2 ou 3 parágrafos | O visitante
Eu estava pronto para descartar O visitante (6/10) quando fui contrariado por um elemento-surpresa: raro é o filme capaz de ressaltar com tanta convicção a bondade dos personagens. Thomas McCarthy volta a câmera para a generosidade – e o faz delicadamente, sobriamente, sem soar como um menino inocente e choroso de dois anos de idade.
É um traço que, para mim, compensa a inconsistência do projeto. Apesar de simpático e tudo, é um filme inconsistente. O cineasta é daqueles que ficam em cima do muro: filma economicamente, mas sem flertar com o minimalismo; controla a dose sentimental da narrativa, mas vive apelando para golpes baratos (há forma mais simples de tratar das tensões pós-11 de setembro que trancar dois estrangeiros e um americano dentro de um apartamento em Nova York?). Na falta de um estilo, McCarthy adota a estratégia-padrão do cinema independente norte-americano: é clean e nada mais.
Mas, acima do diretor, acima do filme que ele dirige, acima das mensagens de solidariedade (batidíssimas), há os personagens e os atores que os interpretam. Daí o mérito de Richard Jenkins, que, se excluirmos dois momentos-Oscar (o clímax e o desfecho), compõe um tipo complexo, já que tão sisudo e introspectivo quanto frágil, íntegro e, por isso, adorável. Não merecia a estatueta (Mickey Rourke, né), mas justifica a existência do filme.
março 27, 2009 às 4:02 pm
Ainda não vi o filme, mas pelo o que você escreu, e levando isto em conta, me pareceu muito com o filme Vênus que também recebeu uma indicação ao oscar de melhor ator para Peter O’Tolle. Nos dois casos a incosistência dos filmes é salva pelas brilhantes atuações de um ator veterano, e os filmes vão ser lembranos apenas por isso.
A diferença é que no caso de Vênus, na minha opinião, Peter O’Tolle realmente merecia ter ganhado a estatueta.
março 27, 2009 às 5:59 pm
Gosto muito da atuação do O’ Toole no filme, mas não lembro se havia algum ator melhor naquela edição do Oscar.
março 27, 2009 às 8:32 pm
Sabe, eu acho que o filme marca pontos por não ser apelativo. As situações são clichê, mas nunca de forma apelativa. A aproximação dos personagens é bem delicada, como na cena do batuque na cadeia. E o tom nunca é o do denuncismo barato, embora o foco seja os imigrantes pós-11 de setembro. Acho um pouco mais do que simpático.
O O’Toole perdeu para o Forrest Whitaker, que tava melhor, embora seja um coadjuvante no filme.
março 27, 2009 às 8:40 pm
É verdade, teve o Whitaker e tudo. Acho que prefiro o O’Toole.