Dia: junho 17, 2009
2 ou 3 parágrafos | Trama internacional
Os bancos são os inimigos, o sistema financeiro não poupa ninguém, o mundo corporativo é mais frio que a morte, the end. Dito dessa forma, Trama internacional (6.5/10) parece uma bobagem. Adianto logo: na onda de thrillers inspirados no cinema americano dos anos 1970, este é o menos fluente, o mais pedante e “confuso”. Mas tudo isso me cheira a uma boa tomada de posição: sem paciência alguma para passatempos à Tony Gilroy, Tom Tykwer (que é alemão, e aqui essa informação se faz essencial) constroi uma fita de espionagem a base de aço, vidro e paranoia. É um arranha-céu moderníssimo: elegante e gélido, doa a quem doer.
O diretor de Corra, Lola, corra não é o mais adequado para pilotar um Boeing desse tamanho, com todos os botões luminosos e um manual de instruções de mil páginas. Essa relação desconfortável entre Tykwer e as normas do gênero acaba fazendo bem ao filme. Admito que perdi o interesse em mais de um momento (as cenas de ação, desastradas, atropelam a narrativa feito um caminhão) e não enxerguei o fio que liga todas as teorias da conspiração atiradas pelo roteiro (se é que existe um fio). O que notei foi um confronto até mesmo entre o roteiro — um falatório sem fim — e a direção, que parece mais interessada em compor um ensaio visual sobre arquitetura.
É esta, aliás, a camada do filme que mais me atrai: Tykwer não precisaria de diálogos nem de personagens nem de uma mirabolante rede de intrigas para comentar sobre o nosso pesadelo corporativo. A arquitetura das cidades diz tudo. A primeira cena mostra o primeiro registro cinematográfico de uma arrojada estação ferroviária de Berlim. Já o clímax, quando o herói finalmente enfrenta o “sistema”, é rodado num antigo telhado de Istambul. O contraste entre novo e antigo, as cores quentes contra os tons frios, a “moral da história”, está tudo ali: uma bela exposição de fotografias perdida num thriller apenas razoável.