Festival de Brasília | Encerramento e apostas
O júri do Festival de Brasília ficou trancado durante toda a madrugada para escolher os vencedores da edição. Fiquei sabendo que o encontro não resultou em bate-boca, mas numa negociação demorada. “E o festival nem estava tão complexo assim”, ouvi de um jurado. Posso imaginar a dificuldade.
Numa mostra em que os integrantes do júri provocaram mais interesse que os cineastas em competição (e aposto que Vladimir Carvalho, Murilo Salles, Sandra Corveloni, Sérgio Machado, Carlos Reichenbach e Maria Flor prefeririam ter passado a semana diante de filmes mais fortes), a vitória de Tudo isso me parece um sonho, de Geraldo Sarno, soa bastante provável. Não que me impressione tanto assim (ainda que deva conquistar o apoio apaixonado de muita gente boa), mas é o único na competição que apresenta a assinatura de um autor.
Os prêmios de atuação devem ir para Siri-Ará (o único longa que se assume totalmente como ficção) e Evaldo Mocarzel deve ficar com um prêmio de júri ou até de direção. O sanfoneiros de O milagre de Santa Luzia devem ter mobilizado o júri popular. Por mim, o Candango de melhor filme ficaria com Tudo isso me parece um sonho, um documentário em crise que desagradou o público (mais da metade do Cine abandonou a sala no decorrer das 2h30 de projeção) e encerrou a mostra num estranho anti-clímax.
Quer dizer: estranho não, já que o desfecho foi até coerente com o clima de desânimo que pairou sobre esta edição.
Tudo isso me parece um sonho | Geraldo Sarno | ««
Antes que o classifiquem como obra-prima, vale lembrar que Geraldo Sarno desenvolve há muito tempo (na surdina) o projeto de fazer documentários que desmontam e discutem o processo de criação artística. Nada mais oportuno que iluminar a obra do diretor num momento em que a metalinguagem contamina profundamente o gênero (vide Santiago e Jogo de cena).
Neste caderno de anotações para um filme sobre o general José Ignácio Abreu e Lima (um herói pernambucano esquecido, que lutou ao lado de Simon Bolívar e participou da Revolução Praieira), Sarno filma um ensaio sobre revoluções e movimentos fracassados. Não é à toa que o próprio filme pareça inacabado, indeciso, errado.
Faz sentido. Sem acesso a imagens do general, Sarno coloca em xeque a existência do próprio filme. Isso nas primeiras cenas. Depois decide encenar os momentos derradeiros do personagem, inverter a narrativa num making of, que logo se transforma num documentário-dentro-do-documentário sobre os canaviais pernambucanos. A colagem de idéias poderia se desdobrar infinitamente.
É uma premissa que qualquer cinéfilo ou crítico de cinema compraria de olhos fechados. Mas a experiência de assistir ao filme deixa a sensação de um passeio desgovernado por momentos de grande inspiração e declives que exigem paciência e boa vontade. Há seqüências que valem pelo festival inteiro, como aquela em que uma menina analisa em off a performance desastrosa de Sarno como cortador de cana. Só que aí esbarramos em entrevistas didáticas, intermináveis, e a coisa desanda.
O ritmo esparramado de Sarno – que leva os entrevistados para a rua e, nos melhores momentos, prefere filmar o mundo que se movimenta ao redor deles – dificulta o acesso à narrativa. Mas, num diálogo inusitado com Filmefobia, o formato do longa se constrói com o acúmulo de tentativas. Nem sempre faz justiça à ambição, mas é, antes de tudo, um filme de cinema – artigo em falta neste festival.
novembro 25, 2008 às 7:17 pm
Linka meu blog aí, mala.
novembro 25, 2008 às 8:29 pm
Tá lá, Diego.