receber cinco ou seis visitas diárias, já se sente muito só.
Os que saíram pra curtir a vida vão perder um capítulo especialmente inspirado desta série interminável de posts. Vale por um dia inteiro de sol, mate leão e sanduíche natural (ok, não vale tudo isso, mas vamos fazer de conta que sim).
Por coincidência (e tudo aqui é mera coincidência, reparem), dois discos que me pegaram mais ou menos na mesma época, quando eu era um garoto de 14 anos que amava os Simpsons e a revista Rolling Stone.
Sim, eu vestia camisas de flanela meio pobretonas, adquiridas na C&A. Mas as coisas não eram tão estereotipadas assim (e o outro disco do post mostra que havia algo de complexo naquele tempo bom que não volta nunca mais).
062 | In utero | Nirvana | 1993 | download
A primeira audição foi um terremoto. Minha irmã trancou a porta do quarto, minha mãe avisou que eu estava passando dos limites e meu padrasto me chamou para uma conversinha. Eu mesmo demorei para sobreviver a um disco que soava como uma cirurgia dentária (sem anestesia). Era uma época em que as bandas de rock disputavam para ver quem gravaria o álbum mais enfezado. Kurt Cobain, mais uma vez, venceu. In utero registra com secura (saudades de você, Steve Albini!) o pessimismo dos depressivos, a agonia dos suicidas, a aflição dos obsessivos. Síndromes de uma geração. “A fúria adolescente rendeu muito bem, agora estou entediado e velho”, Cobain admitiu, aos 26. Era como nos sentíamos: velhos, e cedo demais. Top 3: Heart-shaped box, Serve the servants, Pennyroyal tea.
061 | Paul’s boutique | Beastie Boys | 1989 | download
O disco que adaptou o Beastie Boys aos anos 90 (Check your heads, de 1992) me levou a este álbum de 1989 que é, talvez sem chance de discussão, o manifesto do trio por uma colagem pop sem freios ou vergonha na cara. O medley final, B-boy Bouillabaisse, cria uma conexão entre o hip-hop dos anos 1980 e o lado B de Abbey Road, dos Beatles. Por que não? Produzido sem os padrões de polidez da época (saudades de vocês, Dust Brothers!), o disco é uma confusão de samplers e hinos adolescentes que primeiro nos sufoca e depois nos deslumbra. Uma prévia para Odelay, do Beck, e para todos os outros discos pop dos anos 1990 e 2000 que fizeram da reciclagem (e do contrabando de ideias) uma arte. Top 3: Hey ladies, Shake your rump, Shadrach.
dezembro 27, 2010 às 3:24 pm
Haha, sua lista está ficando muito boa, acredito que quando chegar nos primeiros lugares vai ficar parecida com as minhas primeiras posições. Sinceramente, me pegou de surpresa ver o Nirvana tão rápido assim na sua lista (vai ter outro?), mas In Utero é o meu preferido deles. Por mais clichê que isso seja, eu fiquei realmente antenado em música a partir de uma tarde de domingo que estava na casa de uma tia e comecei a vasculhar a coleção de cds. Achei um Nevermind todo empoeirado e levei pra casa pra ouvir… a partir daí ninguém mais me segurava, fui descobrindo mais e mais artistas hehe.
dezembro 27, 2010 às 4:14 pm
Vai ter mais Nirvana na lista, Pedro. Aguarde aí.
dezembro 27, 2010 às 4:21 pm
Adoro o Paul’s Boutique, mas Nirvana é uma banda que nunca consegui gostar.
dezembro 27, 2010 às 4:26 pm
Minha mãe pergunta por minha sanidade mental quando ouço Nirvana também e se estou querendo pular da janela quando ouço Portishead, hahaha.
In Utero é importante pra mim também, foi um dos primeiros discos de rock que eu conheci (apesar de tê-lo conhecido por partes) e meio que me mostro o que um riff de guitarra podia fazer. Aliás, acho o disco completamente assombrado pelo suícidio dele, da agressividade ao conteúdo das letras. Discão.
dezembro 27, 2010 às 4:41 pm
Nirvana era uma das minhas bandas preferidas da adolescência, Daniel. Raramente volto a ouvir esses discos. Eles trazem milhões de lembranças, é até dolorido.
Pedro, quando lembro que eu ouvia esses discos num quartinho de apartamento, eu mesmo me impressiono! haha. Era uma barulheira infernal. Entendo meus pais perfeitamente.
dezembro 27, 2010 às 5:58 pm
Yay
dezembro 27, 2010 às 6:23 pm
??
dezembro 27, 2010 às 7:32 pm
Os dois discos também foram um marco na minha adolescência. O mais engraçado é que quando eu comecei a ouvir, nem tanto Nirvana, mas Beastie Boys meus amigos nem faziam idéia do que era.
Acho que a minha vida musical sempre foi antiga e a cada dia que passa quando alguém vasculha nos meus arquivos sempre surge aquela cara de ” que isso?”.
Agora Nirvana é clássico da adolescência, seja ela estereotipada ou não.
Abraços
dezembro 27, 2010 às 7:39 pm
Pois é, Lau, acho que Nirvana sempre será uma banda de adolescência. Esse sensação de que está tudo por um fio, que basta um empurrão e o mundo acaba. O ‘In utero’ tem muito disso (e discos como ‘Closer’, do Joy Division, ou ‘Pink moon’, do Nick Drake, ou até o ‘Mellon Collie’, do Smashing Pumpkins, os do Elliott Smith etc).
dezembro 27, 2010 às 8:21 pm
Tiago, rapaz, acompanho seu blog há um certo tempo, mas ainda não tinha vindo à caixa de comentários. Faço isso agora, então.
Descobri o Nirvana com o In Utero – com Pennyroyal tea, mais especificamente – e, por mais que o Nevermind seja meu favorito da banda (e um dos discos da minha vida, aliás), esse é muito especial pra mim. Tem toda aquela aura da adolescência, da raiva, da vontade de começar a quebrar tudo. Te confesso que já fiquei a ponto disso ouvindo o disco, haha. Definiu meu gosto pra música da mesma forma como Pierrot le Fou (meu filme favorito) definiu pra cinema. Bateu até vontade de ouvir de novo.
dezembro 27, 2010 às 8:26 pm
Taís, Pierrot le Fou é meu segundo filme preferido. O primeiro é Um Corpo que Cai, do Hitchcock.
E In Utero é o grande disco sobre a Vontade de Quebrar Tudo, hahaha.
Volte sempre à caixa de comentários. Fãs de Pierrot le Fou têm acesso VIP e ganham brinde no fim do mês. :)
dezembro 28, 2010 às 2:35 pm
In Utero, definitivamente um mergulho em queda livre, de cabeça e sem para-quedas. A resposta de Kurt Cobain a Nevermind – e a tudo q ele desencadeou – e é claro q a Geffen não gostou nem um pouco.
Lembro dos rumores da época, muita gente apostando q o disco jamais veria a luz do dia. Pois ele viu, e contém algumas canções clássicas do Nirvana.
Aproveitando q a discussão derivou pro cinema (e eu tbm sou fã ardoroso de Um Corpo Que Cai, o melhor filme do Hitchcock), o q vc achou do Last Days, Tiago?
dezembro 28, 2010 às 2:40 pm
Também lembro desses rumores, Daniel. O lançamento do disco foi um caos.
Sou suspeito pra falar, gosto muito dos filmes mais “pós-rock” (digamos assim) do Gus Van Sant. ‘Elefante’ é, pra mim, o melhor da década. E ‘Last days’ tá quase no mesmo nível. Mas não vejo muito como um filme sobre o Kurt Cobain, acho que muita gente ficou na expectativa de uma cinebio e quebrou a cara… Ele me lembra muito a atmosfera daquela época, parece que é um filme sobre os fantasmas dos anos 90. Tem uma cena ótima com o clipe do Boyz II Men passando na tevê, você lembra?
dezembro 29, 2010 às 8:29 pm
Lembro sim dessa cena, eu vi o filme algumas vezes. Realmente ele não tem a menor pretensão de lançar alguma luz sobre o q realmente aconteceu a Kurt Cobain, está longe de ser uma cinebiografia.
Achei interessante uma entrevista com o Michael Pitt em q ele dizia – bem, pelo menos eu entendi assim – q não via Last Days como um filme sobre Kurt Cobain, mas como um filme para Kurt Cobain. Acho incrível a interpretação dele, considerando-se q praticamente tudo ali era improvisado.
Tbm adoro Elefante e ele tem muito em comum com Last Days.
dezembro 29, 2010 às 8:31 pm
A interpretação dele é muito boa, gosto bastante.
dezembro 29, 2010 às 12:58 am
O disco IN UTERO é foda. E as letras pra mim mostram que Kurt Cobain é o Augusto dos Anjos do rock. Pra mim é mais do que um disco pra se quebrar tudo. É um vômito embalado em papel de presente que incomoda o nosso espírito. Mas que de vez em quando a gente gosta de voltar a experimentar. Por que a gente tem um quê de masoquista também (vide “Rape me”). Engraçado que algumas faixas eu só fui gostar muito mais tarde, como “All apologies”. Eu adoro a guitarra cheia de pus dessa canção hoje. Mas quer enlouquecer vizinho ou fazerem chamar a polícia pra vc? Só pôr “Scentless Apprentice” no volume máximo!! E aproveita pra marcar consulta com o otorrino!!Yeaaah!!!
dezembro 29, 2010 às 1:21 am
Sim, era ‘Scentless apprentice’ que provocava os grandes problemas aqui em casa, haha.