2 ou 3 parágrafos | Cabeça a prêmio
Quando li o livro do Marçal Aquino, lembro que pensei o seguinte: 1. o romance daria um filme muito tenso, um legítimo thriller à brasileira (os capítulos são concisos, a prosa de Aquino provoca asfixia, o Brasil que aparece no papel é imenso e desolado etc), mas 2. esse filme custaria uma fortuna e, portanto, não seria feito.
A adaptação dirigida por Marco Ricca (3/5) resolve essa questão de escopo de uma forma muito prática e, às vezes, elegante: ele achata a trama (narrada de forma linear e em menos locações), mas mantém os personagens. Também preserva uma característica muito marcante do texto, que é a aproximação com o folhetim. Todos os elementos de uma boa novela das oito estão aqui – amores impossíveis, fuga, traições, assassinatos, intrigas familiares -, mas desnudados por uma câmera seca, por uma fotografia amarelada, por um diretor que dá tempo aos atores e parece se preocupar mais com os personagens do que com o desenvolvimento da ação. Nisso, lembra um pouco o Beto Brant de O invasor.
E é essa a maior diferença que noto entre filme e livro. No filme, a narrativa é mais frouxa – talvez de propósito, talvez por inexperiência de diretor estreante. A aflição de Aquino é como que dissolvida pela montagem. Outra característica que me incomoda é que, ao tratar todos os personagens de uma forma mais ou menos igualitária, o roteiro acaba subestimando aquele que se revela um dos mais importantes da trama: o capanga de Eduardo Moscovis merecia mais tempo na tela, até para identificarmos a agonia que engata a reviravolta final. No mais, uma estreia muito mais forte e bem sucedida do que eu esperava.
agosto 20, 2010 às 1:51 pm
Vi esse filme em Florianópolis, há 2 meses atrás, dentro de um festival envolvendo produções do Mercosul. O Ricca se emocionou com a reação do público. É um filme forte, com ressonâncias de Nelson Rodrigues e Lembra O invasor… A cena da piscina é boa…
agosto 20, 2010 às 4:27 pm
Estou ainda mais curioso pra ver. Pretendo ir vê-lo amanhã! E o Ricca já vem mostrando um bom momento no cinema nacional há algum tempo.
agosto 20, 2010 às 5:42 pm
A cena de piscina é boa, ainda que eu tenha achado um pouco deslocada dentro do filme.
E o filme me lembrou não só Invasor, mas Do outro lado da lei, do Trapero.
agosto 20, 2010 às 6:49 pm
Eduardo Moscovis está bem, mais uns três filmes e tem tudo para se tornar um ator de calibre. O casal que ele faz com Via Negromonte é um dos pontos altos da história, mesmo que sub-aproveitado. Achei o final ligeiramente apressado, mas nada que comprometa a força do filme.
agosto 20, 2010 às 8:20 pm
Eu acho que, se melhor desenvolvido, o personagem do Moscovis daria mais peso ao desfecho do filme – que realmente parece apressado.