Dia: fevereiro 2, 2009
I think we’re gonna need a bigger boat | The BPA
Norman Cook tem 45 anos de idade. Devia ter aprendido que, no pop, existe um preço a ser pago por piada repetida.
De qualquer forma, os corajosos são recompensados, não são? E Cook é um desses que dão a cara a tapa, vão para a galera, gravam DVD no Brasil, usam pseudônimos como Pizzaman e, quando as coisas não dão certo, retornam do zero, mui modestamente. Quer dizer: isso se contarmos The Brighton Port Authority (ou The BPA) como uma tentativa de reinvenção do funk-soul-brotha.
(No fundo, é piada repetida mesmo).
Descobri há uns três minutos e meio que, para esquentar o trio elétrico, Cook criou uma historinha fictícia como embalagem para o BPA. É mais ou menos assim: autoridades de Brighton encontraram num galpão abandonado uma coleção de antigas fitas-cassete que cairiam no esquecimento se o-seu-o-nosso Fatboy Slim não tivesse recuperado as “preciosidades” em um CD chamado I think we’re gonna need a bigger boat.
Ok, divertidinho, mas me explica um negócio: por que alguém iria se interessar terrivelmente por uma demo de Pete York? E quem é Connan Hosford mesmo?
Está na cara que The BPA é um pseudônimo para Fatboy Slim (o que não deixa de ser engraçado, caso para terapia, múltiplas personalidades e tal). Não é a primeira vez que Cook convida gente conhecida para dar molho ao pop eletrônico que ele cozinha desde meados dos anos 90. Substitua Macy Gray por Martha Wainwright e você tem Spade, por exemplo.
Mas algo mudou. Algo. Pequeno. Mas algo. A diferença é que, talvez entusiasmado com a possibilidade de um retorno triunfal às paradas de sucesso (ou desconfiado que o público estaria cansado do nome Fatboy Slim, e não da música em si – santa inocência), Cook compôs o álbum escancaradamente pop, sem culpa e sem-noção, que poderia muito bem ter dado sequência a You’ve come a long way, baby (1998).
É um bom disco, principalmente para quem sempre ouviu os álbuns do Fatboy Slim pulando as partes aborrecidas (isto é: as jams de big beats, em que ele tentava, sem sucesso, concorrer com o Chemical Brothers). Imaginem aí um álbum inteirinho de canções na linha de Praise you.
The BPA é isto: um refrão repetido num loop infinito de satisfação instantânea, com efeitos engraçadinhos e um punhado de referências de rock setentista (o disco abre com Iggy Pop e quase fecha com David Byrne, com uma ou duas baladinhas soul no meio).
A escolha de Byrne para o single de apresentação, Toe jam, entra na lista de ideias picaretas e oportunas de Cook: numa época em que 9 entre 10 bandas são influenciadas por Talking Heads, incluir o próprio Byrne num mix pode soar como uma grande obviedade. Mas é essa a porta de entrada para o disco: Cook, o rei das obviedades.
Ele merece outra chance (e a música com Pete York nem é tão desagradável assim). E vai ter videoclipe dirigido pelo Spike Jonze, vai?
Primeiro álbum do Brighton Port Authority. 12 faixas, com produção de Norman Cook. Southern Fried. 6/10
Lost | Jughead
Há coisas mais importantes acontecendo, tá (o fim do mundo, por exemplo). Mas um pulinho na ilha da fantasia, pode ser?
Se a quinta temporada de Lost abriu num empurrão, o terceiro episódio segue o ritmo do anterior. Para que flashbacks (e por aqui, admito, eles começam a fazer falta) quando os personagens podem transportam ao passado quando os roteiristas bem entendem?
Cada vez mais, fica a impressão de que um capítulo de Lost não sobrevive sem a revelação de uma ou duas surpresas importantes para satisfazer a curiosidade dos fãs. Por enquanto, dá conta da tarefa: saber que Widmore já esteve na ilha pode não representar nenhum grande susto, mas fica claro que a maior diversão dos roteiristas é pregar esse tipo de peça no espectador.
Não faço ideia se, daqui a três ou quatro capítulos, esse formato frágil cairá por terra. A verdade é que a série não consegue (ou não quer) mais se divertir com o perfil psicológico dos personagens. A relação entre Desmond e o filho (chamado Charlie) é atropelada pela ação. Aguardo por um episódio decente sobre Richard Alpert, o ladrão de cenas desta temporada. E o Ben, que deveria estar no centro desta história, onde foi parar?
A ordem é esta: preencher lacunas da narrativa, para que ninguém sinta falta de explicações quando o final da série chegar. É assim desde a quarta temporada. Só espero que consigam aliar esse estrutura meio mecânica e matemática aos dramas dos personagens. Caso contrário, será só mais um jogo de videogame (e, aí, o jeito será uma esticadinha no caloroso True blood).