Dia: fevereiro 16, 2009

Frost/Nixon

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Frost/Nixon, 2008. De Ron Howard. Com Frank Langella, Michael Sheen, Sam Rockwell, Kevin Bacon e Matthew Macfadyen. 122min. 5.5/10

De 2000 a 2008, Ron Howard filmou uma fábula natalina (O Grinch), o perfil de um gênio esquizofrênico (Uma mente brilhante), a Grande Depressão (Cinderella man), um faroeste (Desaparecidas) e um best seller com pano de fundo religioso (O código Da Vinci). Com bastante esforço, talvez será possível encontrar relações entre os longas do cineasta. Mas acredito que ele queira apenas narrar as “boas histórias” – ou aquilo que toma por “boas histórias”.

Howard não será lembrado por nossos netinhos como um bom cineasta, mas sai-se bem como símbolo da eficiência hollywoodiana. Narrar “boas histórias” de forma correta – eis a especialidade do homem. 

E o que faz uma “boa história”, Ron Howard style? Ela contém um conflito sem muita ambiguidade (a filha sequestrada, a miséria que aflige o homem de bem) e personagens carismáticos (o matemático extraordinário, o detetive interpretado por Tom Hanks). Frost/Nixon também é assim: um drama político de forte potencial simbólico adaptado a uma fórmula simplezinha (mas, repito, eficiente) de cinema de entretenimento.

O duelo entre Richard Nixon – o homem público carrancudo, mas dono de uma retórica assombrosa – e o apresentador de tevê David Frost – o zé-mané expert em futilidades, mas adorável de tão ingênuo – é reduzido por Howard a uma luta de telecatch. Mastigadinho, o drama perde os meios-tons quanto mais se adequa às generalizações típicas do cinema de Howard.

Entre os cinco concorrentes ao Oscar de melhor filme (e aí incluo Quem quer ser um milionário?), talvez seja o mais fluente e divertido. A narrativa é acelerada, mas nunca confusa. A inspiração teatral do roteiro se faz muito pouco visível (ainda assim, o roteiro de Peter Morgan, calcado em diálogos velozes, é prato cheio para os atores) e não há um único detalhe que fuja do padrão de qualidade técnico de um seriado transmitido pela HBO.

É um daqueles filmes que faz as pessoas afirmarem coisas como “nem vi o tempo passar!”. Ron Howard sabe trabalhar a arquitetura do entretenimento palatável. Frost/Nixon é todo assim, agradabilíssimo. Cerradas as cortinas, é exatamente com isso que ficamos: dois grandes personagens pelo preço de uma matinê.

Epilepsy is dancing | Antony and the Johnsons

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Eu juro que ainda não sabia: para se recuperar do baque de Speed Racer, os irmãos Wachowski não se afogaram em whisky e gibis – eles dirigiram um clipe do Antony and the Johnsons. Quem imaginaria? Tal como Matrix, o vídeo lida com realidades paralelas, mas o que resulta do transe é o produto audiovisual mais escancaradamente homoerótico desde… Mary Poppins?

Uma loucura.

No happening campestre com um quê de Cirque du soleil, Boy Ge… Antony veste-se com a melhor fantasia de Björk e canta borboletas (meigo isso). Com os Wachowski, participaram do clipe os pintores Tino Rodriguez e Virgo Paraiso, além do coreógrafo Sean Dorsey e da atriz Johanna Constanine. Praticamente uma instalação.

Pra mim, ficou bastante claro que Speed Racer era um filme gay. Ou não era?

(Dica do Diego)

2 ou 3 parágrafos | Coraline e o mundo secreto

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Nos primeiros trinta e tantos minutos, me parece uma obra-prima: Coraline (7/10) é uma animação stop-motion tão obsessivamente detalhista (até o cabelo dos personagens sugere um trabalho de criação de uns cinquenta anos) que pode ser admirada apenas como uma espécie de delírio surrealista, uma fantástica fábrica de chocolate meio-amargo, sem que dediquemos excessiva atenção à trama. Isto é: daria um curta-metragem extraordinário.

Como um longa de 1h40 de duração, o impacto visual é minimizado. Depois dos primeiros trinta e tantos minutos, a trama pesa sobre o projeto e passamos a sentir falta de Tim Burton – que, ao contrário de O estranho mundo de Jack e James e o pessego gigante, desta vez deixou o diretor Henry Selick na mão. Mais que tudo, falta ritmo à narrativa – quando os mistérios do “mundo secreto” de Coraline começam a se resolver, o que era fascinante se revela um conto de fadas bem mais corriqueiro do que imaginávamos. 

De qualquer forma, não dá para desconsiderar o trabalho (e entenda trabalho como algo penoso) de Selick, que encontra frescor numa técnica antiga de animação – o resultado é mais deslumbrante que muito brinquedinho da era digital.