No line on the horizon | U2
No início dos anos 90, tratar o U2 como a maior banda de rock do planeta provocaria alguma controvérsia. Hoje em dia, soa como uma simples constatação. Ninguém mais parece interessado em dominar um mundo pop cada vez mais segmentado, rarefeito. Talvez o Coldplay, antiquado que é, ainda se importe com esse tipo de desafio.
O U2 pertence a uma outra época, em que o lançamento de um álbum provocava filas em lojas de discos e incontáveis audições coletivas. Eu estive lá. Quando comprei o CD de Zooropa, me vi tão estupidamente feliz quanto uma menina rica no primeiro contato com uma nova bolsa da Louis Vitton. Eu ouvi as faixas de Pop (e depois me decepcionei incrivelmente) como se fizesse parte de um culto planetário.
Para os antigos padrões da indústria fonográfica, uma banda do porte do U2 tinha um papel fundamental. Poucas souberam tão bem se aproveitar do marketing conferido aos discos-evento, aos blockbusters do vinil (depois, do CD). O impacto provocado por álbuns como The Joshua tree e Achtung baby não podem ser sequer imaginados pela geração alfabetizada pelos arquivos zipados do Strokes ou do Arcade Fire. De certa forma, eles abalaram o mundo.
Não é exagero. E ok se, hoje em dia, essa simples ideia ganhe a aparência de uma ficção-científica. Um disco com as pretensões de No line on the horizon soa imediatamente deslocado no nosso panorama. É um ET. Fica até difícil encará-lo ao pé da letra. Parece até uma heresia que um álbum tão im-por-tan-te chegue às nossas vidas via mp3, em downloads de 15 minutos. Cadê os fogos de artifício, minha gente?
Para vocês terem uma ideia do tamanho do bicho, o disco mais recente do Coldplay fica parecendo um workshop de técnicas criativas perto desta dissertação do U2. Em No line on the horizon, os irlandeses cumprem a promessa de retornar à fase mais imaginativa da carreira – aquela interrompida pela simplicidade (às vezes banal, mas sincera) de All that you can’t leave behind (2000) e do frustrante How to dismantle an atomic bomb (2004). É tudo isso.
Daí que o álbum experimenta com eletrônica, tenta arranjos de guitarra mais quebradiços e investe em um pop rock atmosférico que lembra tanto as estruturas de Zooropa quanto o ambient rock de Brian Eno. Nada disso soará como novidade para o antigo fã da banda. A diferença, aqui, está no verniz globalizado do projeto, gravado em vários estúdios (no Marrocos, em Londres, Nova York, Irlanda e Hanover) e com versos que evocam paisagens do Líbano, da África e de Paris.
A banda flutua sobre um planeta de fronteiras apagadas, e, musicalmente, se beneficia desse transe cultural. Num mexidão de ritmos que aponta diretamente para Achtung baby, o disco se inspira em ritmos orientais logo na faixa-título – que, como Mysterious ways, é conduzida por uma mulher que transforma radicalmente o ponto de vista do narrador, mas agora sob melodia de blues à Rattle and rum.
Se o curto-circuito de Achtung baby refletia as transformações sofridas pela Europa com a queda do Muro de Berlim, No line on the horizon tenta abraçar a nossa indefinição contemporânea. Não é que caia do cavalo (já que a ambição é imensa), mas o álbum só consegue sugerir algumas questões e cenários, sem paciência para um discurso mais contundente sobre o tema.
A maior dificuldade, para o U2 do século 21, é aliar o apelo comercial dos dois álbuns anteriores com esse espírito globetrotter. O disco fica no meio dessa estrada, tomado por canções de amor e hinos de estádio. Em alguns momentos, chega perto das baladas épicas do Coldplay (como em Breathe, levada ao piano). Um esforço compreensível: segurar o posto de maior banda do mundo, hoje em dia, requer trabalho dobrado e um punhado de concessões.
Outra via crúcis para Bono e cia é soar atual sem perder certas marcas imediatamente associadas à banda. Isso explica o clima de messianismo que encobre faixas como Stand up comedy (“Deus é amor. Vamos lá, defendam o seu amor”, convoca o vocalista) e Magnificent (“Apenas o amor une nossos corações”, diz a letra). Aí o U2 se afirma como uma espécie de “banda oficial para a humanidade”, com recados construtivos para o bem-estar do planeta. (Um porre, em resumo)
Essa carolice faz do disco um arranha-céu um tanto quanto oco, sem a ironia de Achtung baby e cheio de intenções nobres – menos o retrato do planeta em 2009, mais o espelho para quatro senhores com uma agenda carregada de compromissos políticos.
Os momentos mais espontâneos do álbum, por isso, são as narrativas de dramas urbanos (que, mais uma vez, revelam a influência de Lou Reed no trabalho da banda). Unknown caller, por exemplo, encena uma madrugada solitária, angustiante. “Dirigi para a cena do acidente. E sentei lá, esperando por mim”, canta Bono, bastante convincente. Já Cedars of Lebanon fecha o disco num tom rancoroso: “Esse mundo de merda às vezes produz uma rosa”, avisa o narrador, um repórter de guerra abalado por uma separação.
Sempre imaginei que, caso acertasse as contas com o cronista que existe dentro dele, Bono gravaria um álbum do U2 verdadeiramente novo. Em No line on the horizon, o talento começa a se revelar. Mas é pouco para um disco tão desfocado, tão indeciso (o single, Get on your boots, entrega logo de cara que a banda mal sabe para onde ir – e os versos serelepes, otimistas, são apenas risíveis).
Nada que tire deles o status de maiores do planeta, entretanto. Chris Martin vai morrer de inveja. Já o resto do mundo pop vai seguir vivendo como quem retoma as atividades diárias depois de ter assistido a um espetáculo de luzes, cores, discursos eloquentes e, bem, alguma música.
Décimo segundo álbum do U2. 11 faixas, com produção de Brian Eno, Daniel Lanois e Steve Lillywhite. Interscope. 6/10
fevereiro 19, 2009 às 11:28 pm
Belo (e grande) texto Tiago…
Sou grande fã do U2, encaro esse CD como uma nova tentativa de virada, tentativa, pois o U2 virou um elefante branco (no bom sentido, se é que existe), e acho esse album uma bela tentativa.
Não é um album de fácil audição, portanto já é um bom começo… Acho que eles estão no caminho certo. Envelhecendo, ao menos, com diginidade.
fevereiro 19, 2009 às 11:33 pm
Também acho que estão envelhecendo com dignidade.
Foi mal pelo tamanho do texto. Este blog continua um péssimo exemplo nesse aspecto, hehe.
fevereiro 20, 2009 às 2:58 am
O texto defende bem a banda, mas o que você acha interessante – o fato da banda ser “antiquada”, resumindo – é justamente o que me desinteressa.
Se eu tivesse conhecido o U2 na época do Joshua Tree, quem sabe…
fevereiro 20, 2009 às 2:59 am
Ah, Tiago, pelamordedeus, demorou pra você desabilitar esses SnapShots! Isso atrapalha na hora de clicar em qualquer link!
fevereiro 20, 2009 às 2:37 pm
Diego, não acho isso especialmente “interessante”. Só vejo como um fato, uma característica, uma curiosidade, enfim.
fevereiro 20, 2009 às 5:24 pm
Não vejo esse disco de forma tão otimista quanto você Tiago. Pra mim, o U2 virou um grande elefante branco depois de Achtung Baby, e de lá pra cá tenta evocar esse espírito fragmentado, mas não conseguiu. Embora eu admita que All That You Can’t Leave Behind é sensacional. Mas, por enquanto, eu não fiquei muito convencido com esse disco não.
fevereiro 20, 2009 às 5:50 pm
Também não acho tão bom, Filipe. Mas não vejo como um desastre não.
fevereiro 21, 2009 às 2:22 pm
Putz… Vou ter que me retratar…
É impressionante como o U2 impregna!!!
Já estou achando que eles conseguiram de novo…
fevereiro 21, 2009 às 4:18 pm
Você não está sozinho, Marcus. O disco está sendo bastante elogiado (se bem que, nesse caso, muitos dos elogios vêm embutidos no marketing).
fevereiro 22, 2009 às 8:38 pm
Para mim o melhor disco da banda desde o Archtung Baby.
Bono abandona o vocal R&B do ultimo album, ele que foi o destaque no ultimo album da lugar a um disco mais criativo nas composições e com mais produção, a cozinha soa mais setentista apesar do namoro com a musica eletronica a bateria funk do Archtung esta de volta em varias faixas. Os climas de Eno ambientam uma trilha sonora soturna, angustiante mas bela. Com boa vontade podemos ver um pouco da influência de Jimmy Page na guitarra do Edge, quanto ao White Stripes, alarme falso graças a Deus, a formula dessa banda já deu o que tinha que dar.
Obs: Ainda acho o álbum POP um injustiçado, para mim ele esta acima dos dois posteriores a ele.
fevereiro 22, 2009 às 11:40 pm
Pra mim o top U2 fica assim:
1. Achtung baby
2. Joshua tree
3. Zooropa
4. The unforgettable fire
5. War
6. All that you can’t leave behind
7. Boy
8. Rattle and rum
9. No line on the horizon
10. Pop
11. October
12. How to dismantle an atomic bomb
fevereiro 23, 2009 às 3:59 pm
Tiago, parabéns pelo texto! Não concordo com todo ele, mas sua análise é muito bem fundamentada. Adorei “No line on the horizon”, há quatro dias só ouço ele e não vejo a hora de ter comigo o cd original, encomendado há 1 semana. Escrevi um texto sobre ele também, mas bem elogioso hehe Um abraço!
fevereiro 23, 2009 às 10:06 pm
Valeu, Rafael. Vou ler o seu.
fevereiro 24, 2009 às 1:27 pm
Tiago,
Dá uma olhada na musica “breathe” ao vivo:
Realmente é muito cedo para tirar conclusões sobre esse disco…
Abraços.
março 1, 2009 às 11:42 am
Acho que o albun novo traz um apanhado de coisas do anos 80 ate os dias atuais, o u2 se reinventa a cada disco
e isso sem perder a magia que so eles tem. pois quem tem um guitarista e um bono nao precisa mostar muita coisa. em um mercado cheio de enlatados comestives feito pelo EUA tipo brithney sei la e tanto lixo.
so nao concordo que o album vertigo seja um fiasco como dis o texto, respeito a opiniao mas se fala isso e porque nao entendeu o que a banda quiz dizer.
o u2 so tem um fiasco o pop por outro lado e um disco muito bem tocado, com baixo de sintetizadores e outras parafernalhas. o u2 se diferencia de qualquer coisa dos dias atuais ainda teremos que ingulir eles por muito tempo
graças a deus. e como diz a musica wak on olhar pra frente.
março 1, 2009 às 6:40 pm
a qulidade das letras e do som dessas novas musicas sao impressionantes exceto a “fez_being born” essa é sem graça mesmo. O disco vai fazer sucesso, mas uma besteira que estou cansado de ouvir é que esse cd é o melhor desde “Archtung Baby” porque o “All that you can’t leave behind” esta entre os melhores que a banda ja fez, nao podemos dizer isso ate ver o impacto que essas musicas terao no publico. Tambem nao sei porque falam mal do “How to dismantle an atomic bomb” é um album de qualidade com muitas musicas de sucesso. Os albuns ruins do u2 são:”zooropa que so tem a STAY”, “pop que so tem a discotheque” e “the unforgetable fire” nao gosto de julgar os discos “october” e “war”, pois a banda era nova e inesperiente. tenho 17 anos e comecei a curtir u2 no album de 2000 entao ja os acompanho a uma decada ou mais (ja que meu pai sempre ouviu eles) e essa foi a unica decada que o u2 nao lançou nehuma porcaria foram 3 discos atualizados de qualidadealem de “the saints are coming” e “window in the skies”, isso prova que eles nao querem se manter como os melhores mas sim que estao se superando e evoluindo ainda mais essa é minha opiniao!
março 1, 2009 às 6:40 pm
a qulidade das letras e do som dessas novas musicas sao impressionantes exceto a “fez_being born” essa é sem graça mesmo. O disco vai fazer sucesso, mas uma besteira que estou cansado de ouvir é que esse cd é o melhor desde “Archtung Baby” porque o “All that you can’t leave behind” esta entre os melhores que a banda ja fez, nao podemos dizer isso ate ver o impacto que essas musicas terao no publico. Tambem nao sei porque falam mal do “How to dismantle an atomic bomb” é um album de qualidade com muitas musicas de sucesso. Os albuns ruins do u2 são:”zooropa que so tem a STAY”, “pop que so tem a discotheque” e “the unforgetable fire” nao gosto de julgar os discos “october” e “war”, pois a banda era nova e inesperiente. tenho 17 anos e comecei a curtir u2 no album de 2000 entao ja os acompanho a uma decada ou mais (ja que meu pai sempre ouviu eles) e essa foi a unica decada que o u2 nao lançou nehuma porcaria foram 3 discos atualizados de qualidadealem de “the saints are coming” e “window in the skies”, isso prova que eles nao querem se manter como os melhores mas sim que estao se superando e evoluindo ainda mais essa é minha opiniao!
março 2, 2009 às 2:14 pm
Matheus, acho que você deveria ouvir o Zooropa um pouco melhor: Stay, na verdade, é a faixa mais convencional do disco. Tente “Some days are better than others”, “Numb”, “Lemon” e “Babyface”, todas ótimas.
Tarbus, o melhor seria dizer que o U2 “tenta se reinventar” a cada disco. Isso é fato. Se eles conseguem ou não, é uma história diferente…
março 3, 2009 às 12:57 pm
Tiago, ouvi o zooropa de novo como tantas outas vezes e essas musicas para mim estao entre medianas e boas, ainda acho que o zooropa esta numa posição muito alta no seu ranking mas gosto é gosto! ah, se voce tiver alguma duvida que o no “line on the horizon” ira fazer sucesso ouça de novo (breathe, no line on the horizon, unknow caller, magnificent, ill go crazy if i dont go crazy tonight, stand up comedy alem de get on your boots) todas muito superiores a qualquer outra coisa que se ouve no radio hoje em dia. Quando ouvi o disco a primeira vez pensei “e é só?” achei que iria ouvir uma coisa totalmente nova, um novo estilo de rock, me decepcionei, porem todas as musicas do cd sao boas e muitas vao tocar no radio. Quem sabe daqui a 4 anos no proximo album o u2 consiga se reinventar realmente e nao apenas ser um pouco superior aos outros!
março 3, 2009 às 7:28 pm
Zooropa >>>>>>>>>>> No line on the horizon
Agora, estou quase concordando com você nessa história de que U2 é superior a quase tudo que toca nas rádios hoje. É que sou obrigado a escutar rádio. E é um horror.
abril 9, 2009 às 10:49 pm
[…] visão wikipediana sobre o álbum; O site oficial do U2; Análise do blog Meu Nome Não é Superoito; Mais informações no site […]
junho 26, 2009 às 5:22 am
Não sei se sou louco, mas entre meus amigos que curtem U2 e algumas coisas que leio na Net, ninguem curte musicas como Love n peace or else e Walk on, respectivamente de How to… e All that… , albuns tambem muito criticados, acho estas musicas muito boas e indo mais fundo, são as imagens dos albuns. Sou louco mesmo? Que acham?
dezembro 15, 2009 às 3:18 pm
Achei interessante o CD, pq eles tentaram fazer algo diferente (denovo?), e quase conseguiram, se vc pegar uma banda de rock/pop como eles, hoje em dia, nenhuma tem a criativade ou a ousadia de fazer o que eles fizeram. Sim acho que esse CD nao eh um desastre e como disseram, empreguina, ganhei o CD novo de amigo secreto a 2 dias atras e não consigo parar de escutar, tem musicas de todo tipo nesse CD, e pra quem falou ae que FEZ não tem graça, veja a letra e a melodia, mt bem elaborada a musica … as melhores pra mim eh Magnificent, Stand up comedy e Cedars of Lebanon.
dezembro 15, 2009 às 3:22 pm
A Antes que me esqueça, belo texto!
abril 29, 2010 às 7:05 pm
Realmente muito interessante sua resenha sobre o album, gostei bastante. Eu ja ouvi o album muuuuuuuitas vezes, amei-o no ínicio, quis quebra-lo no meio e voltei a ouvir no fim, é um album diferente…
não sei bem por que ou como, mas eu não consigo defini-lo em “bom” ou “ruim”… quando penso nele, me sinto como se nunca o tivesse escutado… não consigo lembrar de cabeça uma musica dele que tenha mexido comigo… não há nele uma “i will follow”,”gloria”,”sunday bloody sunday”,”bad”,”with or without you”, “until the end of the world”,”stay”,”gone”,”beautiful day”,”vertigo”,”city of blinding lights”… não existe uma musica “forte” nele, que se lembre só de falar no nome do album…
as musicas (a meu ver) tem todas o mesmo impacto… elas são legais, legais de ouvir por ai, escutar pra passar o tempo… mas nada que pareça mudar minha vida como nos outros albuns… os singles são realmente medianos, “get on your boots” não chega a ser uma “vertigo”, e magnificent é simples demais(ok, eu não tenho metade da capacidade suficiente pra escrever uma musica dessa, mas não tem uma musicalidade tão forte a ponto de ficar presa na minha cabeça)…
é um album legal, realmente, mas que ainda não alcança a minha fantástica visão do U2.
julho 19, 2010 às 12:27 pm
PRA MIM O U2 SÓ VAI CONSEGUIR COMPOR OUTRA MUSICA COMO “THE UNFORGETABLE FIRE” DAQUI A CEM ANOS. OUTRO DISCO COMO “WAR” DAQUI A MAIS CEM. E NÃO VEJO NADA DEMAIS EM “ACTUNG BABY” E “JOSHUA TREE”, TALVEZ PORQUE JÁ PASSEI DOS TRINTA E SOU FÃ DESDE OS ANOS 80, ENXERGO A BANDA DIFERENTE DOS FÃS MAIS NOVOS.