Dia: dezembro 10, 2008
Capitu
Capitu entrou no ar e alguém gritou aqui na sala: “presta atenção que cai no vestibular!” Imagino o espanto dos secundaristas que pretendem tomar essa adaptação de Dom Casmurro como material didático. Uma ópera barroca, professora? Mas e o realismo literário?
Se fosse uma questão de vestibular, Capitu seria um daqueles truques contra aluno desatento. Uma série de tevê “a partir de Machado de Assis”, no caso, significa “mais um delírio de Luiz Fernando Carvalho”.
Não sei ainda se gosto da idéia, mas a mão pesada do diretor (ou, de uma outra perspectiva, sua autoralidade) continua a transformar obras-primas em veículos para as próprias obsessões.
Capitu pode até dialogar com Machado (ainda que, relendo trechos do livro, não consegui ver nada excessivamente rebuscado no estilo do escritor), na medida em que tenta ilustrar o pesadelo de Bentinho com todos os recursos visuais a que tem direito (são muitos, vários herdados do teatro). Só que parece conversar mais intimamente com outras adaptações de Luiz Fernando: Hoje é dia de Maria e A pedra do reino.
Sem problemas. Quando a série terminar (e se eu sobreviver a ela), voltamos ao assunto. O que me incomoda por enquanto é o selo de qualidade que vem grudado no DNA de qualquer projeto do diretor. A consagração vem sempre antes da exibição. A simples existência de uma série como esta numa tevê aberta provoca elogios por antecipação.
É como se esperássemos outra coisa de Luiz Fernando Caravalho. Ou como se os executivos da Globo se surpreendesse com cada nova “ousadia” do diretor. Há quem faça pouco caso do público que não consegue “entender” esse tipo de experiência televisiva. Não sei se é tudo assim tão simples (ainda mais hoje, com a popularização da tevê por assinatura).
Que comentário vale mais: o do sujeito que se deslumbra com o rococó “criativo” de Capitu ou o de quem vê na série a mera repetição de um estilo um tanto quanto esnobe, sobrecarregado? Eu não sei.
Bem, pelo menos não dá para reclamar de um detalhe: da noite para o dia, a Globo transformou o Beirut em sensação nacional. A música se chama Elephant gun. E vale pelo episódio inteiro.