Superoito express (5)
Antes de qualquer coisa (e, já que este é um blog e blogs fervem no calor do momento, aí vai a quentura de uma opinião): estou muito, muito, muito impressionado com o segundo álbum do Móveis Coloniais de Acaju, que ouvi pela primeira vez hoje. Muito. Não sei se ele será compreendido (é um disco de pop rock bastante direto e acessível, acima de tudo), mas por enquanto estou tentando lembrar qual foi o último álbum tão bacana e fluente que ouvi de uma banda brasiliense. A produção é do Carlos Eduardo Miranda, mestre na arte da concisão. Para o rock brasileiro, um sopro de vitalidade – para o de Brasília, uma pequena revolução. Escrevo mais sobre ele quando for lançado. Em formato de vídeos do YouTube, as faixas já estão no site da banda.
Agora vamos aos anos 90, vamos?
A woman a man walked by | PJ Harvey & John Parish | 7 | A segunda colaboração entre Harvey e Parish (depois de Dance Hall at Louse Point, de 1996) é o álbum mais arejado e sortido de Polly Jean desde Stories from the city, stories from the sea (2000). Só faltou um conjunto mais sangrento de canções. Com versos de PJ e melodias/climas de Parish, abre maravilhosamente bem com uma faixa ganchuda que parece homenagear simultaneamente Pavement e Sonic Youth (Black hearted love), segue dignamente com um folk de ponta-cabeça (Sixteen, fifteen, fourteen), continua com uma marcha fúnebre delicadíssima (California) e depois se acomoda num indie fragmentado e ocasionalmente furioso que Harvey interpreta com familiaridade – talvez excessiva.
Sometimes I wish we were an eagle | Bill Callahan | 7 | O rompimento do namoro com Joanna Newsom não deu no álbum profundamente, desesperadamente melancólico que talvez os fãs de Callahan aguardavam com sadismo. É um disco reflexivo, uma meditação até serena sobre temas que o compositor trata com frequência: morte, amizade, natureza e um tipo de amor quase inocente, puro. A novidade é que, a exemplo de Newsom, Callahan reveste a rusticidade das canções com arranjo de cordas quase floridos. Daí vêm os momentos mais supreendentes – como My friend, que soa mais drakiana que qualquer canção de Nick Drake, e a épica Faith/Void, lindíssima.
A new tide | Gomez | 5.5 | Não me pergunte como uma das bandas inclassificáveis do final dos anos 90 se transformou num ser esquizofrênico e, por fim, irrelevante. Difícil explicar. Mas fiquei curioso com a notícia de que eles tentariam um retorno à fase mais inventiva (se bem que, no caso do grupo, é isso ou o suicídio artístico). Realmente, este sexto álbum demonstra a tentativa de sair do lugar, mas algo se perdeu no caminho. Lembro que, nos anos 90, os tiques à Eddie Vedder do vocalista eram curiosos – hoje soam até datados, o que parece ainda mais estranho. Mas há momentos interessantes, como a abertura (Mix) e Win park slope. Nada que se aproxime do primeiro disco, Bring it on (1998).
Invaders must die | Prodigy | 5 | Fechando numa chave triste (taí mais um caco dos anos 90), este suposto “retorno à forma” do Prodigy é só uma nova vítima da implosão do big beat (os recentes do Chemical Brothers são outras). Não tão desnorteado quanto o álbum anterior, mas ainda perdidinho. Omen esquenta qualquer pista, mas o restante do álbum parece desesperado por restaurar o prestígio de uma banda que, do dia para a noite, parou de fazer sentido. A volta de Keith Flint (agora com a maquiagem toda borrada, um Coringa à Heath Ledger) e Maxim só deixa tudo mais bizarro. Sei que estou ficando velho quando lembro do impacto que foi ouvir Firestarter pela primeira vez… Bons tempos. Não voltam mais. Etc.
abril 1, 2009 às 2:42 am
Tava com receio de ouvir o Móveis no site, mas teu comentário animou.
abril 1, 2009 às 2:45 am
Espere o disco! hehe. É que não sei como está a qualidade das músicas no site. Enfim. Mas deve servir para dar uma ideia.
abril 1, 2009 às 2:48 am
Tô ouvindo, já era.
abril 1, 2009 às 2:48 am
Tá em versão ao vivo, não tem graça, blé. No disco tá diferente, a produção é melhor.
abril 1, 2009 às 2:51 am
Já já tá no Trama Virtual. Mas tô gostando.
abril 6, 2009 às 12:28 pm
o álbum do bill callahan é mm o melhorzinho dos elencados. embora a minha nota seja um 7,5/10.
óptimo blogue.
saudações de portugal.
abril 6, 2009 às 1:12 pm
Valeu, Jorge.
Saudações de Brasília.