Dia: outubro 22, 2008
Diário de SP | Na Mostra (5)
1 | E os monitores da Mostra, que só conseguem assistir a curtos pedaços de cada filme? “Vejo o iniciozinho. Ou o finalzinho. Nunca dá pra ver tudo”, um deles comentou. O mais pitoresco é que, ainda assim, eles arriscam recomendações. “O começo de Sonata de Tóquio é uma coisa”, avisou a do cabelo encaracolado. No que eu me intrometi: “É que você não viu o fim.”
2 | Mas o mais divertido, de longe-longe, são as legendas de filmes portugueses. Em bom português de Portugal, cabrão.
3 | Pronto: conheci o Michel e o Bruno, reecontrei o Diego e o Chico, acenei duas vezes pro Filipe e uma pro irmão dele, o Guilherme. Vi de longe algumas pessoas que acredito ser quem penso que são, mas ainda não tenho certeza. De qualquer forma, tutti buona gente.
4 | Aliás, o que mais tem na Mostra é filme sobre família. O Grande Tema. Principalmente sobre aquela que todos nós amamos tanto: a máfia, que outra?
5 | Hoje os filmes são todos dignos de consideração (o dia mais proveitoso da Mostra, antes tarde que nunca), mas os comentários são de classe econômica – que está tarde e não sou de ferro.
6 | Aquele querido mês de agosto | Miguel Gomes | ****
Um musical. Uma história de amor. Um retrato para um lugar. Uma gozação. Um hit brega. Um longa-metragem de baixo orçamento. Um ensaio metalingüístico. Um making of. Uma comédia popular. E um maravilhoso documentário sobre coisa alguma.
7 | Horas de verão | Olivier Assayas | ***
Depois de dar a volta ao mundo, Assayas convida os globetrotter de filmes como Boarding gate e Clean para um encontro de família. O planeta continua confuso, as fronteiras permanecem borradas, mas o que está em jogo aqui é o rastro das raízes. Hoje, o que fazemos com nossas origens? É possível simplesmente deletá-las? Elas sobrevivem de alguma forma? A resposta é um lamento discreto, uma crônica em tom menor que – e basta olhar com atenção – está à altura dos ótimos filmes recentes do cineasta.
8 | Depois da escola | Antonio Campos | ***
Antes que alguém aponte semelhanças com a juvenília de Gus Van Sant, Antonio Campos encena abertamente esta tragédia estudantil num cinema pós-Elefante (e numa América pós-Columbine). Faz isso bem. Apesar de alguns excessos típicos de primeiros filmes (o quase fetiche dos planos lentos, por exemplo), esta é uma estréia que chuta a porta – e consegue sintonizar com extrema sensibilidade alguns dos dramas de uma geração que parece ainda mais nova e misteriosa que a retratada nos longas de Van Sant. O cineasta compreende a agonia do adolescente que deixa a câmera ligada para capturar imagens verdadeiras – e, enquanto o acompanha, compõe um thriller nada ingênuo.
9 | Sob controle | Jennifer Lynch | **
É tudo o que se espera de um filme dirigido pela filha do homem: um trem-fantasma tenso e perverso, com um quê de cinema noir e outro de fitas de horror. A boa lição aprendida por Jennifer: não fazer concessões, e deixar que a loucura dos personagens devore a trama. Os 15 minutos finais são um teste para os nervos – o restante do filme é um freak show doentio. A América podre da família Lynch como a conhecemos.
10 | Pelo menos para mim, amanhã começa o Tim Festival. A Mostra ficará em segundo plano. Prometo atualizar o blog assim que possível. Não que vocês se importem terrivelmente com isso, certo?