Dia: fevereiro 4, 2010

Lost | LA X

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(Cuidado, os próximos parágrafos contêm inúmeros spoilers da sexta temporada de Lost. Estão avisados)

Conversei com três ou quatro pessoas que, com bons argumentos, detestaram os dois primeiros episódios desta sexta temporada. Pode parecer mesmo muito difícil defender uma série que parece ter se contentado com a tarefa de explicar, um a um, os seus próprios enigmas (e os saltos temporais da quinta temporada ainda me parecem uma distração bem tola). Mas taí, discordo dos detratores: não só gostei deste recomeço como passei a acreditar que a série vai sim conseguir criar um desfecho capaz de remeter à atmosfera de mistério das primeiras temporadas.

Depois dos flashbacks e flashforwards, os roteiristas encontraram um jeito de fazer justiça ao jogo narrativo que marcou alguns dos melhores momentos do programa: agora, duas realidades se alternam. Existe a vida na ilha, em 2007, e a vida sem o acidente que derrubou no avião da Oceanic, em 2004. Seria uma temporada inteira dedicada a ilustrar o experimento do Gato de Schrödinger?

Lost segue frágil em vários aspectos: os diálogos são apenas razoáveis, as atuações não vão além do mediano e toda a encenação quase sempre acaba descambando para o kitsch (os defensores do templo, dentro da ilha, poderiam fazer parte do elenco de coadjuvantes de Piratas do Caribe). O trabalho coletivo de montagem, no entanto, continua bem afiado. E falem o que quiserem: não conheço outra série de tevê que tenha desenvolvido uma trama com uma estrutura narrativa tão livre, tão maleável. É, nesse aspecto (e continua a ser), um laboratório.

E, mais importante, parece que Damon Lindelof e Carlton Cuse vão compartilhar do sentimento prematuro de perda que acomete os fãs da série e criar uma temporada quase tristonha, melancólica. Foi que pressenti quando vi as cenas no avião, com a aparição de personagens que já não estavam em cena há algum tempo. Tem algo de bonito nisso: nessa realidade alternativa, com um quê de sonho, o espectador também realiza um desejo — o de voltar ao começo e reviver antigas sensações.