Dia: março 18, 2009

Now we can see | The Thermals

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thermalscapaThe Thermals é uma das bandas de rock mais objetivas que conheço. Não admitem papo furado. O álbum anterior, The blood, the body, the machine, de 2006, era uma fábula apocalíptica de punk rock ambientada numa América fascista, contaminada pelo fanatismo religioso. Isso tudo, em cores fortes; e, ainda assim, o disco durava 35 minutos.

Não sei se vocês lembram, mas American idiot, do Green Day, dura 57 minutos e soa tão assustador quanto um episódio de Smallville.

O disco novo, Now we can see, tem 34 minutos. E é um álbum com a ambição de falar sobre a morte. “Canções sobre quando estávamos vivos”, explicou o vocalista, Hutch Harris. As faixas se chamam When I died, We were sick, How we fade, You dissolve, etc.

Mas é impossível esperar uma sinfonia do tamanho de Funeral, do Arcade Fire, já que o trio parece incapaz de atos de grandiloquência. Por mim, tudo bem. O que eles provam, bem didaticamente, é que grandes temas podem caber em pequenas embalagens – sem prejuízo de impacto.

E é um belo disco – um que eu daria de presente para meu primo de 15 anos, se ele fosse fã de Green Day e NxFx. O Thermals revela muito sobre a preguiça de quem prega a decadência da face mais melodiosa do punk rock. O gênero que rende atrocidades à Fresno e NxZero é tratado pela banda como um brinquedo novo. Talvez por isso essas canções me façam voltar à adolescência – era isso que eu sentia diante daquelas bandinhas todas. 

Now we can see é um álbum mais aberto e acessível que o anterior – o conceito não é tão rígido, e não há uma narrativa interligando as canções. Para a banda, a opção representa um perigo – sem idiossincrasias, eles poderiam muito bem se perder entre tantos grupos do gênero. Mas aí está o pulo do gato: faixas como When I died e Liquid in, liquid out se sairiam muito bem nas rádios, e ainda assim soam cruéis, perversas – uma espécie de morbidez adolescente em tom maior.

Dentro de um formato estreito (e econômico por excelência), o Thermals avança com passos curtos, mas firmes. At the bottom of the sea, a faixa mais longa do disco, tem uma força dramática capaz de sustentar o disco inteiro. Já You dissolve inclui notas de piano às guitarras, sem soar apelativo. 

Será que estamos diante da gestação de uma banda pop? Pode ser. Eu não me incomodaria.  Mas note a ironia: o disco mais convidativo do grupo é também o mais filosófico, e o primeiro lançado pelo selo Kill Rock Stars. De Elliott Smith e Sleater-Kinney, lembram? Pois o Thermals faz justiça a essa tradição.

Quarto álbum do The Thermals. 11 faixas, com produção de John Congleton. Kill Rock Stars. 7/10