Dia: dezembro 26, 2008

Get guilty | A.C. Newman

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newmanImagino que, nesta altura, Carl Newman não queira mais nada da vida. Comandar uma superbanda elogiadíssima como o New Pornographers, trocar idéias com a Neko Case, ser eleito o novo rei do power pop, casar-se com a diretora de marketing da Matador Records… O que está faltando? Plantar uma árvore?

Ok, brincadeirinha. O dia-a-dia de um homem bem-sucedido de 40 anos deve reservar (ou pelo menos deveria) angústias mais complexas que a decisão de vender o carro para financiar um apartamento.

Ainda assim, o novo álbum solo de Newman não deixa transparecer esse suposto dark side of the living-room. Se compararmos ao anterior, o entristecido The slow wonder, este sugere serenidade, paz de espírito, um tantinho de saudade dos bons tempos (quem não sente?) e o clima de um passeio no parque com o labrador.

Ou, para os mais cruéis, trata-se de um daqueles álbuns adoráveis-porém-desimportantes que chamam de ‘exercício de estilo’. Mas seria muita maldade com um dos tiozinhos mais simpáticos do indie rock.

Cada vez mais, Newman encurta as distâncias entre a carreira solo e o repertório do New Pornographers. Se o tom introspectivo de Challengers, do Pornographers, parecia uma seqüência do primeiro disco solo de Newman, Get guilty é, pelo menos em grande parte, um retorno ao power pop soltinho de Twin cinema. Cada faixa ganha um refrão gordo, um coro alegre e os versos absurdos (e abstratos) que o compositor escreve até dormindo. Tudo extremamente agradável.

E, quando faz o que sabe, Newman até aperfeiçoa a própria técnica, como na genial Submarines of Stockholm.   

A diferença está nas (poucas) faixas que tentam um tipo de sentimentalismo confessional, meio sem jeito (mas convincente), um auto-retrato que rende declarações de amor como All of my days and all of my days off, composta para a digníssima esposa. Que é uma canção bonita, da forma como as baladas mais aguadas de Paul McCartney são bonitas. 

“Agora te entrego todos os meus dias, e todos os meus dias de folga”, o gentleman promete, como uma espécie de compromisso apaixonado de casamento. É uma canção infinitamente fofa. E, mesmo que Newman não queira, também um tanto assustadora.   

Uma vida mais ou menos ordinária, enfim.     

Segundo álbum de A.C. Newman. 12 faixas, com produção de Phil Palazzolo. Matador Records. 6.5/10