Thank me later | Drake

Postado em Atualizado em

Você conhece Drake? Então está na hora.

Até porque, nos próximos meses, será impossível não reconhecê-lo por aí. Nas rádios. Na MTV. Nas trilhas de cinema. O rapaz tem bons amigos (Lil Wayne, Jay-Z, Kanye West, Timbaland, The-Dream, T.I., Alicia Keys), vem no embalo do marketing da Universal Music e está prestes a lançar um disco de estreia que, se tudo der certo, o transformará num astro do R&B.

Está escrito.

O plano, aparentemente, é fazer de Drake um novo Usher, um novo The-Dream, um novo sexymothafucker (e é provável que isso aconteça). Mas, é claro, não é por isso que você precisa conhecê-lo.

Dou três motivos:

1. Na mixtape So far gone, lançada no ano passado, a terceira música é uma balada robótica, na linha do Kanye West de 808s and heartbreak, chamada Successful, que virou single e rodou até no VH1. A faixa seguinte é uma versão para Let’s call it off, de Peter, Bjorn and John. Isto é: o sujeito não ouve qualquer coisa.

2. O refrão de Successful (muito simplezinho, até: “tudo o que quero ser é bem-sucedido”) não vem embalado no tom fanfarrão típico dos novos-ricos da black music, mas, surpreendentemente, existe nele uma certa melancolia, como se o intérprete da canção soubesse que o sucesso é doce e amargo.

3. Drake é um ator de 23 anos, ex-astro teen de seriado de tevê. E canadense.

Se nenhum desses argumentos parece suficientemente forte para que você dê uma chance ao moço, então não há nada a ser feito. Provavelmente, o álbum não vai colar. Não é sua praia. Vá por mim. Não perca o seu tempo.

Para começo de conversa, o disco soa conservador: não rejeita um modelo muito típico de R&B, pelo contrário. É quase um disco-de-gênero, songs for the lovers com alguma marra hip-hop. Nada que Kanye West, The-Dream ou Jay-Z não tenham feito. E Thank me later pode até ser ouvido dessa forma: como um álbum pop muito eficiente, coleção de hits, tudo nos devidos lugares, arquive entre Justin Timberlake e Rihanna.

O instigante na história, no entanto, é como Drake pega esse formato industrial e, sutilmente, se apropria dele. Sutilmente. O tom desiludido como o vocalista – que se chama Aubrey Graham – interpretou Successful é a colcha sonora do disco. Um fantasma que está sempre lá.

Há artistas que só se decepcionam com o sucesso lá pelo quarto álbum de estúdio. Pois a primeira música de Thank me later, Fireworks, abre com versos como “o dinheiro mudou tudo” e “meus 15 minutos de fama começaram há uma hora”. Novamente, Drake soa dúbio, na contramão das estrofes: a letra celebra a boa fase, o “sonho”, mas não existe alegria alguma na interpretação. A melodia é mecânica, cheia de lacunas e ecos.

Estranho.

Felizmente, todos os produtores – e são muitos! – parecem entender esse perfil introspectivo do cantor, que vai flutuando sobre névoa de teclados e efeitos metálicos. Nas primeiras faixas (as melhores do disco), não há festa: Drake narra dramas familiares (a separação dos pais, aos cinco anos), decepções amorosas e transformações da idade adulta. O sucesso não cura nada disso, e ele sabe disso. “Do que tenho medo? Isso deveria ser meu sonho. Mas todas as pessoas olham para mim e dizem a mesma merda: ‘você prometeu que nunca mudaria'”, ele desabafa, em The resistance.

A soul music de pesadelo atinge a catarse logo na quarta música, que se chama (olha aí) Over. Nesse ponto, Drake beira a esquizofrenia. “Conheço muitas pessoas que eu não conhecia há um ano. O que aconteceu? Fizemos de tudo ontem à noite, mas não lembro de nada. O que estou fazendo? O que estou fazendo?”, ele pergunta. Em seguida, porém, muda o discurso: “Eu estou me divertindo, estou vivendo a vida, e vou continuar assim até o fim.”

O hit é narrado com uma atmosfera dramática, tensa, que os produtores Boi-1da e Al Khaliq pressionam ao limite. O videoclipe mostra Drake fuzilado por canhões de luz, sozinho em um quarto de hotel.

Já ali, na quarta faixa, dá para concluir que Drake tem o “algo mais” que falta a muitos aspirantes ao trono do R&B: o intérprete paira acima dos produtores, das canções, de tudo. O álbum soa coeso, quase uniforme, porque é um retrato do cantor (ou talvez do personagem que o ator criou para si).

Na segunda metade, esse clima asfixiante das primeiras músicas vai se dissipando, ora em faixas mais animadinhas como Find your love (produzida por Kanye West), ora quando o “padrinho” Lil Wayne entra em cena, em Miss me. Mas até aí o show é de Drake. Em Miss me, o que fica na memória não é o falatório nonsense de Wayne, mas o apelo infantil, carente do vocalista. “Você vai sentir minha falta quando eu for embora?”, ele pergunta.

Superprodução programada para cumprir expectativas de uma indústria, Thank me later equivale a uma fita de fantasia dirigida por Sam Raimi: sob os efeitos especiais, há um coração que bate.  

Primeiro disco de Drake. 14 faixas, com produção de Lil Wayne, Birdman, 40, Al Khaliq, Boi-1da, Crada, Francis and the Lights, Jeff Bhasker, Kanye West, No I.D., Omen, Swizz Beatz, Timbaland e Tone Mason. Lançamento Universal Music. 7.5/10

11 comentários em “Thank me later | Drake

    lferreiram disse:
    junho 9, 2010 às 9:59 am

    Curti a metalinguagem pulsante quase em tempo real de OVER. Haha.

    “Two thumbs up, Ebert and Roeper…”
    “One more thumb up, from Superoitowww.”

    E esse Drake bem que tem jeito de psico mesmo. Squizomothafucka.

    Tiago Superoito respondido:
    junho 9, 2010 às 10:08 am

    Over é muito boa.

    Filipe Furtado disse:
    junho 9, 2010 às 1:02 pm

    Não escutei Thank Me Later ainda (salvo por Over), mas gosto muito de So Far Gone (só não entrou na minha lista de melhores do ano porque resolvi excluir mixtapes), então é bom ler algo positivo sobre ele já perebio que reação negativa ao hype virá forte.

    Tiago respondido:
    junho 9, 2010 às 4:33 pm

    Também gosto muito de So Far Gone, apesar de achar muito longo.

    jv disse:
    junho 9, 2010 às 4:46 pm

    todo mundo que já viu Seinfeld conhece o Drake…

    Pedro Primo disse:
    junho 9, 2010 às 4:59 pm

    Gosto bastante da primeira parte, a segunda acho cansativa. Over é muito boa mesmo.

    Tiago Superoito respondido:
    junho 10, 2010 às 1:48 am

    A segunda parte é menos interessante mesmo, mas tem coisas muito boas, principalmente as duas últimas faixas.

    matt disse:
    junho 11, 2010 às 11:07 am

    parece o Adriano maloquero na capa

    Tiago Superoito respondido:
    junho 11, 2010 às 2:44 pm

    Parece mesmo.

    gabriel disse:
    junho 29, 2010 às 6:12 pm

    então tiago,drizzy é o melhor rapper q já vii
    encaixou como uma luva na young money(gravadora cujo o dono é lil wayne),junto com a nicki minaj..e isso aii ele é o melhor que ja vii…]

    ♪ | Take Care | Drake « mi nombre no es superoito disse:
    novembro 27, 2011 às 2:38 pm

    […] sensação de que o melhor já passou (e já havia passado antes mesmo do disco de estreia, Thank me later, cuja faixa principal atendia por Over), e de que não há mais sonho possível (who will survive […]

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s