Dia: dezembro 7, 2010
(segunda-feira, saída do trabalho, 19h)
Ele: Tiago, eu acho tudo isso uma coisa estranha. Cê era um cara tão fechado, tão na sua, ninguém nem queria saber sobre a sua vida. E agora taí, contando tudo, se abrindo pra todo mundo, desabafando, se arrastando. Te digo um negócio: cê tá sofrendo. Tá sofrendo. Tá na sua cara, olha aí.
Eu: Não sei.
Ele: E cê tá sofrendo porque ainda gosta dela. Ainda gosta dela. Cê criou uma explicaçãozinha racional pra não ter que encarar o fato de que ainda gosta dela. Criou e até acha que tá se dando bem, se convencendo de que tá tudo melhorando, de que tomou a melhor decisão, de que pegou o caminho certo.
Eu: Não sei.
Ele: Mas é. É, e eu vivi um lance parecido. Ainda tô vivendo. E só passei a me sentir bem comigo mesmo quando percebi que eu gosto dela de verdade. Eu gosto dela, porra. E foda-se, velho, se ela acabou de se mandar pro Rio, se ela tá com outro, se ela desencanou geral. Foda-se, não ligo, eu gosto dela. Me fodi, entende? Me fodi bonito. Mas claro: uma coisa é gostar e ficar batendo a cabeça na parede, a outra é gostar e assumir que não tem mais jeito. E aí você tenta seguir em frente.
Eu: Não sei.
Ele: Ou se esborracha. Mas aí é opção sua, sacou? Aí é você decidindo sobre a sua vida. E você não quer ficar preso numa merda de uma relação que já morreu, quer? Eu decidi que, porra, elas que esperem. Não vou ficar que nem um cachorrinho. Vou ficar quieto. Não vou atrás de mulher pra casar, e você sabe que elas já vêm com aliança na porra do meu dedo. As prioridades são outras. Vou trabalhar, ganhar dinheiro, comprar meu apartamento, focar, focar. Minha independência, entende? Eu queria era nunca ter entrado naquela merda daquela relação. Cinco meses no esgoto. Mas eu gosto dela, cara. Eu gosto dela. E você também tá nessa lama que dá pra perceber.
Eu: Não sei.
Os discos da minha vida (18)
Todos nós sabemos como funciona esta saga: 100 discos, dois por semana, critérios estritamente pessoais (e duvidosos), muito draminha, alguma nostalgia, piadas infames e quase nenhum bom senso.
Os posts recentes deste blog (e incluo à lista este aqui) serão armazenados numa cápsula, a ser enviada a um planeta distante. Objetivo da experiência: permitir que os extraterrestres tenham alguma ideia do quão patético é um sujeito de 31 anos, recém-separado, sentimental até os ossos, vivendo dias de cão. Certeza de que os ETs se reuniriam pra beber cerveja e dar umas risadas.
Mas voltemos ao leite derramado: neste capítulo do reality show, dois discos joviais e um tantinho alienígenas – que prestariam um serviço muito digno se enviados a um planeta bizarro. Terráqueos são ok.
066 | Discovery | Daft Punk | 2001 | download
Um disquinho terrivelmente eufórico e otimista (composição: hormônios, energético e sorvete de morango) que recupera algo que perdemos na infância e nunca teremos de volta. Subestimado à época do lançamento (afinal, todos esperávamos do Daft Punk algo muito mais sério, muito mais importante), o álbum conseguiu de alguma forma colaborar decisivamente para as curvas suaves e o tom levemente irônico que compõem o design do pop no século 21 (vide Kanye West, Cut Copy, Phoenix etc). Mas tudo isso é bobagem. Quem se importa com o futuro da música pop, né mesmo? O que nos interessa é como esses dois franceses criam um mundo de plástico que nos rejuvenesce todas as vezes em que voltamos a ele. Tem algo mágico aí. Top 3: One more time, Harder better faster stronger, Digital love.
065 | Os Mutantes | Os Mutantes | 1968 | download
Geralmente acontece de os meninos e meninas descobrirem os discos do Mutantes quando vão fuçar na estante da sala, entre os vinis antigos do papai. Comigo foi diferente: sem influência familiar ou dicas de amigos (meus pais não são bacanas o suficiente), acabei me aproximando do trio numa época em que minha imaginação era sombria demais para embarcar nos jogos juvenis de Arnaldo, Rita e Sérgio. Tentei, perdi, depois tentei novamente. Foram os álbuns do Jorge Ben (e ele vem aí, aguardem) que me explicaram sobre as traquinagens dos Mutantes. Mas há uma diferença aí: enquanto Jorge inventa tudo quase sem perceber, instintivamente, os três se aventuram com muita esperteza – de olhos bem abertos, armas afiadas – no matagal do pop tropicalista. É, no mais, um disco que nos ensina a brincar seriamente com a música, esse passatempo que salva as nossas vidas. Top 3: A minha menina, Baby, Panis et circences.