Os discos da minha vida (17)
A saga sangrenta dos 100 discos que cravejaram balas na minha vida chega a um episódio especialmente nervoso: neste momento, tenho muito, muito, muito pouco tempo para escrever sobre qualquer coisa. O blog, vocês sabem, é o que acontece enquanto faço outros planos.
Ironicamente, poucas, poucas, poucas coisas previsíveis acontecem na minha vida. Eu poderia escrever cinco ou seis posts longos, chorosos e surpreendentemente otimistas sobre o mundo, o novo cinema brasileiro, o amor, meu dedão do pé e tudo o mais. Poderia, mas neste momento não posso.
O que posso (ainda que muito apressadamente) é empurrar esta carroça aqui e apresentar mais dois disquinhos que fizeram da minha existência um lugar menos… Ah, sério, sem tempo hoje para clichês.
068 | Dusty in Memphis | Dusty Springfield | 1969 | download
Já escreveram tantos textos sobre este disco que tudo o que me resta é virar a lente para o meu umbigo. Foi a trilha de Pulp Fiction que me levou a este álbum — e admito que, num primeiro momento, não entendi nada. Me parecia polido demais, sem fissuras e arestas. Anos mais tarde, aos vinte e pouco, descobri um álbum pop perfeito, que agora soava exato, sem sobras ou deslizes. Mas foi só aos 30 que compreendi os efeitos da voz de Dusty, que nos transporta para um mundo ao mesmo tempo tão longe e tão perto das tradições da soul music americana. Algo que muita gente tentou reprisar (Cat Power em The greatest, por exemplo), mas não há como: esta jornada é só dela. Top 3: Just a little lovin’, Son of a preacher man, Just one smile.
067 | Sea change | Beck | 2002 | download
Será, para sempre, o álbum incompreendido de Beck Hansen. Talvez (e acredito cada vez mais nessa hipótese) por ser o disco que nunca quisemos que ele gravasse. É mesmo constrangedor notar que nosso ídolo, o loser que venceu a indústria, também é uma criatura instável, frágil, que sofre com o amor e desabafa para as paredes — mais ou menos como nós. Na época do lançamento, os críticos mais corajosos compararam a Blood on the tracks. Mas, francamente, não chega perto: o Dylan mais rancoroso não soa tão desamparado quanto este homem exaurido, descrente nas pessoas e nos romances, incapaz de romper uma bolha de melancolia, que regurgita Gainsbourg e Nick Drake em solidão. Um disco errado, que talvez nem devesse ter chegado às lojas. Mas chegou: e, assim como está, soa como um registros mais sinceros, mais pungentes do mundo. Top 3: Guess I’m doing fine, Round the bend, Lonesome tears.
novembro 29, 2010 às 6:13 pm
Você fala tanto de Sea Change, que achei que estivesse melhor ranqueado. Estaria em uma provável lista minha também.
novembro 29, 2010 às 7:57 pm
Opa! Mais dois pra minha coleção. Com esses textos tão animadores, fica difícil não ficar curioso para conhecer os álbuns completos.
novembro 30, 2010 às 12:30 am
Não sei porque mais sempre que você posta alguma parte da sua lista eu fico esperando um disco do Radiohead ou do Nirvana, hahaha.
Não conheço nenhum dos dois, mas acho que já ouvi “Son of a preacher man” um milhão de vezes quando eu era mais novo.
novembro 30, 2010 às 11:38 am
Ah, Dusty in Memphis… qualquer pessoa minimamente inteligente que ouvir o disco vai achar um dos maiores do mundo, tenho certeza disso.
Mas não gosto de Beck, hehe. Nunca ouvi Sea Change.
novembro 30, 2010 às 12:27 pm
Felipe, ainda tem muita coisa boa pra aparecer na lista.
Ailton, baixe os discos. Vale a pena.
Pedro, calma aí que eles já chegam, hehe.
Daniel, vc não sabe o que está perdendo.
novembro 30, 2010 às 3:18 pm
Nossa, Dusty. Uns 10 anos que não ouço.
novembro 30, 2010 às 4:30 pm
Este é um blog vintage, Diego.
novembro 30, 2010 às 7:42 pm
Na minha opinião Sea Change é um dos grandes álbuns da nossa época. Embalou o final da minha adolescência!
dezembro 1, 2010 às 2:49 am
feliz de ver dusty aqui.
quero saber uma coisa: teremos joni mitchell alguma hora?
dezembro 1, 2010 às 2:53 am
iradíssimo você ter lido homem do castelo alto. tá altão na minha lista de prioidades este. achei inclusive a capa duma edição eslovaca (acho) do livro, uma capa genial.
tô pra começar um projetin’, 52 livros. né original, não. 52 livros lidos em 2011, veneta style, escolhe e lê, sem planejamento. bora, acha que consegue?
bora bora.
eu, te coagindo. bora bora.
dezembro 1, 2010 às 8:00 pm
Marcell, espero que a nossa geração faça justiça e não esqueça do disco.
guilherme, não vou estragar a surpresa.
52 livros? puts, não tenho tempo pra ler tudo isso. e gosto de livro grande, então fica difícil.
dezembro 2, 2010 às 12:42 am
blue blue BLUE BLUE BLUE
dezembro 2, 2010 às 12:42 am
ó a ansiedade…
dezembro 2, 2010 às 4:51 am
peguei esse álbum da dusty, só tinha ouvido o “a girl called dusty”, de ’64.
hm.
uau.