Dia: junho 21, 2010

2 ou 3 parágrafos | Toy Story 3

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Antes que perguntem: não chorei em Toy Story 3 (3.5/5). Nada, gente, lágrima nenhuma. Nem no finalzinho, que praticamente inundou o multiplex. Eu sei: a reação desapaixonada faz de mim um bruto. Mas vejam: nunca me afeiçoei aos meus soldadinhos do Comandos em Ação nem me vi obrigado a, aos 17, abandonar o ninho e transportar minhas tralhas para uma universidade da Ivy League (saí para morar sozinho, é, mas minha família está logo ali). Então este filme me parece apenas uma aventura sobre brinquedos falantes com algumas metáforas afetuosas sobre o valor da amizade (mesmo quando com seres de plástico) e doloridos ritos de passagem.

No filme, um adolescente vive um dilema: não sabe se guarda os bonecos no porão, se doa tudo para uma criancinha, se deposita os amiguinhos numa creche ou se os manda ao triturador de lixo. Enquanto isso, os bonecos entram em parafuso, coitados. Sei que esse conflito pode ser extremamente tocante e sei que ele nos diz tanta coisa sobre a aventura humana, mas preciso analisá-la com um pouco de distanciamento (tudo bem?). O que vejo no filme, acima de tudo, é a fase de acomodação da carpintaria da Pixar, com todos os truques a que tem direito. Eu já havia notado essa característica (que não chega a ser um problema) em Up – Altas aventuras, que começa maravilhosamente bem, mas acaba se acoplando a uma narrativa muito quadradinha e segura (traduzindo: eles não querem, não podem ou não sabem fazer um filme completamente lírico ou deliciosamente louco como os do Hayao Miyazaki).

Toy story 3, por isso, não me parece tão bem bolado quanto Toy story 2, apesar de funcionar (e odeio essa palavra, mas ela é muito precisa nesse contexto) muito bem, como uma máquina bem calibrada. O roteiro é todo esquemático, engraçadinho e quase tão satírico quanto as comédias da Dreamworks, com climas de fitas de presidiários (uma versão censura livre de O profeta, digamos) e cenas de ação até cruéis (se bem que a solução para o clímax tenso me frustrou completamente). Mas, apesar de ter deixado boas lembranças, o filme  me deixou com a impressão de ter visto um brinquedo sob medida, montado com peças de sucessos da Pixar: o coração mole de Up e Procurando Nemo, os hormônios de Os incríveis, a graça meio nonsense de Monstros S.A., etc. Tudo bem. Divertido até. A pipoca do ano. Mas prefiro a Pixar que deixa os diretores pintarem e bordarem: mais Brad Bird, menos Lee Unkrich.

Superoito express (na Copa)

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Destroyer of the void | Blitzen Trapper | 6

Bem, amigos do blog. A rodada de hoje começa com um time da segunda divisão que, após uma temporada de passes escandalosamente criativos (o ano de 2007, quando eles lançaram o surpreendente Wild Mountain Nation), assinou com um patrocinador parrudo (a Sub Pop) e, numa derrapada inexplicável, amargou partidas chochas, quase sempre à mercê de táticas supostamente “clássicas” (Furr, de 2008, não é digno de campeonato mundial). Em 2010, ele ainda soa como uma promessa que quase chegou lá, uma Dinamáquina empenada – um time que poderia ter erguido o caneco, mas que hoje desfila tímido e quase burocrático dentro das quatro linhas.

Destroyer of the void, com esse título pomposo, é uma seleção de jogadores que, quanto mais tentam reverenciar os mestres (Grateful Dead, Rolling Stones), mais demonstram que ainda estão a milhas do futebol-arte. Sebo nas canelas, rapazes! Falta muito treino, muita concentração, muito feijão-com-arroz para marcar um golaço elegante na tradição de Wild horses, dos Stones (eles tentam mais ou menos três vezes, sem sucesso). Ainda assim, é curioso (e uma pena! Antifutebol!) que eles queiram abandonar as divertidas peladas de outros tempos para se transformar em um time tático, correto, eficiente (quando muito) e que briga pelo empate. Poucas jogadas valem o replay, mas, quando esse tipo de milagre acontece, elas enchem os nossos olhos: Laughin lover é um baile, e a faixa-título tem um quê épico (Bohemian rhapsody?) que soa como um chute maior que as pernas. Mas um chute corajoso, ao menos.

Lazerproof | Major Lazer vs. La Roux | 7

Ah, a malandragem dos boleiros! O gol de mão! O juiz ladrão! A violência tão fascinante! Os cartões vermelhos! Os mash-ups mui picaretas! Major Lazer é o nosso Luis Fabiano e, obviamente, o gol chamado Lazerproof é duvidoso e divertidíssimo. Na mixtape, os pivetes Diplo e Switch (que atendem por Major Lazer) saqueiam o repertório da dupla inglesa La Roux (que bate um bolão) em uma seleção bizarra que soa como um encontro entre bambas da Jamaica e da Suécia. Isto é: electropop escorregadio na zaga, hip-hop de centroavante, reggae e dub no ataque. Muitas jogadas emboladas e patéticas, mas você esperava algo diferente disso? O importante é que o ML Futebol Clube cumpre o desafio de segurar nossa curiosidade até os 45 do segundo tempo e (mais espantoso ainda) mantém uma certa unidade que engrandece o álbum. É zebra, mas vai para as oitavas.

…And the Pioneer Saboteurs | Micah P. Hinson | 7

O texano é um talento individual que costuma apresentar uns balés misteriosos, curtidos em treinos secretos, e quase sempre discretos. Daí o susto (bom susto) deixado por esta quarta partida, acompanhada pela banda Pioneer Saboteurs. Antes, Micah se contentava em jogar na obscura divisão dos songwriters de country e folk alternativo. Hoje, ele disputa uma vaga no Mundial com uma estratégia muito mais aberta e moderna, a começar pelos sinistros arranjos de cordas (que perigam assombrar o adversário e render inúmeras vitórias por WO). Um dos modelos do cantor é o craque arredio Tom Waits, e aqui ele consegue encenar umas firulas teatrais muito atléticas, como se estivesse pronto para correr ao meio do estádio, ajoelhar-se no chão, erguer uma caveira e recitar Hamlet. Bonito, barroco, dramático. Aposto que, em alguma poltrona vip, um emocionado Rufus Wainwright lançou um lenço branco ao gramado.

Future breeds | Hot Hot Heat | 5

Depois de uma passagem acidentada pela liga dos campeões (pela Warner, eles lançaram Elevator, de 2005, e Happiness ltd, de 2007), os peladeiros canadenses do Hot Hot Heat voltam à várzea com um disco independente que (como era de se esperar) tenta recuperar a inocência e o frescor dos primeiros passes, dos dribles juvenis, do pé-na-lama, da camisa rasgada, da chuteira esfolada. De nostalgia, no entanto, também vivem as seleções da Itália e da França. Future breeds é assumidamente um disco “sobre a cena punk de Vancouver do fim dos anos 90” (segundo a própria banda), o que me livra de conhecer a cena punk de Vancouver do fim dos anos 90. Apesar do bla-bla-bla, o HHT continua fazendo pop punk com alguns lances sinuosos (o single 2120 é Pixies Esquema Vines), com aquele espírito alegre tão típico das seleções africanas. Mais esquecível, portanto, que discutir estatística em mesa redonda.