2 ou 3 parágrafos | Fork in the road
Ok, tio Neil, o que temos para 2009? Um álbum conceitual inspirado num carro ecologicamente correto, movido a biodiesel e eletricidade? Não brinca. Infelizmente, Fork in the road (5/10) não é pegadinha de primeiro de abril — e, convenhamos, nesse caso não soaria mais divertido que o álbum fake do Nine Inch Nails produzido pelo Timbaland. Até tentei me convencer do contrário: abandonei o disquinho no porão do meu iPod até o dia em que ele me atropelou de uma vez só. Difícil desviar de um acidente desses.
Aos que enxergam irregularidade na trajetória de Bob Dylan, bem-vindo ao estranho mundo de Neil Young. Recomendo começar a viagem pela fase oitentista, a começar pelo cintilante Trans, de 1982, e depois saltar para o “espiritual” Chrome dreams II, de 2007. É um processo doloroso, mas necessário para quem tenta entender como mesmo traço instintivo que gerou obras-primas como After the gold rush (1970) e On the beach (1974) pode ser usado para o mal. Fork in the road é um dos álbuns mais espontâneos de Neil: uma road trip por uma América despedaçada, regada a petróleo, a bordo de um carro/musa/sonho, um Lincoln Continental 1959 adaptado para o futuro. E um dos mais descartáveis.
A sonoridade é reminescente de Living with war: riffs secos de garage rock (às vezes hard rock, como na faixa de abertura, When worlds collide, ou blues-rock, na canção-título) que provavelmente foram gravados em duas horas. Apressadamente. Qualquer-nota. Mas inconveniente é como, em vez de destrinchar o tema, o compositor estaciona no acostamento. Prefere remoer uma ladainha repetida em quase todas as faixas. Lamenta o fim da era do rádio, ataca a web e os blogueiros, etc. O disco melhora quando mansinho e introspectivo (casos únicos: Off the road e a otimista Light a candle), mas preconiza perigosamente o rock brando da era Obama: a rebeldia reduzida a uma espécie de fetiche.
abril 30, 2009 às 8:04 pm
Gostei um pouco mais que você, mas desconfio que ele já está arquivado aqui em casa para ser escutado novamente somente quando o próximo sair.
abril 30, 2009 às 8:05 pm
Boa sorte, hehe.
Mas ó, nota 5. Não é um desaaaastre. E foi o que a Pitchfork deu pro disco do Dylan.
abril 30, 2009 às 9:23 pm
Rebeldia é fetiche há tempos, não só na era Obama. Não?
abril 30, 2009 às 9:30 pm
Também é, mas não só isso. Ou deveria ser mais que isso, enfim. Me expressei mal. Eu queria dizer “rebeldia reduzida à condição de fetiche”.
abril 30, 2009 às 10:02 pm
Mesmo assim, é algo que acontece há tempos. Sei lá. New Radicals?
abril 30, 2009 às 10:15 pm
Ué, acontece. Quem disse que não? (se bem que não vejo New Radicals como um bom exemplo, seria melhor se você falasse em Libertines). Mas quando vejo o que acontece com um Neil Young da vida, e com Bruce Springsteen, temo por um marasmo maior.
maio 1, 2009 às 1:43 am
Eu achei muito rium… Me lembrou o que de pior já ouvi de Creedence.
maio 1, 2009 às 4:18 pm
Pobre Creedence.