Dia: fevereiro 27, 2009

Beware | Bonnie ‘Prince’ Billy

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bonnieprincecapaTodo álbum de Bonnie ‘Prince’ Billy é imediatamente tratado como o melhor álbum de Bonnie ‘Prince’ Billy. Você também ouviu essa história antes? Então bem-vindos a Beware, um Grande Álbum com uma Grande Banda gravado por um Grande Compositor em Grandes Estúdios, etc.

Admito que me assustei um pouco com a campanha de divulgação do disco. Pela primeira vez, Will Oldham adota uma estratégia que inclui um número expressivo de entrevistas à imprensa e fotos de divulgação. Para um sujeito declaradamente recluso, soa como um avanço. E um sinal de alerta.

Os fãs, de certa forma, estavam preparados para a transformação. Ano passado, Billy lançou Lie down in the light com o aviso de que aquele disco seria uma espécie de “lado suave” de um projeto mais grandioso. De fato, perto das ambições de Beware, o anterior fica parecendo um murmúrio (comovente, claro).

Trata-se do álbum mais ambicioso (e meticulosamente ambicioso) gravado por Oldham, e inclua aí I see a darkness, de 1999. É também o mais arriscado. Os fãs do músico certamente não cobravam um trabalho tão acessível e extrovertido  (a maioria prefere o trovador introspectivo de discos como The letting go e Ease down the road). E os fãs da fase soul de Cat Power… Será que eles estão prontos para o tom sombrio de canções como Death final e There is something I have to say?

Não há como prever. Mas, como Middle cyclone (de Neko Case) e Merriweather Post Pavillion (do Animal Collective), é um daqueles trabalhos que expandem a palheta de cores usada por ídolos indie e perigam cair no gosto do mainstream. Se acontecer, ficarei feliz por Oldham. Não que seja algo importantíssimo, mas o mainstream deve esse reconhecimento a ele.

No mais, o álbum faz algumas das concessões mais elegantes da história do alt.country. A estrutura clássica do disco nunca é negada por Oldham (para cada rompante country há uma balada emotiva), mas o que impressiona é a forma como essa nova estrutura não cai como um pedregulho sobre o lirismo sutil do compositor. Pelo contrário. Oldham conduz com muita segurança uma banda enérgica, talentosa (com flauta, banjo, saxofone, violino, palminhas e coro), além de um time de convidados especiais (a exemplo de Neko Case, lembremos).

Será acusado de ter tomado o caminho mais amplo e fotogênico. Mas não se deve desprezar um disco capaz de evocar tanto o Bob Dylan sereno de Nashville skyline quanto a atmosfera folk transcendental do Van Morrison de Astral weeks. O álbum soa universal assim, mesmo quando excessivamente formal ou previsível (lembra um pouco o rigor de The greatest, de Cat Power).

Com títulos como My life’s work e I am goodbyeBeware serviria até como um belíssimo testamento para Billy – vamos torcer para que, em vez disso, abra uma nova fase (com novos desafios; quem fica parado é poste) para o Grande Compositor.  

Sétimo álbum de Bonnie ‘Prince’ Billy. 13 faixas. Drag City/Palace Music/Domino Records. 8/10

Lost | The life and death of Jeremy Bentham

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lostbentham

A estranha lógica de Lost: depois de um episódio sustentado numa Grande Revelação (o retorno dos sobreviventes à ilha), The life and death of Jeremy Bentham deveria ter batido como um longo anticlímax. Aqui, os roteiristas da série recuam para acompanhar as aventuras de John Locke entre os pobres mortais. Surpreendentemente, o flashback rende os melhores 40 minutos desta temporada.

E uma prova bastante sólida de que Lost, mesmo em dias frenéticos, ainda consegue se dedicar decentemente aos perfis dos personagens.

O episódio confirma a fé dos seguidores de Locke: o salvador da humanidade (podemos cravar logo isso de uma vez por todas?) é torturado, morto, enforcado e (oh!) ressuscita para liderar os irmãos bem-aventurados. Confesso que, num primeiro momento, desconfiei das metáforas religiosas da trama. Mas agora, devidamente convertido, deixo o futuro desta saga nas mãos de Damon Lindelof e Carlon Cuse. Amém.

É que, apesar do recurso fácil de citar a Bíblia em vão (estratégia para fisgar os leitores de O código Da Vinci?), a série sai-se bem num período em que organiza as peças do tabuleiro para compor uma temporada de guerras e revoluções. E sério: se John Locke é nosso Jesus Cristo, podemos esperar o apocalipse… agora?

Enquanto os heróis estão em transe, saltitando no tempo, o jogo dos vilões parece cada vez mais interessante. Qual é o seu favorito? Flor… Widmore, que até agora assumia o posto de Satã, começa a se revelar estranhamente adorável. Já Donate… Ben, bem, para esse eu não emprestaria dois reais.

Sorte a minha: fiz primeira comunhão e crisma. Caso contrário, ficaria perdidinho. 

PS: Ao contrário do que acontecia na quarta temporada, fico com a impressão de que os posts sobre Lost são um desastre de audiência aqui no blog. Para não desgastar nossa amizade, volto a escrever sobre o assunto no final da temporada. Certo?