Dia: novembro 3, 2008
Um ano
O blog, este rapagão, fez ontem um ano de vida e eu nem percebi. Que coisa. Que gafe. Que falta de cortesia. Foi mal aí, filho.
Parabéns, se cuida, é big, é big, você é o cara, não saia no sereno, deus te guarde e te acompanhe, cuide dos estudos, não se iluda com qualquer rabo de saia, deixe que ela se apaixone primeiro, faça vestibular, não tranque o curso para tentar a carreira de modelo, esqueça Comunicação, prefira as universidades públicas (no período de greve, faça viagens curtas), não desista de dirigir no primeiro acidente de trânsito, conheça o Rio de Janeiro (mas nunca no verão), comece pelos Beatles e por David Bowie, cuide dos dentes, durma oito horas por dia, evite gorduras, não se deixe levar pela nostalgia, faça polichinelos.
E não desapareça.
Little Joy | Little Joy
A melhor definição para o projeto de Rodrigo Amarante (Los Hermanos) com Fabrizio Moretti (Strokes) é o nome da banda: uma alegriazinha.
Quando o trio (formado ainda por Binki Shapiro) decidiu se batizar com o nome de um bar de Los Angeles, acertou em cheio: mesmo que não queira, parece ostentar um certo orgulho de ser pequeno. De uma banda chamada Little Joy, não esperamos muito além de leveza e despretensão – e cá estamos num típico resort para artistas pop em férias.
Mas não é só isso. Se é esse o formato escolhido (indie, desencanado, sem ambições de faturar alto na bilheteria ou de “começar de novo”), então Little Joy supera expectativas. É quase uma pequena grande banda (e acredito que esse é o maior elogio desejado por eles), que parece ter nascido do pacto de desenhar uma ponte aérea musical entre Rio e Los Angeles. Nem lá nem cá, a banda se move num pop global que, com influências tanto de reggae quanto de standards norte-americanos, combina com o paladar de um Vampire Weekend, de um Ra Ra Riot.
Como nos projetos de Albert Hammond Jr e de Marcelo Camelo, dá para notar o rescaldo das bandas-matrizes. Evaporar, a única em português, tem a atmosfera mansa de 4, do Los Hermanos (e, sutil, é uma bela surpresa para confundir quem esperava de Amarante algo muito diferente do Camelo solo). Já Keep me in mind lembra a estrutura de uma canção do Strokes, com guitarras tão nervosinhas quanto econômicas (e o curioso aí é como Amarante sobrepõe uma típica melodia do Los Hermanos a essa marca registrada).
Sem negar o passado (nem o deles, nem o da música pop), o Little Joy usa peças conhecidas para formar um painel particular. O clima vintage que paira sobre a gravação é ainda mais pesado que o do primeiro álbum do Strokes, com o cuidado de não agigantar os arranjos e as interpretações das canções. É essa obsessão minimalista que ressalta os detalhes de cada faixa: como os sopros em Brand new start, com cara de single, ou o corinho na abertura de Play the part.
Novato precavido, o Little Joy não dá grandes saltos (e, como band leader lânguido, com um inglês impecável, Amarante vai longe especialmente na ótima Shoulder to shoulder). O que ainda não tem – e talvez nem queira ter – é uma marca capaz de espantar de vez a impressão de que estamos ouvindo apenas um divertido brainstorming entre amigos famosos. Um prazerzinho dos bons – mas que, por enquanto, não provoca frio na barriga.
Primeiro álbum do Little Joy. 11 faixas, com produção de Noah Georgeson. Rough Trade. **