Dia: janeiro 29, 2010
Mixtape! | O melhor de janeiro
Janeiro foi assim (e não foi nada bom): encostas despencaram, carros patinaram em ruas ensopadas, milhares de miseráveis ficaram ainda mais miseráveis depois de um terremoto terrível, Eric Rohmer se foi, J.D. Salinger partiu, Jay Reatard desintegrou-se, Avatar afundou Titanic e eu sobrevivi. Cá estamos.
Como prometi em dezembro, aqui começa a saga (espero que longa) das coletâneas mensais. A primeira mixtape de 2010 chama-se, muito apropriadamente, Janeiro treme.
Para nossa sorte, o ano começou com uma enxurrada de discos interessantes. O melhor deles: Teen dream, do Beach House (e, de prêmio, a dupla ganhou a foto que ilustra este post!). Na segunda chamada, eu aumentaria a nota do álbum de 8 pra 8.5. Até o fim do ano, quem sabe não chega a 9? Mas o disquinho que provocou abalos sísmicos mais intensos aqui em casa foi mesmo Measure, do Field Music. Descomplicado e autêntico.
A seleção deste mês, que me enche de orgulho, começa suave e evocativa, vai ficando meio torta/esquisita e termina da forma mais sublime possível, com uma “novidade” do Elliott Smith. Espero que os interessados façam o download depressa. Não sei se o arquivo vai durar muito tempo.
Eis a tracklist:
1. Zebra – Beach House 2. The high road – Broken Bells 3. Who makes your money – Spoon 4. ONE – Yeasayer 5. One life stand – Hot Chip 6. We want war – These New Puritans 7. Giving up the gun – Vampire Weekend 8. The wheels are in place – Field Music 9. Cecilia Amanda – Elliott Smith 10. Angel echoes – Four TetFaça o download (via Rapidshare): Superoito Mixtape – Janeiro treme
J.D. Salinger (1919-2010)
‘No subsolo do hotel, por onde os banhistas eram obrigados a entrar, uma mulher com o nariz coberto de pomada tomou o elevador junto com o rapaz.
– Por quê que você está olhando para os meus pés? – ele lhe perguntou, quando o elevador se pôs em movimento.
– O quê que o senhor disse?
– Perguntei porque é que você está olhando para os meus pés? – ele lhe perguntou, quando o elevador se pôs em movimento.
– O senhor vai me desculpar, mas acontece que eu estava olhando para o chão – a mulher falou, e encarou a porta do elevador.
– Se quer olhar para a droga dos meus pés, diga logo. Mas não precisa ficar olhando escondido.
– Deixa eu saltar aqui mesmo, por favor – a mulher disse rapidamente para a ascensorista.
As portas se abriram e a mulher saiu, sem olhar para trás.
– Eu tenho dois pés normais, pomba, e não admito que ninguém fique olhando para eles – o rapaz falou – Quinto, por favor.
Tirou a chave do bolso do roupão. Desceu no quinto andar, caminhou ao longo do corredor e entrou no 507. O quarto cheirava a mala de couro nova e a removedor de esmalte de unhas.
Olhou de relance na direção da moça que dormia numa das camas-gêmeas. Caminhou até uma das malas, abriu-a e, sob uma pilha de roupas de baixo, apanhou uma Ortgies automática, calibre 7.65. Soltou o pente de balas, examinou-o e enfiou de novo no lugar. Armou a pistola. Feito isso, foi sentar-se na cama desocupada, olhou para a moça, apontou a pistola e deu um tiro em sua própria têmpora direita.’
Um dia ideal para os peixes-banana, em Nove estórias (1948)