Dia: maio 12, 2010
2 ou 3 parágrafos | A hora do pesadelo
Você já notou que, nos filmes de Freddy Krueger, os personagens cochilam nos momentos menos apropriados? Este remake, equivocado em quase tudo, pelo menos recupera o guilty pleasure. A menina está caminhando no corredor do colégio e, ops!, dá uma apagada. O rapazinho, no meio do exercício de natação, tira uma soneca. O fulano está prestes a morder o sanduíche quando, susto!, prega os olhos e é retalhado pelas navalhas do malvadão. Isso é o que eu chamo de fantasia mórbida. E fantasia (com um elemento perverso, sempre) é o ramo de Wes Craven, o pai da besta.
Uma pena, por isso, que este novo A hora do pesadelo (1.5/5) tenha tomado um caminho muito mais ordinário, muito menos fantasioso: trata-se de uma espécie de Freddy begins, com explicações didáticas (e, até certo ponto, sóbrias) para a fúria do vilão. Freddy era um jardineiro outsider que, acusado de assediar crianças, é queimado vivo por pais preocupadíssimos que decidem manter o crime em segredo e… Sonolento, ahn? Eu não dormiria no meio de uma prova de natação, mas admito que cochilei duas ou três vezes durante a projeção. Não é um filme tecnicamente precário (Samuel Bayer, o diretor, usa os truques e filtros que aprendeu em clipes do Garbage e do Nirvana). Não é um filme que tenha me insultado. É apenas um porre de filme.
Eu, que assisti a todas as aventuras de Freddy (até o infame Freddy vs. Jason, que é pelo menos engraçadinho), tenho o direito à conclusão: é o pior da série. De longe. O que mais se leva a sério. O menos malicioso. O unidimensional. O menos imaginativo. O mais polido. O automático. E aquele que vai agradar a quem curte elogiar a “eficiência técnica” cheirosinha do remake de O massacre da serra elétrica. My ass. Esse nunca foi o espírito da coisa. Entre os produtores, é claro, lá está Michael Bay. Quando o mundo acabar de uma forma muito espetacular e monótona, coloquem a culpa nele, ok?
Trecho | Uma coisa sobre a grande arte
“Ele escutou Juliet, nua e crua do princípio ao fim mais duas vezes, ainda sentado no banco, e durante a terceira começou a andar pela casa. Uma coisa sobre a grande arte: faz com que se ame mais as pessoas, perdoando-as pelas suas pequenas transgressões. Funciona da mesma forma que a religião, se pensarmos bem. O que importava que Annie tivesse ouvido o disco antes que ele tivesse chance de fazer o mesmo? Era só imaginar todas as pessoas que haviam ouvido o disco original antes que ele o houvesse descoberto! Ou imaginar todas as pessoas que haviam visto Taxi driver antes dele, por falar nisso! Isso amortecia o impacto da música? Fazia com que fosse menos dele? Duncan queria ir para casa, abraçar Annie e falar de uma manhã que jamais esqueceria.”
Trecho de Juliet, nua e crua, de Nick Hornby.