(segunda-feira, saída do trabalho, 19h)
Ele: Tiago, eu acho tudo isso uma coisa estranha. Cê era um cara tão fechado, tão na sua, ninguém nem queria saber sobre a sua vida. E agora taí, contando tudo, se abrindo pra todo mundo, desabafando, se arrastando. Te digo um negócio: cê tá sofrendo. Tá sofrendo. Tá na sua cara, olha aí.
Eu: Não sei.
Ele: E cê tá sofrendo porque ainda gosta dela. Ainda gosta dela. Cê criou uma explicaçãozinha racional pra não ter que encarar o fato de que ainda gosta dela. Criou e até acha que tá se dando bem, se convencendo de que tá tudo melhorando, de que tomou a melhor decisão, de que pegou o caminho certo.
Eu: Não sei.
Ele: Mas é. É, e eu vivi um lance parecido. Ainda tô vivendo. E só passei a me sentir bem comigo mesmo quando percebi que eu gosto dela de verdade. Eu gosto dela, porra. E foda-se, velho, se ela acabou de se mandar pro Rio, se ela tá com outro, se ela desencanou geral. Foda-se, não ligo, eu gosto dela. Me fodi, entende? Me fodi bonito. Mas claro: uma coisa é gostar e ficar batendo a cabeça na parede, a outra é gostar e assumir que não tem mais jeito. E aí você tenta seguir em frente.
Eu: Não sei.
Ele: Ou se esborracha. Mas aí é opção sua, sacou? Aí é você decidindo sobre a sua vida. E você não quer ficar preso numa merda de uma relação que já morreu, quer? Eu decidi que, porra, elas que esperem. Não vou ficar que nem um cachorrinho. Vou ficar quieto. Não vou atrás de mulher pra casar, e você sabe que elas já vêm com aliança na porra do meu dedo. As prioridades são outras. Vou trabalhar, ganhar dinheiro, comprar meu apartamento, focar, focar. Minha independência, entende? Eu queria era nunca ter entrado naquela merda daquela relação. Cinco meses no esgoto. Mas eu gosto dela, cara. Eu gosto dela. E você também tá nessa lama que dá pra perceber.
Eu: Não sei.
dezembro 8, 2010 às 12:15 am
Tiago,
Não te conheço, mas li o teu post que twitaram no outro dia. Aquele da carta pro amigo distante.
Enfim. Escrevo aqui porque passei por algo semelhante anos atrás. E me identifiquei bastante com a angústia que vc descreveu ali. Queria dizer uma coisa importante pra ti: rapaz, confia, você sobrevive :-)
No meu caso, fui eu quem terminou o namoro. Mas foi uma decisão bem desgastante pra mim. Sou do tipo que procrastina, que é difícil de se decidir. Mas o namoro (de 3 anos) estava tão auto-destrutivo, tão desgastante, que não tive saída senão acabar com aquilo.
Antes de terminar, tive até crises de pânico. A barra foi brava. Depois do término, bateu a depressão. E tive ainda que lidar com as crises de medo, pânico, que continuavam. Ninguém entendia, muito menos eu, que eu continuasse sofrendo. Afinal, tinha sido minha vontade romper, eu tinha decidido aquilo.
Mas nada é tão simples. Depois de viver algo importante, durante um bom tempo, foi difícil ver tudo terminando. O futuro era incerto. Veio junto uma crise vocacional (o que faço da minha vida?) e outra existencial (essa porra toda faz sentido?). Medo, medo.
Hoje penso na frase do Rob Flemming, do Alta Fidelidade: “Somente pessoas de 26 anos são capazes de imaginar que sua vida não tem mais futuro aos 26 anos”, ou algo assim :-)
Enfim, de novo, só escrevo porque, naquele tempo, o que eu precisava era ouvir alguém dizendo que, sim, tudo aquilo ia passar. E, surpresa, chegou uma hora, mais depressa que eu imaginava, que tudo passou.
Pode levar tempo, porém. Demorei um bom semestre pra ficar nos trinks. É preciso ter paciência.
Algo que me dava força era pensar que, putz, aquele ser deprimente e deprimido não era eu. Pensar que se um dia eu já tinha sentido o gosto pelas coisas, caramba, eu ia voltar a sentir aquilo novamente.
Hoje estou aqui, 9 primaveras depois, com os citados 35 anos. Posso garantir que muitas dúvidas ainda continuam, mas, veja só, até me casei :-) Com outra garota, claro, ehehe. E foi a melhor coisa que já fiz. A que mais tive certeza em fazer. E já se vão quase três anos.
É isso. Curta sua deprê, meu caro, mas nunca deixe de acreditar que você vai sair dela. Mais cedo ou mais tarde. Como eu disse – confia, vc sobrevive :-)
E desculpe pelo desabafo aqui.
dezembro 8, 2010 às 1:56 am
André, não precisa pedir desculpas. A casa é sua, desabafe o quanto quiser. Este blog também é uma experiência terapêutica. :)
Cara, acho muito importante conhecer essas histórias com finais felizes pq hoje me sinto desnorteado, sem saber muito bem pra onde ir ou o que fazer da minha vida. Os posts deste blog são polaroides do meu cotidiano, daí que eles acabam me flagrando em poses não muito agradáveis (e não sou nada fotogênico, pra piorar). Espero que, em alguns meses, eu consiga voltar aos posts antigos para dar risadas e perceber que eu era um sujeito mais ingênuo naquele distante 2010.
Mas também acredito que, apesar de traumático, esse período pós-separação acaba aguçando minha percepção em relação a algumas coisas: ao comportamento das pessoas, aos relacionamentos, às expectativas que se cria para a vida, aos planos que se faz… Acho que essa pausa (por tempo indeterminado, daí a agonia) vai fazer com que eu consiga finalmente encarar o meu rosto no espelho. Namoros nos confortam, nos aquecem e, às vezes, nos acomodam.
Estou esperançoso, pelo menos um pouco. Os posts são tristes pq não sou de aço. Sofro – e esses momentos de sofrimento me ensinam coisas que eu não conhecia. Tomara que tudo isso passe rapidamente (e é legal saber que, no seu caso, passou; outros amigos também me aconselham a esperar, contar até 10, relaxar etc), mas eu ainda estou no breu.
Abraço! E escreva quando quiser.
dezembro 8, 2010 às 2:25 am
É, eu tomei um belo pé na bunda faz um tempinho. E um namoro de quase 3 anos acabou.Mas se eu ainda gosto dele? Não, tenho até aquela aflição de pensar nele me tocando. Se dói ainda? Também não.
Não vou mentir que ate hoje me sinto um pouco desnorteada. E já faz mais de um ano que acabou. Engraçado é que depois que terminou tive coragem de ir atrás de um monte de coisa da minha vida, mas isso não me fez nem mais feliz e nem mais triste.
Depois de um tempo mesmo sem a dor pra mim ficou aquilo de ” E agora?”. Ainda fica um pouco, mas aos poucos me dei conta que já eram dúvidas que eu tinha mas o relacionamento me distanciava delas, eu nunca soube de fato o que queria da minha vida ou o que eu era. Era fácil pensar e agora?” e depois, mas eu estou com ele vai tudo dar certo. E hoje é ” e agora?” e só estou comigo, tomando conta de mim mesma.
E aí vai outra coisa que aconteceu comigo, eu percebi que na realidade sempre estive sozinha, comigo mesma, e aquela segurança de ter alguém do lado era apenas uma ilusão, pois no fundo ele tinha seu próprio mundo e sempre será assim em qualquer relacionamento, dividimos certas coisas, mas sempre estamos sozinhos.
Enfim, isso foi comigo. E pra cada um é diferente. Acho que a gente cresce, se pergunta mais e descobre algumas coisas.
Alguma coisa mudou, não é tudo mais colorido… Mas sabe? não era antes também.
Tiago sei que as minhas palavras parecem pessimistas, mas se você ainda sente dor, vai passar. Surgirão dúvidas e você vai tentar responder. Quando você imagina a pergunta, procura a resposta. E por fim vai se conhecer um pouquinho mais do que antes, e isso pode ou não ser bom, mas é conseqüência, e tudo depende de como você vai levar.
Espero que tudo dê certo pra você, tenho certeza que muitos leitores aqui do blog querem o mesmo!
Abraços
dezembro 8, 2010 às 12:41 pm
Lau, acho que você entende o que eu sinto: cada vez gosto menos da minha ex, mas o que ficou foi essa sensação de que algo está perdido, de que não sei pra onde ir.
Mas concordo com você: muitas dessas questões existiam na época do namoro, mas a ilusão do relacionamento acabava compensando essas dúvidas. Também noto que sempre estive sozinho, mesmo quando convivia quase 24 horas por dia com ela. Acabei adiando decisões que eu devia ter tomado aos 26, 27 anos.
Talvez por isso as pessoas sintam toda essa angústia quando estão solteiras – querem voltar pro casulo confortável que é um relacionamento.
Não acho que o seu ponto de vista seja pessimista. A vida é isso aí: nem tão feliz, nem tão triste.