2 ou 3 parágrafos | Alice no país das maravilhas

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Mais do que uma decepção, este Alice no país das maravilhas (3/5) me pareceu foi um grande de um mistério. Saí da sessão disparando perguntas às paredes. Por que Tim Burton resolveu criar uma adaptação de Lewis Carroll que mais parece uma homenagem ao C.S. Lewis (com cenas de batalha pra lá de Nárnia)? Por que o nonsense hilariante do livro foi praticamente limado do roteiro de Linda Woolverton? Por que os efeitos 3D resultam achatados e pálidos? Por que, nos momentos mais mecânicos, a trama poderia ter saído de uma reunião da equipe de marketing da Disney?

Sim. É sério. E vai me dizer que você não conhece o Guia Disney para faturar alto, conquistar o maior número de pessoas e arruinar um clássico da literatura? 1. Transforme a protagonista numa aborrecente de 19 anos (caso contrário, este seria um filme infantil), 2. Adapte o livro ao modelo de fitas de aventura com um quê épico, pós-Senhor dos anéis, 3. Dê de presente ao Johnny Depp mais um tipo bizarro, 4. Escolha um cineasta que garanta ao longa um certo ar de relevância, 5. Exiba cópias em 3D, 6. Inclua uma música insuportável da Avril Lavigne na trilha sonora, 7. E boa viagem!

Ok, vamos falar sério (é que pode não parecer, mas eu gostei do filme). O que me agrada neste Alice não é a forma muito perversa como Burton transfigura o espírito de uma obra-prima (até as minhas expectativas foram desafiadas: eu queria um filme mais sombrio, cruel, um milkshake de Sweeney Todd com A fantástica fábrica de chocolate, entende?), mas as sutis peripécias do diretor, que constroi um “país das maravilhas” decadente e desolado, sob a névoa da guerra e do autoritarismo. Um inferno. Há uma cena em que a jovem Alice lembra dos dias de criança: o contraste com o resto do filme é absoluto. A personagem de Carroll vivia num mundo mais colorido, um delírio infantil. Mas a festa já acabou quando a heroína de Burton desce à toca do coelho. Novamente, no entanto, é na fantasia que a personagem vai se armar para enfrentar a “vida real”. E, se o diretor parece um pouco desinteressado com essa batalha, talvez seja até compreensível: ao longo da carreira, Burton “filmou” Lewis Carroll de tantas formas diferentes que este novo hit da Disney deixa a sensação de ser a mais banal entre todas elas.

17 comentários em “2 ou 3 parágrafos | Alice no país das maravilhas

    marcus disse:
    abril 13, 2010 às 1:19 am

    Já eu gostei muito do filme, justamente pelo clima de decadência existente no País das Maravilhas. Achei a “batalha pra lá de Nárnia” sensacional porque, de um lado estavam os soldados da Rainha Branca, representados por peças de xadrez, um jogo lógico, e de outro os soldados da Rainha de Copas, representados por cartas, um jogo de azar. Ainda não vi nenhuma resenha apontar isso; logo, não sei se é algo óbvio demais pra falar ou se ninguém ainda notou a projeção das personalidades das rainhas em seus comandados.

    (Entretanto, eu ainda não assisti Senhor dos Anéis ou algum Nárnia pra saber se Alice se baseia tanto assim neles.)

    Como todo filme do Tim Burton, eu me foquei mais nos personagens e no mundo criado por ele (e, como tu bem pontuou, é mais uma dentre várias recriações de Alice que ele já havia feito). E gostei muito do que vi. Exceto pelo Stayne, gostei muito das atuações dos protagonistas e dos coadjuvantes principais. Foi um grande mais do mesmo, mas ficou um pouco além daquilo que eu esperava do Tim Burton.

    brunoamato disse:
    abril 13, 2010 às 2:01 am

    Não vi ainda. Acho que vale lembrar que Burton foi totalmente contratado. Li uma entrevista dias atrás no qual ele próprio fala mal do roteiro e diz que decisão de filmar em 3D não foi dele.

    Tiago Superoito respondido:
    abril 13, 2010 às 2:25 am

    Então tá explicado, Bruno. Eu quero muito ver esse filme sem o 3D, acho que vai ficar melhor.

    E o roteiro é uma bobagem mesmo.

    Daniel disse:
    abril 13, 2010 às 2:44 am

    Tiago, vc definitivamente vê de TUDO !! rs

    Acho Tim Burton um bom diretor, um pouco irregular (ainda acho Ed Wood o grande momento dele), e os filmes dele sempre têm um brilhante trabalho de figurino, direção de arte, etc.

    Prefiro os filmes dele com atmosfera mais sombria, como A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça – assisti no cinema e saí chapado com o visual do filme.

    Mas este “Alice…” acho q vou “acompanhar à distância”. hehehehe

    Alê Marucci disse:
    abril 13, 2010 às 3:41 am

    Bruno, numa entrevista do Burton (http://ilustradanocinema.folha.blog.uol.com.br/arch2010-03-01_2010-03-31.html), ele diz que talvez não tivesse feito o filme se não fosse em 3D:

    PERGUNTA – Como foi fazer um filme em 3D? Este é o futuro do cinema?

    BURTON – Eu não sei se teria feito esse filme se não fosse 3D. A proposta me pareceu uma mistura de mídias interessante. E isso me deixou muito animado. O 3D é mais uma ferramenta. Algo que tem potencial de adicionar mais uma camada extra de sensações ao cinema. Existe a música, a cor, o movimento… e o 3D. Mas essa tecnologia não vai ser salvadora de nada nem a razão de ser do cinema. Pode acreditar que nos próximos meses será lançada uma porção de filmes 3D bem porcarias porque muita gente vai achar que basta ser 3D para ser bom. É a nova onda.

    Haluysio disse:
    abril 13, 2010 às 6:00 am

    Só acompanhando a conversa.
    Abs

    Tiago Superoito respondido:
    abril 13, 2010 às 10:01 am

    Alê, eu não tenho problema algum com 3D, mas vi o filme com duas pessoas que se incomodam um pouco com o negócio. Durante a projeção, elas ficavam tirando os óculos e dizendo que, sem o acessório, as cores do filme apareciam com mais força. Percebi que isso acontecia mesmo, daí a minha curiosidade por ver o filme em 2D.

    Daniel, meu preferido dele também é Ed Wood, junto com Edward Mãos-de-Tesoura. Também gosto muito de Batman – O retorno, A fantástica fábrica de chocolate, Sweeney Todd, Marte ataca e do remake de Planeta dos macacos. Na verdade, gosto de todos os filmes dele. Mas, se eu fizesse um top, Alice ficaria lá embaixo.

    Diego disse:
    abril 13, 2010 às 9:58 pm

    O filme não foi rodado em 3D. O 3D dele é coisa de pós-produção.

    Não falem isso perto do James Cameron.

    Tiago Superoito respondido:
    abril 14, 2010 às 12:25 am

    O pior é que dá pra notar, Diego.

    E James Cameron é um sujeito sensato.

    Bruno M. Oliveira disse:
    abril 14, 2010 às 3:23 am

    Gosto de todos os filmes do Burton também. Acho que ele é um dos cineastas mais coerentes do cinema atual: nunca traiu suas “convicções artísticas”.

    Ainda não vi “Alice…”, mas tenho quase certeza de que já gostei.

    Filipe Furtado disse:
    abril 14, 2010 às 12:36 pm

    O problema é que Burton parou de tentar e começou só a contar os cheques já tem cerca de 10 anos, mas ninguém parece perceber isso.

    Michel disse:
    abril 14, 2010 às 11:25 pm

    TUdo que precisava para novamente desistir de um filme do Tim Burton, valeu Tiago.

    Tiago Superoito respondido:
    abril 15, 2010 às 12:18 am

    Não desista, Michel. Mas aguarde o DVD. Não vai fazer muita diferença.

    E não vi ninguém contando cheques em Sweeney Todd, Filipe…

    Michel disse:
    abril 16, 2010 às 11:22 am

    no cinema não devo ir mesmo, o ultimo q vi foi A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, imagina…

    Raphaella C. disse:
    maio 4, 2010 às 6:15 pm

    Acho o Tim brilhante, mas ele realmente tem seus altos e baixos.
    Não fui com muita expectativa ver o “Alice”, achava que metade do senssassionalismo do filme se devia à mais uma parceria Depp/Burton… Mas, por incrivel que pareça, eu realmente gostei.
    Alem da história, que com tudo tem ensinamentos bacanas, contamos com atuações brilhantes (algumas que realmente me surpreeenderam).
    Acho o fato de ser 3D ou não irrelevante, um filme tem que ser bom idependente disso, o 3D deve ser uma ferramenta a mais, e não o ponto essencial do filme.
    Ouvi muita gente no cinema dizendo que o sucesso do filme era só por ser em 3D, bom, eu discordo totalmente já que tivemos alguns filmes besteirols que contavam com o 3D e eram realmente decepcionantes!
    Pra mim não é o melhor filme do Tim, nem de longe e se formos tecer comparações vamos ficar realmente decepcionados, mas é um bom filme, vale a pena ver.

    Samara Correia disse:
    setembro 4, 2010 às 4:18 pm

    Uma das melhores coisa que já li sobre o filme!! Também sai do cinema cheia de coisas na cabeça, e sim gostei do filme, mas não gostei!

    Eu espero os próximos de Burton, afinal, o que seria da minha infância sem Edward Scissorhands e Beetle Juice.. eu teria ficado só com Rei Leão! hahaha

    Nem sei se você vai ler esse comentário (post antigo e tudo mais)… Mas enfim, achei esse blog um dos melhores achados!!

      Tiago Superoito respondido:
      setembro 4, 2010 às 5:19 pm

      Olha aí, Samara, li seu comentário!

      Valeu pelo elogio. O blog só continua pq os leitores são bacanas com vc. Obrigado.

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