Dia: março 10, 2009

‘This is why Pitchfork sucks’

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Se meu avô tentasse ouvir um disco da Joanna Newsom, ele provavelmente também desistiria nos primeiros quarenta segundos. A harpa! A voz! O programa Breakfast at Sulimay’s, da Scrapple.tv, convida três velhinhos simpáticos e aposentados para comentar canções de indie rock e rap. O resultado é hilariante. Neste vídeo, The Thermals, The Decemberists, Clipse e Newsom passam pelo crivo dos jurados. Na Pitchfork tem mais. Eu recomendo o do Animal Collective (repare a expressão de ódio da vovó).

Aliás, a Pitchfork, o site mais odiado nas geriatrias do planeta, está com visual reformulado e duas boas novidades: agora dá para ouvir álbuns resenhados; e as ‘track reviews’ felizmente retornaram (com Phoenix e tudo, ouçam lá).

2 ou 3 parágrafos | Dia dos namorados macabro

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bloody

Versão sem 3D: perde um parágrafo.

É uma pouca vergonha (como diria minha vó) ou não é? Como se não bastasse a projeção digital que corta as bordas dos filmes (aguardem por Entre os muros da escola), agora temos que engolir isto: versão 2D de fitas formatadas para exibição em 3D. E dá-lhe tranqueiras lançadas em direção às câmeras, para provocar efeito – tripas, tocos de árvore, bastões, lanças, globo ocular. Parece até tiro ao alvo. O espectador insatisfeito pode pedir o dinheiro de volta, pode?

Falta um parágrafo, vamos lá: o diretor deste remake picareta (sem trocadilho) trabalhou um tempão como editor em filmes de Wes Craven. Por isso mesmo, não merece nossas desculpas. Salvo uma cena linda de tão delirante – uma loura ataca o serial killer vestindo apenas um par de sapatos de salto alto -, Dia dos namorados macabro (4.5/10) é um pântano de ideias filmado com o ‘padrão de qualidade’ de um piloto de seriado. Old story. Não tem os personagens de plástico do novo Sexta-feira 13. Mas isso lá conta como bônus? Ah, lembrando: eu quero meu 3D, tio.

Junior | Röyksopp

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royksoppÉ uma daquelas ironias amargas: apesar de ter lançado belos singles (como Eple, Poor Leno e o recente Happy up here), o Röyksopp nunca conseguiu compor álbuns minimamente consistentes. Mesmo o primeiro, o elogiado Melody A.M., de 2001, parece uma colcha de retalhos perto de Moon safari, do Air (a referência mais próxima, naquela época).

Os defensores da banda podem até dar de ombros para a fragilidade dos discos (e sair dizendo por aí: “o álbum morreu, antes ele do que eu”). Mas acontece que o duo norueguês dá a impressão de estar bastante empenhado nessa arte menosprezada (mas bastante viva, ok?) – a arte do álbum.

Junior se sustenta nos singles (Happy up here, The girl and the robot), mas pede para ser interpretado como uma obra com um conceito. Quer ver? Para começar, é um disco de cantoras – com participações de Robyn, Lykke Li, Karin Dreijer Andersson (The Knife, Fever Ray) e Anneli Drecker. As vozes femininas costuram (ou deveriam costurar) as canções.

As faixas são intercaladas por temas instrumentais e os climas sugerem a busca de harmonia entre o primeiro álbum da banda (mais delicado, com um quê de space rock e muito de pop francês) e o segundo (The understanting, mais noturno, urbano e aflito). Um álbum de sonhos fofos sob neon.

Outro sintoma: o duo volta ainda este ano com Senior, um trabalho “mais introspectivo”, segundo eles. Um disco complementar. Só isso já explicaria a desejada identidade de Junior, que nega a imagem (que seria até saudável, entenda) de “compilação de singles”.

Nesse curto-circuito de intenções, o robozinho dá tilt. O álbum, apesar de ótimos momentos, não tem liga – às vezes soa mesmo como um greatest hits, só que composto de faixas de artistas diferentes. Até eu, que adoro Happy up here, entendo como um equívoco abrir o disco com a música – que, em vez de um delicioso aperitivo (é isso que ela é), é servida como prato principal.

A segunda e a terceira faixas, mais perto do tom abertamente comercial de The understanding, se aproximam da dance music mais trivial (ainda que os sintetizadores de Vision one maltratem nossos ouvidos). Forever retoma o espírito brincalhão, com uma catarata de cordas que lembra o Daft Punk de Discovery. Daí em diante, o disco oscila entre um extremo e outro, completamente indeciso – e as participações de Andersson só complicam esse coreto, já que as duas soam como remixes do Knife.

De qualquer forma, Tornbjorn Brundtland e Svein Berge ainda têm prestígio e devem aproveitar-se da onda electropop para fisgar alguma atenção da crítica. Mas note: o hype, se colar, deve durar pouco. O álbum do Phoenix está chegando aí para (se tivermos sorte) clarear o céu do pop.

Terceiro álbum do Röyksopp. 11 faixas, com produção da própria banda. Wall of Sound/Astralwerks. 6/10

BÔNUS TRACKS

batforlashesTwo suns | Bat for Lashes | 7 | A voz exótica que faltou ao disco do Royksöpp, Natasha Khan tem tudo para ser eleita a musa dark da temporada (sim, ela já gravou uma cover de The Cure, muito coerentemente). No segundo álbum, o Bat for Lashes  sofre de distúrbio de personalidade: soa ora como Kate Bush, ora como Björk, ora como PJ Harvey, ora como The Knife, ora como a menina do Exorcista. Mas não são referências fáceis, e, se a capa remete a Evanescence, as canções miram a estratosfera, driblando expectativas dos fãs do primeiro disco, arriscando seriamente sem perder a unidade. Entenda como uma aventura mística de auto-conhecimento, sem desfecho à vista. Scott Walker e Yeasayer participam.