Mês: fevereiro 2009
Dark was the night | Vários Artistas
Não é que eu tenha problemas com coletâneas, mas veja o caso de Dark was the night. Nem sei por onde começar, sério.
O álbum duplo, lançado com a Red Hot Organization (que arrecada fundos em benefício dos portadores do HIV, e está por trás de discos como No alternative e Red Hot and Blue), tem 31 faixas, dura mais que muito longa-metragem e funciona praticamente como um yearbook para ídolos da comunidade indie (classe de 2007/2008, com paraninfos e agregados).
Quer dizer, Deerhoof ficou de fora. Mas eles não contam exatamente como ídolos, contam?
No mais, a turma está reunida: produzido por Aaron e Bryce Dessner (do The National), o álbum reúne canções exclusivas (entre inéditas e covers) de bandas como Arcade Fire, Spoon, Antony and the Johnsons, Grizzly Bear, Andrew Bird, The New Pornographers, My Morning Jacket, Cat Power. O set é tão diversificado (dentro dos limites do indie, claro) que praticamente todo leitor da Pitchfork vai querer uma cópia do disquinho.
Dá para forçar a barra e identificar uma atmosfera de melancolia em torno da maior parte das faixas – e algumas delas, como You are the blood (Sufjan Stevens) e Stolen houses (Iron and Wine) vão direto ao tema. Mas é um projeto abrangente demais para caber numa síntese (que o próprio título sugere).
Como de costume, há opções meio duvidosas. Conor Oberst, por exemplo, presta reverências ao próprio umbigo com uma versão de Lua (se faz acompanhar por Gillian Welch). E o Decemberists extrapola com uma faixa chorosa de oito minutos de duração (Sleepless). Mas são poucos equívocos, e eles quase desaparecem num conjunto bastante forte.
Eu destacaria umas 15 faixas, mas isso não ajudaria ninguém. Sejamos práticos: lá no topo da minha lista de preferidas estão Deep blue sea, do Grizzly Bear (tão boa quanto qualquer uma do disco Yellow house, que é maravilhoso), Knotty pine, com Dirty Projectors e David Byrne (que abre o disco, e não à toa) e You are the blood, que aponta uma direção mais experimental e eletrônica (mas ainda doce) para Sufjan Stevens.
Well-alright, do Spoon, abre o segundo disco e… Se não mereceria entrar no álbum mais recente dele, ainda é Spoon e por isso vale quase a coleânea toda. E, no departamento das covers, é uma delícia a versão do New Pornographers para Hey, snow white, do Destroyer (e a de Antony para I was young when I left home, de Bob Dylan).
Isto é: daqui a 60 anos, quando quiserem resgatar o indie rock do início do século, este álbum aqui servirá como uma introdução bem decente.
Coletânea produzida por Aaron e Bryce Dessner. 31 faixas. 4AD/Red Hot Organization. 8/10
I think we’re gonna need a bigger boat | The BPA
Norman Cook tem 45 anos de idade. Devia ter aprendido que, no pop, existe um preço a ser pago por piada repetida.
De qualquer forma, os corajosos são recompensados, não são? E Cook é um desses que dão a cara a tapa, vão para a galera, gravam DVD no Brasil, usam pseudônimos como Pizzaman e, quando as coisas não dão certo, retornam do zero, mui modestamente. Quer dizer: isso se contarmos The Brighton Port Authority (ou The BPA) como uma tentativa de reinvenção do funk-soul-brotha.
(No fundo, é piada repetida mesmo).
Descobri há uns três minutos e meio que, para esquentar o trio elétrico, Cook criou uma historinha fictícia como embalagem para o BPA. É mais ou menos assim: autoridades de Brighton encontraram num galpão abandonado uma coleção de antigas fitas-cassete que cairiam no esquecimento se o-seu-o-nosso Fatboy Slim não tivesse recuperado as “preciosidades” em um CD chamado I think we’re gonna need a bigger boat.
Ok, divertidinho, mas me explica um negócio: por que alguém iria se interessar terrivelmente por uma demo de Pete York? E quem é Connan Hosford mesmo?
Está na cara que The BPA é um pseudônimo para Fatboy Slim (o que não deixa de ser engraçado, caso para terapia, múltiplas personalidades e tal). Não é a primeira vez que Cook convida gente conhecida para dar molho ao pop eletrônico que ele cozinha desde meados dos anos 90. Substitua Macy Gray por Martha Wainwright e você tem Spade, por exemplo.
Mas algo mudou. Algo. Pequeno. Mas algo. A diferença é que, talvez entusiasmado com a possibilidade de um retorno triunfal às paradas de sucesso (ou desconfiado que o público estaria cansado do nome Fatboy Slim, e não da música em si – santa inocência), Cook compôs o álbum escancaradamente pop, sem culpa e sem-noção, que poderia muito bem ter dado sequência a You’ve come a long way, baby (1998).
É um bom disco, principalmente para quem sempre ouviu os álbuns do Fatboy Slim pulando as partes aborrecidas (isto é: as jams de big beats, em que ele tentava, sem sucesso, concorrer com o Chemical Brothers). Imaginem aí um álbum inteirinho de canções na linha de Praise you.
The BPA é isto: um refrão repetido num loop infinito de satisfação instantânea, com efeitos engraçadinhos e um punhado de referências de rock setentista (o disco abre com Iggy Pop e quase fecha com David Byrne, com uma ou duas baladinhas soul no meio).
A escolha de Byrne para o single de apresentação, Toe jam, entra na lista de ideias picaretas e oportunas de Cook: numa época em que 9 entre 10 bandas são influenciadas por Talking Heads, incluir o próprio Byrne num mix pode soar como uma grande obviedade. Mas é essa a porta de entrada para o disco: Cook, o rei das obviedades.
Ele merece outra chance (e a música com Pete York nem é tão desagradável assim). E vai ter videoclipe dirigido pelo Spike Jonze, vai?
Primeiro álbum do Brighton Port Authority. 12 faixas, com produção de Norman Cook. Southern Fried. 6/10
Lost | Jughead
Há coisas mais importantes acontecendo, tá (o fim do mundo, por exemplo). Mas um pulinho na ilha da fantasia, pode ser?
Se a quinta temporada de Lost abriu num empurrão, o terceiro episódio segue o ritmo do anterior. Para que flashbacks (e por aqui, admito, eles começam a fazer falta) quando os personagens podem transportam ao passado quando os roteiristas bem entendem?
Cada vez mais, fica a impressão de que um capítulo de Lost não sobrevive sem a revelação de uma ou duas surpresas importantes para satisfazer a curiosidade dos fãs. Por enquanto, dá conta da tarefa: saber que Widmore já esteve na ilha pode não representar nenhum grande susto, mas fica claro que a maior diversão dos roteiristas é pregar esse tipo de peça no espectador.
Não faço ideia se, daqui a três ou quatro capítulos, esse formato frágil cairá por terra. A verdade é que a série não consegue (ou não quer) mais se divertir com o perfil psicológico dos personagens. A relação entre Desmond e o filho (chamado Charlie) é atropelada pela ação. Aguardo por um episódio decente sobre Richard Alpert, o ladrão de cenas desta temporada. E o Ben, que deveria estar no centro desta história, onde foi parar?
A ordem é esta: preencher lacunas da narrativa, para que ninguém sinta falta de explicações quando o final da série chegar. É assim desde a quarta temporada. Só espero que consigam aliar esse estrutura meio mecânica e matemática aos dramas dos personagens. Caso contrário, será só mais um jogo de videogame (e, aí, o jeito será uma esticadinha no caloroso True blood).
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