Mês: fevereiro 2009
Epilepsy is dancing | Antony and the Johnsons
Eu juro que ainda não sabia: para se recuperar do baque de Speed Racer, os irmãos Wachowski não se afogaram em whisky e gibis – eles dirigiram um clipe do Antony and the Johnsons. Quem imaginaria? Tal como Matrix, o vídeo lida com realidades paralelas, mas o que resulta do transe é o produto audiovisual mais escancaradamente homoerótico desde… Mary Poppins?
Uma loucura.
No happening campestre com um quê de Cirque du soleil, Boy Ge… Antony veste-se com a melhor fantasia de Björk e canta borboletas (meigo isso). Com os Wachowski, participaram do clipe os pintores Tino Rodriguez e Virgo Paraiso, além do coreógrafo Sean Dorsey e da atriz Johanna Constanine. Praticamente uma instalação.
Pra mim, ficou bastante claro que Speed Racer era um filme gay. Ou não era?
(Dica do Diego)
2 ou 3 parágrafos | Coraline e o mundo secreto
Nos primeiros trinta e tantos minutos, me parece uma obra-prima: Coraline (7/10) é uma animação stop-motion tão obsessivamente detalhista (até o cabelo dos personagens sugere um trabalho de criação de uns cinquenta anos) que pode ser admirada apenas como uma espécie de delírio surrealista, uma fantástica fábrica de chocolate meio-amargo, sem que dediquemos excessiva atenção à trama. Isto é: daria um curta-metragem extraordinário.
Como um longa de 1h40 de duração, o impacto visual é minimizado. Depois dos primeiros trinta e tantos minutos, a trama pesa sobre o projeto e passamos a sentir falta de Tim Burton – que, ao contrário de O estranho mundo de Jack e James e o pessego gigante, desta vez deixou o diretor Henry Selick na mão. Mais que tudo, falta ritmo à narrativa – quando os mistérios do “mundo secreto” de Coraline começam a se resolver, o que era fascinante se revela um conto de fadas bem mais corriqueiro do que imaginávamos.
De qualquer forma, não dá para desconsiderar o trabalho (e entenda trabalho como algo penoso) de Selick, que encontra frescor numa técnica antiga de animação – o resultado é mais deslumbrante que muito brinquedinho da era digital.
O lutador
The wrestler, 2008. De Darren Aronofsky. Com Mickey Rourke, Marisa Tomei e Evan Rachel Wood. 115min. 8/10
Até ontem, eu queria ver Mickey Rourke ganhando um Oscar só para dar uma espiadinha na reação do Rubens Ewald Filho, que insiste naquele papo frouxo de que Hollywood quer circo, Rourke é o palhaço da vez e Benjamin Button é uma obra-prima sobre o tempo que passa e (meu deus, tão triste) não volta mais.
Hoje eu quero ver Mickey Rourke ganhando um Oscar por outro motivo: entre os cinco indicados, ele me parece de longe o mais forte. De longe. E já vi tanto Milk (uma ótima atuação de Sean Penn) quanto Frost/Nixon (Frank Langella merecia um… Emmy?). Li que o papel de Randy “The Ram” Robinson quase parou nas mãos de Nicolas Cage. Teria sido um filme extremamente diferente deste que vemos hoje.
Impossível calcular o valor daquilo que Rourke agrega ao filme: dignidade? O mais impressionante, no caso, é como o ator cede generosamente a própria imagem pública ao personagem. Talvez ele não tenha muito em comum com Robinson (mas sabemos da traumática passagem de Rourke pelos ringues, por exemplo), mas permite que acreditemos no contrário. A partir da primeira cena, assistimos a uma comunhão visceral entre personagem e ator. O filme está ganho por nocaute quando Rourke aparece na tela pela primeira vez.
O quão raro é isso? Na trama, Robinson é um homem largado no limbo da sociedade, obrigado a abandonar o único talento (a luta ensaiada, à telecatch) por problemas de saúde. Para qualquer ator, seria uma tarefa no mínimo complicada evocar essa sensação de solidão, de uma vida que instantaneamente perde todo o sentido quando os holofotes se apagam. Rourke encarna esse sentimento de desamparo sem o menor esforço. Não que ele tenha nascido para intepretar o papel, mas o ator é capaz de compreender profundamente as experiências e frustrações de Robinson.
Rourke carrega o peso do filme nas costas. O espectador sente. E, com o auxílio do ator, Darren Aronofsky dá continuidade ao cinema físico de Réquiem para um sonho, obcecado pela degradação do corpo, o choque carnal, o corte na pele. Numa das primeiras cenas, Robinson rasga a testa com uma gilete. O espetáculo dos ringues é falso e sabemos disso – mas os atores desse circo saem marcados, pagam o preço.
O corpo como performance. O roteiro de Robert D. Siegel, nesse sentido, não poderia ter sido mais explícito (quase didático, aliás). A pessoa mais próxima de Robinson é uma stripper (interpretada por Marisa Tomei, também excelente). E o maior dilema do protagonista é participar ou não de uma luta pouco depois de sofrer um dano no coração.
O filme lida com os limites físicos e emocionais dos personagens, e o faz de uma forma direta, com câmera na mão e uma falsa aparência de urgência em cada cena. Aronofsky ainda se deixa levar por certos artifícios (comparar o primeiro dia de trabalho de Robinson num balcão de frios com a entrada no ringue = chover no molhado) e o roteiro de Siegel, ainda que tome um caminho realista, penaliza exageradamente o personagem como recurso para reforçar a catarse do clímax (a referência de A paixão de Cristo não é em vão; já a relação entre Robinson e a filha se aproxima perigosamente de um dramalhão à Rocky Balboa).
Mas tudo isso, esses detalhes, esses chavões, esses truques, só começam a chatear depois da exibição. Nas duas horas de filme, somos simplesmente cúmplices da via crúcis de um personagem e de um ator – que parece existir de fato, que machuca verdadeiramente, rende cicatrizes e, por isso, não nos deixa em paz.
Mel Gibson tem muito a aprender com Darren Aronofsky, afinal. Não é um grande diretor. Mas, em O lutador, ele encontra o elemento que faltava a seus longas anteriores: força vital. Culpa de quem mesmo?
Lost | This place is death
Até aqui, este poderia muito bem ser eleito o episódio-símbolo desta quinta temporada. Frenético e abarrotado de situações e informações, o capítulo esclareceu pelo menos três grandes mistérios antes mesmo dos créditos iniciais. Em pouco mais de 40 minutos, eis um exemplo de que Lost se sustenta como uma série simplesmente de ação, que nos impressiona mais pela agilidade da narrativa que por qualquer outro motivo.
Por enquanto não consigo prestar atenção às atuações nem ao trabalho dos diretores – as revelações de texto devoram tudo. Fica até difícil escrever sobre os episódios, já que eles parecem peças de um fluxo narrativo que só fará sentido (ou não!) na última cena da temporada. O máximo que podemos fazer é apontar alguns momentos surpreendentes e tentar prever o desenrolar das tramas – no fim das contas, muito pouco.
De qualquer forma, This place is death me espantou por resolver questões que poderiam ter se alongado por mais uns cinco ou seis episódios. Nunca vi um capítulo tão apressado para chegar logo ao fio da meada. Façamos as contas: ficamos sabendo sobre toda a história do desembarque de Rousseau à ilha (nos primeiros cinco ou seis minutos), acompanhamos a chegada dos losties à Estação Orquídea e a saída de John Locke para o “mundo real” (além disso, o que foi aquele encontro com o pai do Jack?) e, para completar, alguns dos Ocean 6 já se juntaram para, finalmente, tentar um retorno à ilha. É muito ou quer mais?
Em meio ao corre-corre, alguns momentos me agradaram mais que outros: a necessidade de juntar didaticamente todas as peças do quebra-cabeça incomoda um pouco, ainda que o retorno do “monstro de fumaça” tenha ajudado a nos mostrar que a série ocupa hoje o terreno da fantasia mais juvenil e absurda (a cada flash de viagem no tempo, fica a impressão de que a ilha está brincando com os sobreviventes). Eu não reclamo. E nem sou dos que querem comprar uma edição de Lost for dummies para entender logo os segredos da ilha.
O que me pergunto é: depois de resolver muitas das questões que atormentam os fãs, será que a série terá estofo para continuar de pé? Talvez esteja aí uma explicação para a intensa velocidade desses novos episódios de Lost: quanto mais velozes, menos pensaremos nesse assunto.
Milk – A voz da igualdade
Milk, 2008. De Gus Van Sant. Com Sean Penn, James Franco, Josh Brolin, Emile Hirsch e Diego Luna. 128min. 7.5/10
Lembro que, no lançamento de Paranoid Park, Gus Van Sant contava que, depois de uma trilogia de imagens compostas com absoluto rigor (Gerry, Elefante e Last days), estava pronto para projetos mais permeáveis, em constante mutação. Um cinema (pelo menos aparentemente) ao sabor do vento, digamos assim.
Daí que, para quem acompanha o cineasta, Milk provoca um susto inevitável. Que vento brando é esse?
A reação mais imediata a esta cinebiografia de Harvey Milk, o primeiro político assumidamente gay a ocupar um importante cargo público em São Francisco, é tomar o projeto como um desvio de percurso, um flerte tardio com um modelo mais padronizado de narrativa.
No trailer, a referência é Gênio indomável, e aposto que parte do público sairá do cinema perguntando o que o diretor fez desde aquele filme de 1997 escrito por Matt Damon e Ben Affleck. Gus Van Sant? Quanto tempo!
Mas é apenas uma primeira impressão. Aos poucos, Milk revela um cineasta infinitamente mais maduro e consciente dos próprios métodos que o de Gênio indomável. Adotar uma linguagem acessível, linear e “clássica” é, no caso, uma decisão política.
Tiremos o elefante da sala, então: o longa-metragem (que, agora percebo, não tem chance alguma de ganhar o Oscar de melhor filme) acompanha a trajetória política de Milk durante os anos 1970, dos primeiros comícios (improvisados em caixotes de madeira) ao assassinato, em 1978. Entrecortando a ação, legendas contextualizam as principais manifestações pelos direitos dos gays em São Francisco e há flahses da vida doméstica do político, os amores e os desafetos. O roteiro, escrito por Dustin Lance Black (da série Big love), é narrado em forma de testamento pelo próprio Milk.
Ou seja: eis a estrutura tradicional de uma biopic, daquelas que Milos Forman adoraria dirigir.
O fascinante, no caso, é acompanhar como Van Sant lida com o gênero. Adotar um formato convencional garante a Harvey Milk aquilo que o cineasta toma como uma “imagem digna”. É o retrato de um homem público que lutou pelos direitos de minorias. Nada mais justo que filmá-lo com serenidade, clareza e profundo respeito – e é o que Van Sant faz.
Milk não leva o Oscar por ser um drama em tom menor, sem afetações ou conflitos explosivos entre personagens (não procurem aqui um Oliver Stone). Van Sant adota um clima quase solene, e até a trilha de Danny Elfman evita firulas. A interpretação de Sean Penn segue o mesmo ritmo: os trejeitos e discursos não transformam Milk num símbolo frio, mas ressaltam os instantes de fragilidade, de incerteza. Penn escapa da arapuca do one-man-show com bastante elegância – não defende um mártir, mas um homem comum que se faz agente de uma época de transformações.
Perceber como Van Sant altera sutilmente o padrão de uma cinebiografia renderia textos mais interessantes e longos que este. Adianto que, na confusão de imagems documentais com a ficção (e na inserção de slogans e fotografias como parte da narrativa), o diretor faz uma versão light para as experiências de Paranoid Park. E o clímax é filmado exatamente como a cena do massacre de Elefante. É o mesmo movimento de câmera (a fotografia de Harris Savides, aliás, é de emocionar), mas com um efeito diferente. Em vez do choque, o tributo.
Não é o filme do Gus Van Sant radicalmente inventivo com quem nos acostumamos desde Gerry. Mas, mesmo obrigado a negociar com expectativas dos produtores de Beleza americana, o cineasta consegue fazer de Milk um projeto pessoal capaz de canalizar todo o sentimento de mudança da América de 2008. Perto dos longas anteriores, é pequeno. Mas não se trata de um filme simples, muito menos raso, apesar das aparências.
2 ou 3 parágrafos | Operação Valquíria
Um amigo meu diz que, só de ver a imagem de um Tom Cruise de tapa-olho no trailer de Operação Valquíria (4.5/10), prende o riso. Pois tenho certeza de que, se Bryan Singer tivesse filmado esta trama com as liberdades de quem narra uma adaptação de quadrinhos, o resultado teria saído completamente infiel aos “fatos reais” e infinitamente mais solto e fluente que isto aqui.
É o projeto mais sisudo da carreira de Singer, e aquele em que discursa frontalmente sobre um tema que explorou com mais sutileza em O aprendiz e X-Men: os traumas do nazismo. Talvez fascinado pelo personagem principal – um oficial que lidera uma conspiração contra Hitler -, o diretor mantém este herói numa redoma enquanto narra em detalhes as situações que teriam levado ao fracasso de um plano bastante engenhoso. Nos momentos mais enfadonhos, lembra Munique, outro thriller em que o relato da ação conta mais que a reflexão em si.
Não vejo em Singer um diretor incapaz de conduzir uma narrativa clássica e controlada – só acontece que os aspectos mais curiosos do longa nunca se resolvem: como transformar uma celebridade de Hollywood num oficial alemão? Como aliar entretenimento e resgate histórico? Nas mãos de Paul Verhoeven, teria sido um estouro.
Begone dull care | Junior Boys
Só descobri que o Junior Boys é uma banda em crise de personalidade quando assisti a um show do duo ano passado, no Tim Festival. Os álbuns de Jeremy Greenspan e Matt Didemus pareciam obras de um grupo de cientistas solitários e melancólicos, trancados numa incrível experiência com moléculas do pop no inverno de Montreal.
(Parece um tédio, mas poucas bandas têm esse talento para manipular o lado mais gélido e cerebral do synthpop e, com poucos bits e sussurros, sangrar com canções de amor cruas e, às vezes, dançantes. O segundo disco se chama So this is goodbye, e é praticamente um tratado sobre despedidas. Em estúdio, o Junior Boys experimenta com o minimalismo das emoções.)
A outra personalidade da banda, que só encontramos nos palcos (e daí o choque que a performance do Tim Festival provocou sobre o Tiagão aqui), é bem menos misteriosa. A aparência (deliciosamente) robótica dos discos se desfaz num formato mais tangível. Jeremy e Matt se apresentam como dois simpáticos tios que passaram talvez tempo demais escutando álbuns de electropop dos anos 80 e elegeram Prince como uma espécie de fada madrinha. Privilegiam os vocais, quebram o gelo melódico e vestem camisa polo.
Uma imagem menos fascinante, certo? Certo, mas que explica em grande parte a lenta transformação que descambou neste Begone dull care, o álbum mais caloroso dos canadenses. Pode parecer incrível, mas soa quase como se eles tivessem virado gente de carne e osso.
O disco se aproxima muito do que vi no palco do Tim Festival. Se a banda anda tentando fazer do estúdio um espelho para as apresentações ao vivo, está chegando lá. É um álbum convidativo da primeira à última faixa (só a segunda, Work, exige repetidas audições) e que adota um tom mais ensolarado, até desajeitadamente sexy, de soul music oitentista (sem medo de abrir o coração para o kitsch, às vezes se aproximam descaradamente do Phoenix de Alphabetical).
É uma linguagem que eles ainda não dominam completamente bem, e talvez isso explique por que o álbum, mesmo assumidamente pop, não pareça tão bem resolvido quanto, por exemplo, Jim, de Jamie Lidell, ou In ghost colors, do Cut Copy. As ambições são mais reduzidas.
A partir do título, o disco se inspira nas animações abstratas de Norman McLaren, que lida com cores primárias e uma quantidade mínima de elementos visuais. Daí vem o tom mais radiante dos arranjos e o detalhismo da composição das faixas. Faça a experiência: ouça a faixa Dull to pause enquanto assiste ao curta-metragem Spook sport, de 1940. Combina.
Para o Junior Boys, abraçar referências pop (sem perder esse estilo enxuto, quase esquelético) exige esforço. Muitas das faixas soam incompletas, e são poucas que aceitam profundamente esse novo modelo. A abertura, Paralell lines, é o experimento mais perfeitinho e, num playlist particular, entrariam Bits and pieces (em que eles reprisam o pop-grude de In the morning), Dull to pause e Sneak a picture.
E só. O que não é nada ruim, já que são faixas excelentes – ao mesmo tempo confortáveis e repletas de detalhes, texturas e ousadias sonoras, que não abandonam certas características dos discos anteriores. Outras canções, como Hazel eyes, exageram na doçura. Work, o elemento estranho do disco, sente saudades do primeiro álbum da dupla, Last exit.
Eles estão muito, muito perto de narrar canções verdadeiramente sinceras em primeira pessoa. Se ficaremos satisfeitos ou não com essa versão humanizada (rotineira?) do Junior Boys…
So this is hello?
Terceiro álbum do Junior Boys. Oito faixas, com produção da própria banda. Domino Records. 7/10
Dúvida
Doubt, 2008. De John Patrick Shanley. Com Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e Viola Davis. 105min. 5/10
Vi o filme num grupo de cinco e, terminada a sessão, uma amiga minha (que, como 90% dos brasilienses, vai ao cinema cerca de quatro vezes por semana) lançou a pergunta: ‘e se Dúvida fosse um filme francês?’
A provocação colou: ficamos debatendo por uns 15 minutos, claro que naquele tom de gozação babaca e infantil que não cabe nem num texto de blog. Aí alguém sugeriu que (e perdoem a simplificação tola, ok?) um auteur francês provavelmente filmaria a tema com uma câmera em dúvida. E não como um drama redundante como este aqui.
Nenhum dos cinco gostou do filme. Eu não me irritei tanto assim. A fotografia de Roger Deakins, comprimida em salas e corredores e planos desalmados, me agrada bastante – pelo menos parece carregar uma ideia, um conceito. Algo que O leitor, por exemplo, nem sonha em alcançar. E quando digo que só a fotografia presta, isso me parece muito positivo num mundo abarrotado de filmes que não prestam em nada (hoje vi Operação Valquíria, desculpem o tom aborrecido).
A trama, adaptada de uma peça de John Patrick Shanley que fez sucesso e ganhou prêmios dentro e fora da Broadway, tende a provocar uma sensação de estranhamento que é desfeita no momento em que percebemos a herança teatral da encenação – e, nos momentos mais interessantes, Shanley transfere elementos do palco para a tela, numa transcrição curiosa, até (saudavelmente) desrespeitosa com quem acha que lugar de cinema é no cinema e lugar de teatro é no teatro.
E é, a exemplo do que se encontra no teatro, um jogo dividido radicalmente com os atores, que são os verdadeiros donos do filme (e aí alguns se saem melhores que outros; estou entre os que implicam com o overacting de Meryl Streep e não veem motivos para a indicação de Viola Davis ao Oscar).
O texto de Shanley possivelmente mantém o tempo da peça – outro fator de estranhamento -, mas, por deus, que texto é esse? O discurso/tese/sermão sobre dúvida é tão cristalino e superficial que o filme não abre margem para… meios-tons, incertezas, instabilidade. Não é engraçado? Era para ter sido engraçado? (E aí voltamos à conversa bobinha à saída da sessão).
No filme, a dúvida é tratada menos como um pecado e mais como um elo. Não estou interpretando nada, vejam. Isso o padre de Philip Seymour Hoffman nos explica logo nas primeiras cenas. Nos diálogos, o tema retorna didaticamente à tona, até descambar num desfecho que só funcionará para quem assistir ao filme como uma comédia camp.
Por mais que o longa não assuma um tom realista (a composição do ambiente religioso é tão cheio de paradoxos que o texto todo se aproxima de uma parábola, uma homilia ou algo do gênero), a composição da personagem de Streep me parece um equívoco. Não por estar deslocada em relação ao restante do elenco (se bem pensada, seria uma estratégia interessante para a narrativa), mas por ocupar as cenas como um carro-alegórico. Ela se transforma num símbolo de intolerância sem complexidade alguma, e por isso a cena final soa tão fake e risível. Pense na Cruela Cruel em um momento de crise de consciência.
Mas ah, sim, o filme é distribuído pela Disney. Isso explica tudo. (E, à amiga cinéfila, recomendei A questão humana).
Grammy Awards
Eu interpretei como uma espécie de solução de emergência. A Recording Academy estava dividida entre os dois álbuns mais bem-sucedidos (comercialmente) de 2008: o do Lil Wayne e o do Coldplay. Não são discos ousados, inventivos, revolucionários nem nada (mesmo que o Coldplay pense o contrário), mas, para os padrões conservadores do prêmio, sempre parece mais razoável tirar um veterano da cartola e consagrá-lo pela enésima vez.
Alguém mais lembra que a versão unplugged de Layla, do Eric Clapton, desbancou Smells like teen spirit como melhor canção do ano? Raising sand, o disco do Robert Plant com Alison Krauss, me parece correto (apesar das pouquíssimas audições e do imediato desinteresse pelo projeto). Mas convenhamos: o encontro de um símbolo do rock e de uma musa do bluegrass soa mais palatável para o Grammy que um álbum solo de Plant, por exemplo.
Para mostrar que não vive do passado, o Grammy colocou o disco-amostra-grátis do Radiohead na briga. Não colou (cadê TV on the Radio, heim?). O que se nota (e isso vale para a premiação como um todo) é um descompasso cada vez maior entre o grande prêmio da indústria fonográfica e uma (não tão) nova dinâmica da música pop, que deixou de precisar do aval das grandes gravadoras para se segurar de pé. Não sei se vocês perceberam, mas os independentes praticamente foram excluídos da festa (o disco do Plant é da Rounder Records, mas é quase todo de regravações e tem o selo do T. Bone Burnett).
Quer o exemplo mais gritante? Na concorrência por melhor álbum alternativo (e são mais de 100 categorias!), Radiohead era o único verdadeiramente indie: disputava com bandas como Raconteurs e Gnarls Barkley, ambos da Warner. Nem se viu sombra de Vampire Weekend. E No Age disputou o prêmio de melhor embalagem de CD. Perdeu para o Metallica, aliás.
Daí que fica aquela coisa: o pop rock segue em frente (de um jeito muito diferente), enquanto a indústria continua olhando para trás. Não vai terminar bem.
Pelo menos tem gente encontrando brechas nesse sistema antiquado. O que nos leva aos dois melhores momentos da noite. O primeiro, de longe, foi o surto do Radiohead, que apresentou 15 step com uma banda daquelas de parada militar. Intenso.
Antes disso, uma M.I.A. que naquela hora provavelmente já havia rompido a bolsa d’água, encontra os manos do hip hop (Kanye West, Jay-Z, T.I. e Lil Wayne) num número musical que, apesar de todo planejadinho, acabou soando espontâneo como poucos.
No mais, Gilberto Gil perdeu (com justiça – por aqui, o álbum do ex-ministro bateu e voltou), Adele foi eleita a revelação do ano e até o Coldplay, com visual mendigo-chic, ficou surpreso com o prêmio de melhor álbum de rock. Sabe aquela cena de Titanic em que a banda toca enquanto o navio afunda? Eis o Grammy 2009.
O leitor
The reader, 2008. De Stephen Daldry. Com Kate Winslet, David Kross e Ralph Fiennes. 124min. 4/10
Li o livro de Bernhard Schlink em três dias. É uma obra de capítulos curtos – quando muito, cinco páginas cada – e frases quase secas. O raciocínio do escritor prima pela clareza: para ele, escrever sobre os filhos alemães da Segunda Guerra Mundial exige precisão. Os sentimentos dos personagens são dúbios – a prosa de Schlink, não.
No último capítulo, o narrador chega a se explicar para quem o lê. Ele quer se livrar da própria história. Em determinado ponto, reconhece que aquelas lembranças poderiam ter sido narradas de outra forma. Mas a versão que sobreviveu foi aquela: sem floreios e peripécias, por isso brutal.
O filme de Stephen Daldry é uma interpretação sentimental para o livro. Com peripécias. E floreios. Até aí, não me incomodo. Nenhuma adaptação cinematográfica tem a obrigação de jurar fidelidade à trama, à atmosfera, aos personagens, às reflexões, ao desfecho (etc) da obra em que se inspira. Geralmente, prefiro as mais infiéis. Mas taí uma tradução que lima praticamente tudo o que me interessa no texto original.
Seria até curioso – se Daldry dialogasse corajosamente com Schlink. Mas ele nem tenta. Como cinema, O leitor nem chega a importar: é excessivamente acadêmico (dá para notar o dedo da Weinstein Co. em cada sequência), uma sucessão de imagens vazias de propósito (e é no mínimo cômico que a fotografia tenha recebido uma indicação ao Oscar), pré-formatadas de acordo com algumas normas de “elegância” herdadas de um, digamos, James Ivory. Um tédio profundo.
O que o filme ressalta (já que não há mais nada a ressaltar) é o texto de David Hare. Na cola do livro, ele sugere alguma discussão moral sobre o papel dos algozes do holocausto. Talvez parte do público se deixe envolver pelo tema, e muita gente sairá satisfeita da sessão. Mas é uma trama que mantém aquilo que existe de mais superficial no livro (a comparação entre o caso de amor entre o menino de 15 anos e uma mulher mais velha e a forma como essa mesma mulher tratava os judeus nos campos de concentração, anos antes) e dilui o eixo da “fábula” de Schlink (o mini-ensaio filosófico sobre culpa).
O narrador do livro entende as diferenças entre o que é certo e o que é errado. Schlink investiga o imenso espaço que separa o que é justo e o que simplesmente existe no mundo – nossas crises morais, contradições.
Daldry ilustra o texto com os recursos sentimentalóides que vimos em As horas: a trilha sonora de David Hare, se não é tão chantagista quanto a de Philip Glass, também massacra a ação. E as idas e vindas no tempo servem apenas para acumular efeitos e preparar o terreno para um clímax redentor (quando, no livro, o encontro entre o narrador e a sobrevivente do holocausto cabe em algumas poucas páginas secas).
Sei que é cruel (e, no fim das contas, impossível, absurdo) comparar a experiência de leitura com o resultado de uma adaptação cinematográfica. No caso, não consigo evitar. Até os detalhes do filme me beliscam: uma trama dedicada tão especificamente à vida na Alemanha (e, até certo ponto, à comunicação via leitura, narração) deveria mesmo ser falada em inglês? E com sotaque britânico (e uma Kate Winslet soterrada por quilos de maquiagem)?
Não sei, provavelmente sim (tudo é possível!, já diria Benjamin Button), mas, de concessão em concessão, de ideia apressada em ideia apressada, o filme de Daldry vai se distanciando do livro de Schlink e virando algo completamente diferente. Uma história de amor proibido, talvez? Os leitores saem ganhando.
Nothing to worry about | Peter Bjorn and John
No clipe de Peter Bjorn and John (que estão prestes a lançar novo álbum, Living thing), uma gangue de skatistas topetudos ameaça invadir a pista, arruinar a lei do silêncio, assustar os poodles da praça e molestar meninas inocentes. Dá até medo, mas… eu juro que já vi essa coreografia num vídeo da fase tonta da Britney Spears. Certeza que o Spike Jonze não está por trás disso?
Superoito express (II)
Mais disquinhos em saudáveis pílulas de suposta sabedoria (e prometo escrever algo sobre o novo do Junior Boys assim que eu conseguir entender o que eles decidiram fazer da pobre vida deles – não está fácil para mim, não está fácil para eles).
It’s not me, it’s you | Lily Allen | 4.5 | Sem estofo psicológico (ou preparo físico, ou vergonha na cara, ou DNA) para virar uma nova Amy Winehouse, Lily Allen se contenta em assistir, da arquibancada VIP, ao espetáculo grotesco do pop. Pobre menina rica. Produzido por Greg Kurstin (The Bird and the Bee), o disco troca a leveza quase boba de Alright, still (2006) por um modelito que deveria sugerir maturidade, mas acaba soando estranhamente trivial. Os versinhos rancorosos divertem até o momento em que se nota que a nova pose de Allen – a estrela chamuscada pelos holofotes da indústria – é o clichê número 1 do mundo pop (e a música mais agradável, olhalá, elogia o serviço de delivery de comida chinesa).
Grrr… | Bishop Allen | 5.5 | O duo nova-iorquino participa dos filmes de Andrew Bujalski (o que deve significar alguma coisa mas, como não vi os filmes, não posso dizer qual), com quem dividia apartamento na época da faculdade. Este terceiro álbum, que lembra o Shins até na capa, começa bem (Dimmer e The lion & the teacup são singles decentes), chega perto de algo memorável (Dirt on your new shoes) e, pouco depois, vai se afundando lentamente na própria falta de ambição.
Dear John | Loney, Dear | 6 | Longe da Sub Pop, onde foi formatado para preencher os requisitos de um típico songwriter sueco (sentimental, doce, desesperado pelo seu colo), Emil Svanangen solta-se das amarras nesta estreia na Polyvinyl. Parece até outro homem, mais corajoso (note a forma como ele brinca com elementos eletrônicos já na abertura, a tensa Airport surroundings) e menos frágil. Quer dizer, nem tanto: vide a balada desamparada I was only going out. Há traumas que não se resolvem.
A-Lex | Sepultura | 5.5 | Ao mesmo tempo em que o Sepultura reencontra o foco via inspiração literária (o álbum anterior tomou como referência nada menos que A divina comédia), o disco explicita a tendência da banda a tomar sempre o caminho mais reto. Daí que, apesar de fazer sentido a história de adaptar Laranja mecânica em formato thrash (fúria e violência não faltam a essas faixas), o disco lima toda a complexidade do livro em prol do desespero puro e simples – isso sem contar que ninguém no planeta precisa de um solo de guitarra da Nona Sinfonia de Beethoven.
Lost | The little prince
Uma homenagem de Lost ao livro favorito das candidatas a miss? E comandada por Kate, miss apatia? Minhas expectativas não eram exatamente altas em relação a este episódio. Talvez por isso eu tenha me surpreendido com o resultado, até simpático e tal.
Em meio à avalanche de informações desta quinta temporada, eu andava precisando mesmo de um capítulo desses, que explora relações entre personagens (Jack & Kate, Aaron & Kate, Kate & Sun, Jin & um bando de franceses num bote bacana) enquanto larga uma dezena de pistas mais ou menos desconexas para que os fãs se divirtam até semana que vem.
Pelo menos os roteiristas têm senso de humor. “Time travel’s a bitch”, comentou Sawyer, na frase que resume este início de temporada. E Evangeline Lilly comentou numa entrevista que se também se confunde com essa história de saltos temporais. Ok, não estou sozinho.
Só que, não é por nada não, se insistirem em cenas como aquela em que Sawyer assiste a um evento do passado (e cai numa crise sentimental que ressuscita um antigo triângulo amoroso que… você também não sentia falta?), Damon Lindelof e cia. poderiam convocar logo o Robert Zemeckis para dirigir um dos episódios.
No mais, o que foi aquele resgate de Jin? O homem mais sortudo do planeta Terra ou o quê?
Tudo bem que esta série exige imaginação mais fértil que a do jovem herói do livro de Antoine de Saint-Exupéry. Se é assim, nos concentremos um pouco em algumas das novas pistas: dizem por aí que a palavra “besixdouze”, que aparece numa das cenas, foi o nome escolhido para remeter a um asteróide descoberto em 1993. Em O pequeno príncipe, o personagem principal vive num asteróide chamado B612. Em francês, se pronuncia “besixdouze”. O que pode ter a ver com o feixe de luz que aparece entre as montanhas (e é solenemente desprezado por John Locke).
Mas que também pode não significar nada. Será que as misses têm a resposta?
No mais, os misteriosos números voltam a aparecer, por exemplo, no endereço de Kate: 42 Panorama St. É um detalhe mais interessante que a relação amorosa entre Kate e Jack. De tão arrastada, fica a impressão de que, fora da ilha, a love story tomou uma ducha fria de realidade. Ou seria apenas uma lembrança de que, em matéria de romantismo, Lost soa tão crível quanto um episódio de Gossip girl?
(E narizes sangrando me lembram da época em que cheguei em Brasília. Um inferno. Era toda semana. 12 anos de idade, sangue pra abastecer cinco filmes de zumbis. Tive que cauterizar, e desde então vivo bem, obrigado.)
2 ou 3 parágrafos | Little Joy em Brasília
Na intensa correria da minha vida banal, acabei esquecendo de escrever dois ou três parágrafos sobre o show do Little Joy aqui em Brasília, que lotou sábado passado o pequeno Espaço Brasil Telecom (e aproveito o momento para abrir um modesto puxadinho aqui do blog chamado 2 ou 3 parágrafos, dedicado a textinhos que morrem na praia).
No palco, talvez instigada pelos fãs enloquecidos do Los Hermanos, a banda reforçou a informalidade do disco: poucas vezes vi um Rodrigo Amarante tão animado. E quem esperaria encontrar um Fabrizio Moretti que, além dos elogios rasgados a Brasília, puxaria um coro de Último romance, só para provocar o vocalista (que, meio constrangido, quase se escondeu debaixo das poltronas do teatro)?
Os 50 minutos de pocket-performance funcionaram como uma espécie de contraponto para o show do Marcelo Camelo (sem querer forçar comparações, imagiiina) – despreocupado, ensolarado, uma tarde na piscina (e, nessas condições, até a voz miúda de Binki Shapiro fica simpática). Mas, apesar da vitória do Los Hermanos sobre o Strokes, o grande momento foi mesmo a cover de This time tomorrow, do Kinks. Será que o Amarante também ficou de quatro por Amantes constantes? Ponto para ele.
Quem quer ser um milionário?
Slumdog millionaire, 2008. De Danny Boyle. Com Dev Patel, Freida Pinto e Anil Kapoor. 120min. 6/10
As resenhas sobre Quem quer ser um milionário? me vendem um filme que não encontro na tela. Quando passo o olho no Metacritic, tenho a impressão de ter entrado na sala errada. “É a primeira obra-prima globalizada do mundo”, escreveram no Wall Street Journal. Imagino os termos que eles usaram para analisar a crise econômica.
Eu não deveria estar morrendo de saudades do hype em torno de Pequena Miss Sunshine. Mas é quase o que sinto. Vamos lá, gente: o filmezinho de Danny Boyle, se não chega a passar batido feito novela de Glória Perez, não é isso tudo. E não precisamos esperar a ressaca do Oscar para constatar que a suposta homenagem do diretor de Trainspotting às superproduções de Bollywood não passa de um game show bem-intencionado, editado por um discípulo de Daniel Rezende.
As comparações com Cidade de Deus são e serão todas inevitáveis e óbvias (e, de fato, há dois ou três planos que justificam um processo por direitos autorais). Mas nem acredito que Boyle tenha embarcado para Mumbai com a intenção de compor um tratado sociológico sobre a Índia contemporânea. Trata-se de um olhar assumidamente estrangeiro e superficial para uma realidade que, quando muito, é tratada como pano de fundo para uma fábula.
A menos que, como grande parte da crítica norte-americana, você também compre o filme como um retrato mais ou menos complexo das favelas indianas (e depois não vá reclamar com os espectadores indianos que fizeram campanha contra Boyle).
Na verdade, é uma pena que o longa tenha se transformado em coqueluche de cerimônias de premiação. Cada prêmio grave e imponente (melhor diretor segundo o sindicato de cineastas de Hollywood, para ficarmos no exemplo mais revoltante) cai com o peso de um tijolo sobre os ombros de uma produção que está entre as mais modestas da filmografia de Boyle (Extermínio, por exemplo, me parece mais vibrante).
O roteiro de Simon Beaufoy, adaptação do romance de Vikas Swarup, é uma camisa de força a que Boyle se adapta confortavelmente. A trama, sobre um menino pobre que se transforma em fenômeno do Show do milhão indiano (provavelmente por determinação do destino, quase todas as perguntas revelam alguma relação com fatos que ele já viveu), é esquemática o suficiente para garantir um clima quase insuportável de suspense no clímax (mas que filme sobre game shows não provocaria? E que game show não provoca?). O mesmo vale para a ideia de sacar um flashback a cada nova pergunta disparada pelo programa de tevê – um recurso cujo efeito se esgota nos 15 primeiros minutos de filme.
A costura de gêneros (love story, thriller, filme de competição esportiva e, finalmente, musical) é tão aparente que sugere uma referência apressada a dois ou três sucessos de Bollywood. A inspiração popular nunca é assumida por completo, escancarada e apaixonadamente. Ao contrário dos arrasa-quarteirões indianos, este longa não tem nenhum momento que fuja das normas de “bom gosto” de uma típica produção ocidental de entretenimento. O grotesco, o insólito (e aí imagino uma ode de Tarantino a Bollywood, como seria mais interessante!) são limados do produto final.
A Índia, e o cinema da Índia, são tomados por Boyle como um papel de parede colorido e exótico – e talvez por isso eu tenha me lembrado tanto de A praia durante a projeção. Mas, e taí uma explicação para o sucesso do filme, desta vez o diretor adota um olhar mais afetuoso, como quem trata a viagem como um aprendizado e se diverte com a experiência da filmagem (não à toa, a indiana Loveleen Tandan, responsável pela seleção do elenco, foi promovida a codiretora durante o processo).
Agora entendo por que, toda vez que a equipe do filme ganha um prêmio, ela se surpreende descontroladamente, como se aquela fosse a consagração mais extravagante do planeta. É sim. Mas isso é Hollywood.