Dia: março 17, 2010
2 ou 3 parágafos | a-ha, uns chapas
Depois do Guns N’ Roses, não sei se eu precisava de um show do a-ha. Mas me mandei pra lá. Fiquei um pouco emotivo no refrão de Take on me e sujei meu tênis numa poça de vômito (cor de beterraba). Acredito que consegui matar as células da minha pré-adolescência que sobreviveram ao bombardeio de Axl Rose.
Não foi um show ruim. Nem foi (como no caso do Guns) uma bela merda. Nada disso. Aos fãs brasilienses (todos loucos por um freak show de dimensões catastróficas), os noruegueses se mostraram estranhamente comuns. Uns chapas. Uns bróderes. A trilha sonora para esta performance é um mash-up de Ordinary world, do Duran Duran, com Common people, do Pulp. Tudo muito simplezinho. Enquanto Axl tenta macaquear os próprios tiques – como se 1991 fosse um estado de espírito, e não é! – este trio simpaticíssimo comete o crime de envelhecer junto com seu público, como se não dependesse dos velhos hits para sobreviver (ainda que dependa sim – as canções mais recentes soam como Keane meets Seal e, ora bolas, o pop é mesmo muito cruel).
É a turnê de despedida, e eles agem como quem comemora o pedido de aposentadoria. Oh, folgas! Recesso por tempo indeterminado, manja? E o descanso vem a calhar. Lá pela quinta música, o vocalista anunciou que estava com uma infecção na garganta. Falou algo do tipo (e esta é uma tradução muito livre): “Olha, galera, o papai aqui está nas últimas, tem uma ambulância lá fora me esperando, as músicas vão ficar uma meleca, espero que vocês me ajudem cantando tudo o que vocês sabem. Ainda falta uma hora pra Take on me, vou avisando…” O estádio, coitado, caiu em desânimo. Mas eles têm sorte de contar com fãs muito educados (senhoras e senhores muito educados), que os ajudaram na agonia terrível de subir a Montanha dos Agudos Estridentes até que o maldito clipe de Take on me aparecesse projetado no telão (aliás, belo telão: de Discovery Channel a cartoons abstratos à Justice, teve de um tudo). Na maior parte do show, eu pude sentir a dor, o martírio do vocalista. Foi uma jornada muito tensa, exaustiva. O show deixou a sensação de que eles merecem férias. Era essa a ideia? Esses guerreiros. Esses chapas. Esses experts em Take on me. Eu me sensibilizo com a causa. E espero sinceramente que a ambulância tenha chegado a tempo.