Dia: outubro 25, 2010

Drops | Mostra de São Paulo (3)

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'As quatro voltas', de Michelangelo Frammartino

Tudo vai dar certo | Alting bliver godt igen | Christoffer Boe | 1.5/5 | Numa reviravolta que só pode ser descrita como estúpida, o thriller de Boa esvazia sem piedade uma ideia mais ou menos instigante (ainda que desgastada: quantos são os filmes sobre pecados de guerra?). O estilão afetado do cineasta, com closes e cores quentes em profusão, me lembrou daquelas mobílias que encontramos em lojas caras e “sofisticadas”: design arrojado, mas pouco resistente.

A primeira coisa linda | La prima cosa bella | Paolo Virzi | 2.5/5 | Novelão italiano que soa como um contraponto melodramático (e menos imaturo) a Eu matei minha mãe, de Xavier Dolan. Tem momentos cômicos até fortes, mas por que gastar 124 minutos com o que pode ser dito em 80?

!!! As quatro voltas | Le quattro volte | Michelangelo Frammartino | 4/5 | Um dos mais elogiados na Mostra até aqui, e logo nas primeiras cenas entendemos o porquê: Frammartino compõe imagens a partir da observação de ciclos da natureza (em alguns momentos, o filme deixa a impressão de um documentário sobre os bichos e os homens de uma pequena aldeia), mas sempre com o rigor de um bom ficcionista. Uma narrativa absolutamente sob controle (e talvez polida demais, em alguns momentos): de supetão, o protagonista sai de cena; mas, na plateia, continuamos hipnotizados.

Os amores de um zumbi | The loves of a zombi | Arnold Antonin | 2/5 | Minha vontade, admito, é de elogiar qualquer fita trash haitiana que acompanhe o calvário de um zumbi romântico, perdido num país de mortos-vivos. Mas esta aqui me parece muito mais provocativa e engraçada na teoria do que na prática (imagine uma novela da TV Manchete TV Distrital de Brasília reeditada em 90 minutos; você se diverte nos primeiros trechos, se entendia logo depois). Apesar da precariedade também narrativa, não há como negar: o formato tosco (sem gore!) combina com um filme que cita Buñuel, mas parece mesmo é uma versão subdesenvolvida (e aí não vai nenhuma crítica, só uma constatação) do horror político de Romero.

PS: Comparei os zumbis haitianos às novelas da Manchete e logo depois me arrependi. Como o Rudá bem apontou na caixa de comentários, uma boa novela da Manchete editada em 90 minutos muito possivelmente renderia um filme interessante. Talvez eu tenha pensado nas novelas mais precárias da emissora, ou naquelas que são produzidas para a TV Distrital de Brasília, toscas e divertidas.

Os discos da minha vida (12)

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Diretamente de São Paulo, numa manhã ensolarada de segunda-feira, seguimos com a radiante saga dos discos que se instalaram na minha vida: os pestinhas que, às vezes sorrateiramente, chegaram e ficaram. Os 100 que eu levaria para uma ilha deserta.

Vocês sabem como funciona: os critérios para o ranking são duvidosos, muito pessoais e, por isso, nem adianta ficar pedindo por esse ou aquele disco que talvez tenha marcado a sua vida. Quando terminarmos esta louca viagem em torno do dedão do meu pé, prometo compor uma lista dos álbuns que considero os mais importantes – os que mais admiro. Mas adianto que ela não vai ter muita graça.

Os discos da minha vida é um top 100 ególatra. E isso me deixa um pouco envergonhado. Mas, para não torná-lo totalmente inútil, facilito o atalho a minhas lembranças com links de bons álbuns que, se você não conhece, deveria conhecer. Entenda assim: os links são a recompensa por sua infinita paciência, caro leitor.

Na edição de hoje (por coincidência?), dois discos que nada têm a ver um com o outro. Boa viagem.  

078 | Post | Björk | 1995 | download

Post será lembrado como o disco mais lúdico, mais colorido (a capa não mente), mais brincalhão (a palavra em inglês cai melhor: playful) de Björk. Depois dele, o céu da islandesa fecharia em cumulus cinzentos (um cenário de beleza incomum, como no  irrepreensível Homogenic). Para mim, no entanto, é um álbum memorável por outro motivo: ele resume o meu amor pelos videoclipes – um sentimento muito típico entre aqueles que viveram a adolescência nos anos 90, auge da MTV. Ouvir o disco é relembrar imagens: a graça naive de It’s oh so quiet, o preto-e-branco mágico de Isobel, o game melancólico de Hyperballad, o surrealismo pateta de Army of me; Spike Jonze e Michel Gondry. Um disco que inspira todas essas cenas inesquecíveis só pode conter, ele próprio, algo de fantástico. Top 3: Isobel, It’s oh so quiet, Hyperballad

077 | Off the wall | Michael Jackson | 1979 | download

Na minha vida, existe o Michael Jackson da infância (o branquelo marrento de Bad, que embalava os meus seis, sete anos) e o Michael Jackson de uma época em que a música já não me soava tão inocente. Foi nesse período – aos 20, 21 – que eu finalmente descobri Off the wall. Na minha adolescência, Michael era apenas um tipo excêntrico e afetado a ser combatido por meus ídolos. Depois percebi, principalmente nos primeiros discos dele, o menino amaldiçoado (já que imensamente talentoso e solitário) que se ocultava na euforia da disco music sintética. Sabemos como a tragédia termina: mas, em retrospecto, Off the wall continua a me fascinar como um dos ritos de passagem mais bonitos da história do pop: o garoto cresceu e venceu; apenas isso. Soa libertador. Top 3: Rock with you, Don’t stop til you get enough, Burn this disco out.