Dia: março 12, 2009

Wolfgang Amadeus Phoenix | Phoenix

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phoenixcapaReconheço que o Phoenix pode soar como uma das bandas mais ridículas do planeta. Pode, às vezes deve

Outro dia, numa daquelas lojas de roupas que fedem a perfume francês, decidiram usar Everything is everything como música ambiente. As clientes a-do-ra-ram. E eu, encarando as caixas de som: esses franceses fazem pop de bijuteria, ou têm um excelente, estranho senso de humor? 

Ainda estou firme com a segunda opção. Mas admito que a primeira também esteja correta.

A melhor introdução ao Phoenix está no Wikipedia. Lá, a banda é localizada na mesma cena francesa que revelou Daft Punk e Air.  É um contexto importante – já que, nesse trio, o Phoenix foi aquela que levou mais ao pé da letra a ideia do pop-colagem, do decalque carinhoso de referências baratas, do kitsch com coração. É pop com uma piscadela de olho, cerebral (daí que superficialmente tolo, descartável).

Por isso que, para os fãs do quarteto, é sempre desanimador ouvir comentários como “ah, mas eles chupam o electropop dos anos 80”, como se isso fosse tudo. Também é. Mas não é tudo.

Antes de Wolfgang Amadeus Phoenix (e note que, logo no título, o senso de humor está cada vez mais explícito), eles gravaram um álbum de soul music branca  (o incompreendido, talvez por parecer tão sério, Alphabetical) e um que fez a ponte entre o soft rock dos anos 70 e o “novo rock” do Strokes (o bem recebido It’s never been like that). Isso depois de uma estreia tão retrô quanto moderna (United, ainda o melhor deles).

O novo disco dá um pulo para trás – ao retomar a parceria com o produtor Philippe Zdar, de United (e do duo Cassius) – para prolongar a experiência de It’s never been like that. É o primeiro álbum do Phoenix que soa como uma continuação – as duas primeiras faixas,  Lisztomania e 1901, poderiam ter entrado no disco anterior. Talvez eles não queiram mexer num time que se deu tão bem – e admito que me decepcionei um pouco com esse jogo seguro, sem tantos lances arriscados.

Há diferenças, porém: Zdar acentua as relações da banda com a eletrônica, que retorna à toda em Fences e com um quê ambient na extensa (e quase emocionante, se eles não insistissem em soar tão gélidos) Love like a sunset. São faixas que permitem intervalos saudáveis para o álbum, sem perder o fio da meada (ao contrário do Royksopp, taí uma banda que sabe fazer discos sólidos, sem gorduras).

A segunda metade volta a arar um terreno conhecido, ainda assim agradável. Com uma exceção: a quase épica Countdown, com climas de rock progressivo e ambição nunca antes imaginada pela banda (além de uma letra surrealista, quase um transe), dá uma pista de como este álbum soaria se não fizesse tanto esforço para fazer com que lembremos do passado do Phoenix.

Mas é uma banda que ainda consegue soar extremamente direta (para quem procura os hits) e tridimensional (para os iniciados). Só teremos a ganhar se lojas de roupas e elevadores a adotarem como trilha sonora.  

Quarto álbum do Phoenix. Nove faixas, com produção de Phoenix e Philippe Zdar. Cooperative Music/V2. 7/10