Dia: dezembro 28, 2008

Merriweather Post Pavilion | Animal Collective

Postado em Atualizado em

animalPára tudo. Sério isso? Verdade? O melhor álbum de 2009? Mas jáááááááááá?

Não estou exagerando (se bem que, ok!, esse tipo de entusiasmo é sempre um perigo). Panda Bear, o mais paparicado do trio, já afirmou que trata-se de “álbum mais bem gravado” da banda. É pouco.

Se os discos anteriores eram maravilhas psicodélicas (continuo ouvindo Feels três vezes ao dia), o novo tem o peso e a relevância de uma tardia carta de intenções, de um resumo de carreira e, simultaneamente, de um largo (e, ao mesmo tempo, coerente) passo a frente. O Animal Collective fecha o foco para enxergar longe. E isso é ouro, meus amigos.

Mesmo quem tem asco do trio (conheço uns três) deveria pensar três vezes diante de um disco com… uma capa que deixa a gente zonzo, meu deus!

Sem gozações ou complicações: é, por qualquer ângulo, de qualquer perspectiva, da cabeça aos pés, o maior álbum da banda. E tenho dito. Se eu fosse você, o aceitaria como um estranho (e duradouro) presente de Natal.  

Sei que este cedezinho não deveria ter me surpreendido desta forma. Disco após disco, o Animal Collective estilhaça a própria cartilha. Contra o rótulo de “freak folk”, trocaram os violões por um trator de ruídos duros (tente ouvir Strawberry jam em volume máximo sem dar entrada na ala de emergência do hospital). Contra a simplificação de quem os associam apenas ao espírito criativo das crianças, espelharam as responsabilidades da vida adulta em versos cada vez menos inocentes. Nesse caminho torto, Merriweather deveria parecer uma outra curva acentuada. Deveria.

Mas o que espanta aqui é o rigor como eles conseguem agregar, dentro de uma mesma atmosfera, muitas das experiências que apareceram nos discos anteriores – e ainda assim soar renovados, já que acentuam as estruturas de dance music como forte sustentação para o álbum.

Desde os primeiros discos (e com mais clareza em Person pitch, de Panda Bear), o Animal Collective está mais próximo da eletrônica que do rock. Mesmo quando picotava e colava acordes de violão. Em Merriweather, esse estilo chega a um estado de graça. 

Está tudo aqui, em versões que parecem até definitivas. Na primeira faixa, In the flowers, Avey Tare identifica nos movimentos de um dançarino uma experiência mística (“Se eu pudesse abandonar meu corpo por apenas uma noite”, deseja o narrador). A melodia, lentamente, vai do ambient ao caos. Eis que papai Panda Bear, mais caseiro que nunca, irrompe na linda My girls, com uma síntese para os mantras domésticos de Person pitch:  “Não me preocupo com bens materiais. Tudo o que quero é um lar para minhas meninas”, repete, repete, e repete.

Tão cedo, o principal tema do álbum está na mesa: contra a rotina mecânica de um mundo sem alma, a banda encontra refúgio no transe espiritual (ou lisérgico), no conforto do lar e na formação de uma comunidade de amigos. De certa forma, eles continuam a atualizar uma antiga filosofia hippie. Mas o interessante no Animal Collective (e neste disco em especial) é como, nessa fuga, ele constrói e habita um novo espaço musical.

Daí em diante, o álbum segue numa espiral de êxtase e desconforto. “Você também está assustado?”, eles desafiam, no corinho de Also frightened. Em Daily routine, Panda Bear lista atividades do cotidiano. E a delicada No more running parece um aceno distante para No surprises, do Radiohead: e um bilhete de despedida para um planeta sem eixo.

Tão agoniado e às vezes tão suave, como eles conseguem?

E esqueci de Bluish, a canção mais acessível que eles já gravaram? E Brothersport, a canção-testamento, e com ecos de tropicália? De tão rico em camadas e intenções, Merriweather Post Pavilion (o título vem de um tradicional palco ao ar livre em Columbia onde, nos anos 70, imperava o clima de jams comunitárias) exige diferentes interpretações – e aposto que haverá muita gente disposta ao desafio. Por aqui, e por enquanto, soa como uma verdadeira, sincera adaptação da psicodelia dos anos 60 aos ares confusos do século 21.

Nada pouco para um simples álbum de rock. 2009, desculpa aí, acabou de acabar.

Oitavo álbum do Animal Collective. 11 faixas, com produção de Ben Allen. Domino Records. 9/10

PS: Amanhã viajo para passar o ano novo no Rio de Janeiro. Enquanto dou uns mergulhos, o blog fica parado até semana que vem. Vocês nem vão sentir falta que eu sei. Desejo pra vocês, e pra mim também, um 2009 de boas vibrações. E que (façam figa!) eu consiga comprar uma estante pra sala ainda no primeiro semestre. Até!