Dia: fevereiro 24, 2009

Wrong | Depeche Mode

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Cruel, sombrio, sádico, chame do que quiser. Eu ainda não sei como encarar esta bad trip conduzida por Patrick Daughters (“um dos grandes auteurs da era do YouTube”, diz a Pitchfork). A influência de Karma police é clara, mas Daughters leva a paranoia do vídeo do Radiohead ao limite da tortura psicológica. A música nem é tãããão assustadora, mas a repetição robótica do refrão contribui para o compor o clima de claustrofobia sobre quatro rodas. Um pesadelo. Dos infernos. Estão avisados.

Middle cyclone | Neko Case

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nekocapa1Na capa de Middle cyclone, sexto álbum da carreira, Neko Case está pronta para o ataque: ajoelhada sobre o capô de um carro antigo, descalsa, com um vestidinho preto e uma espada à Kill Bill, ela veste a carapuça de heroína do indie rock. Está bom pra você?

A capa diz (quase) tudo: pelo menos neste disco, as fábulas folk e os lamentos country serão substituídos por um repertório mais amplo de referências, que, até por falta de um rótulo preciso, poderá ser chamado de pop.

Sem medo de se queimar na própria ambição, Case vende este disco como o projeto mais ambicioso da carreira. Aparentemente, é a imagem que fica: o álbum tem 15 faixas, uma delas com 30 minutos de duração, e quase uma dúzia de convidados – entre eles, os colegas do New Pornographers, M. Ward, Calexico e Los Lobos.

Parece um registro inflado e superproduzido, não parece? Mas é uma impressão que passa logo quando notamos que Case trata o formato de “grande álbum” com ironia. Para começar, as participações especiais por pouco não se fazem notar. Muitas das músicas têm dois minutos de duração. E a faixa que dura meia hora é, na verdade, composta ruídos noturnos da fazenda onde o disco foi gravado. Ou seja: uma piscadela de olho.

O mais importante, no caso, é notar que Case cada vez mais se liberta das convenções de determinados gêneros (principalmente das amarras do alt.country) para explorar novos estilos e personas. São raras as cantoras que sabem soar tão atrevidas quanto delicadas (aí basta comparar a faixa de abertura, This tornado loves you, com a seguinte, The next time you say forever). Case nem faz força.

Quando sarcástica, então, não tem pra ninguém. O refrão de People got a lotta nerve é clássico instantâneo. “Sou uma devoradora de homens. Mas ainda assim você fica surpreso quando te como”, ela provoca, numa pérola da antropofagia pop. Na faixa-título, porém, ela soa tão desesperadamente carente quanto uma personagem de Aimee Mann. Um caso extraordinário de dupla personalidade.

O projeto do disco, gravado em quatro estúdios, prevê versatilidade (e, como consequência, uma certa falta de foco). Mas Case não nos decepciona até aí, com uma versão à Motown para Never turn your back on mother Earth, do Sparks, e uma cover assombrada, ao piano, para Don’t forget me, de Harry Nilsson. O resultado soa mais urbano e urgente que o anterior, o também ótimo Fox confessor brings the flood.

Apesar de uma ou outra tentativa estéril de acenar para ídolos como Loretta Lynn e Randy Newman (Magpie to the morning, por exemplo, ainda não desce) , Case acaba demonstrando mais coragem e personalidade que 90% das cantoras e compositoras em ação nos Estados Unidos.

A capa não mente:  Middle cyclone é um álbum imprevisível; e sim, trata-se de uma espada afiada. 

Sexto álbum de Neko Case. 15 faixas, com produção de Neko Case e Darryl Neudorf. Anti Records. 8/10